País ou shopping center?
Inconsistente, desnecessariamente agressivo, vazio, oco, vago, intolerante, repressivo e sobretudo moralista, eis como se qualifica o kit-discurso de Geraldo Alckmin, o candidato de plástico, não o "homem de gelo", como o definiu Marcelo Coelho, errando o material pois este na realidade é inorgânico e produzido artificialmente.
Por outro lado, o presidente Lula expressou-se com coerência e consistência, como um político hábil e experiente que, em nenhum momento do debate, subestimou o espectador deixando (como faz o seu opositor) de demonstrar que possui um lado humano, lado humano que em Lula se articula naturalmente e sem constrangimentos ao homem político.
Constrangedor é o adjetivo que cai como uma luva em Alckmin. Ele nos constrange, envergonha, embaraça: será por que, na essência, ele defende o indefensável?
Mas a dimensão humana parece faltar em GA. Não sei. Parece uma gravação. Esse kit-discurso vazio encomendado pela elite conservadora que nos assedia dia e noite na TV aberta, nos grandes jornais e revistas. Aliás, ele nem precisa ir a todos os debates. Realmente. É só mandar um videoteipe. Então se aperta o botão, clic, e lá está o sujeito falando. Vagamente, ocamente. Uma imagem via satélite. Faltando a tridimensão humana: será por que, na essência, ele defende o indefensável?
Privatizações? Alckmin afirmou que não fará nenhuma. Ou as manterá "em suspenso" durante o processo eletivo? Será por isso que o governador eleito Serra "suspendeu" o processo de privatização da Nossa Caixa e do Metrô paulista, este último feito na surdina, abafado pela imprensa até os metroviários paralisarem as operações em atitude de protesto?
Aliás, engrossando o caldo oligárquipo defendido por Alckmin, agora até os banqueiros parecem estar descontentes com Lula, não só por que foram enquadrados na lei de proteção ao consumidor (eles, que apenas queriam ser mantidos acima da lei, do bem e do mal), mas também devido à Resolução do Banco Central no. 3.402, a entrar em vigor a 1º. de janeiro de 2007, que determina que o trabalhador, a partir dessa data, poderá escolher o banco de sua preferência no qual o empregador depositará seu salário, desatrelando assim o contrato de trabalho do empréstimo consignado.
Semana passada, ouvi um estudante de Artes Plásticas comentar com os colegas que votaria em Alckmin porque ele defende seus "interesses". E quais seriam? Quais são os interesses desse jovem paulistano de 18 anos que frequenta uma faculdade cuja mensalidade custa R$ 2 mil, viaja com freqüência para Nova York, passa as férias em Miami e dirige um carro importado? Naturalmente, os do pai do rapazinho, que é empresário, emprega (mal) diretamente dezenas de pessoas e indiretamente (terceiriza) centenas e até milhares, cujos votos, por sua vez, vão na direção dos interesses políticos do patrão.
O que espanta é que esse rapaz "descolou" totalmente a figura do presidente da sua função de chefe da nação, cuja obrigação a priori é defender os interesses da população, pois para isso esta o elege (um sistema é democrático porque confere esse poder à população). "Descolou" a si mesmo da nação, como brasileiro e cidadão, encarando cinicamente as eleições presidenciais em seu país como uma espécie de vale-tudo. Um jogo que se vence a qualquer preço, que irá dar plenos poderes ao agente defensor dos nossos (deles) interesses.
Afinal, Alckmin não é o candidato dos empresários?
Então, descolando o debate da figura dos presidenciáveis, vamos à raiz do problema: dependendo do resultado destas eleições, ou o Brasil se afirma como sociedade, como nação e como país democrático e soberano, ou retrocede e se consolida como um país conservador dirigido pelas elites oligárquicas, um mix de Daslu e Opus Dei (1) - um shopping center cercado de miséria por todos os lados, inclusive o de dentro, que é o lugar do preconceito e do sistema de crenças falsas que constituem a má consciência coletiva, que é todo o conteúdo semântico da campanha alckmista.
(1) Na brilhante definição de Emir Sader, no Blog do Emir , em "O que está em jogo?", 02.10.2006.
Por Márcia Denser - Congresso em Foco, 10/10/2006
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