terça-feira, julho 24, 2007

o que falta para a mídia brasileira é sexo!

Recebi por e-mail um texto interessante, que mostra o ponto de vista de um renomado psiquiatra suíço em relação às últimas do noticiário brasileiro. Sob o formato de matéria jornalística, o texto se apresenta como resultado de uma entrevista com o tal doutor Heinz Von Achlochstrecher. O doutor é fictício e o "nobel de psiquiatria" que ele teria recebido sequer existe, mas o conteúdo do seu discurso é ótimo e a sua argumentação é coerente e faz pensar. Publico, então, a seguir – ciente de que o Dr. Achlochstrecher é um personagem, mas apostando que não faltarão psiquiatras "de verdade" para concordar com suas afirmações:


"Midia brasileira é obsessiva", afirma psiquiatra alemão pai do "Geburtschaf"
(Fernando Carvalho, da EFF, Madrid)


"Toda a obsessão é um mal da mente. Nesta nova viagem que faço ao Brasil encontro os jornais brasileiros ou melhor, seus chefes de redação, acometidos de uma moléstia mental coletiva que beira a obsessão".

"Tudo, absolutamente tudo, para eles é culpa do presidente do país."

Rindo bastante hoje pela manhã, entre uma caipirinha e outra, foi assim que Heinz Von Achlochstrecher, 79, famoso psiquiatra suíço, radicado na cidade de Ulm na Alemanha, comentou as noticias que leu nos jornais de hoje, no hall do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, onde está hospedado em visita de férias ao Brasil.

"Essa história do assessor do Lula que foi filmado fazendo gestos obscenos, por entre as cortinas de seu próprio escritório, é um caso raro."

Para o psiquiatra, autor de vários best-sellers como "Eu quero que o mundo seja assim" e "Nicolau, agora pára com isso e larga do meu pé", ter a imprensa ligado a cena dos gestos obscenos ao anuncio de que um avião tinha apresentado problemas mecânicos, sem haver um áudio comprovando isso, é absolutamente doentio.

"A obsessão por culpar o presidente por tudo expõe esses jornalistas ao ridículo".

"Depois de passar três dias inteiros de manhã à noite culpando o governo pela falta de umas ranhuras que só 5 pistas de aeroporto possuem em todo o país, a mídia, em vez de fazer auto-critica quando o vice-presidente técnico da TAM revelou que o avião estava com o reverso desligado no momento do pouso, sai como louca em busca de uma nova imagem sensacionalista para desviar a atenção do público para a mentira que repetiu setenta e duas horas seguidas, sem descanso, sobre as tais "ranhuras indispensáveis", afirmou o Prêmio Nobel de Psiquiatria de 1988.

"Podia ser o Lula tirando meleca. Podia ser Dona Marise, limpando o sapato depois de pisar em cocô de um dos cachorrinhos do presidente. Podia ser qualquer coisa, contanto que desviasse a atenção. Quis o destino que fosse o tal assessor, fazendo 'top-top' atrás da cortina do seu escritório...

Então, desce o pano rápido e vamos de assessor! Escondam imagem do avião correndo a velocidade três vezes a normal na pista. Escondam essa história de reverso quebrado e desligado. Mostrem o Marco Aurélio fazendo top-top, rápido!

Sinceramente, eu gostaria de perguntar aos 'barões da mídia' e seus cúmplices: quem vocês acham que ainda acredita em vocês? Vocês não têm medo de perder completamente o que lhes restou de credibilidade?

Esse caso parece a versão do capitalismo que nos irradiava dia e noite a televisão da ex-RDA (Alemanha Oriental). Tudo para eles era culpa do capitalismo!"

Disse Von Achlochstrecher que no Brasil a censura é muito mais forte do que sob o comunismo soviético, pois aqui as chefias de redação usam métodos empresariais para exercer a censura, que são muito mais eficientes do que os velhos censores estatizados e burocráticos.

Mandar cinegrafistas ficar nas janelas do Palácio do Planalto filmando as janelas dos escritórios para pegar alguém coçando prurido anal, o buraco do nariz ou da orelha é uma atitude que denota absoluta falta de controle emocional e uma obsessão que pode ser contagiosa.

Comendo uma casquinha de siri, abraçado com uma jovem afro-descendente e vestido com a camisa do Flamengo, o velho psiquiatra termina a entrevista desafiante: "Em vez de obsessão por Lula, esses jornalistas deveriam transformar toda essa energia em obsessão saudável pelo sexo oposto, como essa que me faz correr 45 minutos todos os dias e ainda dar conta da Licimara, que vive comigo em Berlin há quase cinco anos... todos os dias!"

quarta-feira, julho 18, 2007

Cara e Coroa

Depois de 13 anos em Nova York, fiquei três trabalhando no Rio de Janeiro e voltei a Nova York para mais três anos de atuação como correspondente.

Só mais recentemente estive envolvido de perto com a cobertura da política brasileira.

Na minha opinião, tem sido um espetáculo da aplicação de dois pesos e duas medidas:

CARA: O candidato a governador de Pernambuco, Humberto Costa, do PT, foi denunciado pelo Ministério Público na semana do primeiro turno das eleições de 2006, notícia amplamente divulgada. Ficou em terceiro lugar.

COROA: O mesmo indiciamento incluiu Platão Fischer Puhler, homem de confiança do candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra. O relatório da Polícia Federal que serviu de base à denúncia concluiu que uma quadrilha atuava na comercialização de hemoderivados no Ministério da Saúde desde que Serra era ministro no governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Era a Máfia dos Vampiros. A notícia sobre Platão praticamente sumiu do mapa. Serra foi eleito com ampla margem de votos.

CARA: Freud Godoy, apresentado ao público como o churrasqueiro do presidente Lula, foi à Polícia Federal diante de um batalhão de repórteres - eu estava entre eles - como suspeito de ter participado da operação de compra de um dossiê que demonstraria o envolvimento do candidato ao governo de São Paulo, José Serra, com a máfia das ambulâncias. Faltavam alguns dias para o primeiro turno das eleições presidenciais. Nada ficou provado contra Freud.

COROA: Abel Pereira, acusado de atuar como intermediário do PSDB nos negócios envolvendo o ministério da Saúde de José Serra com a máfia das ambulâncias, não foi chamado a depor com o mesmo alarde e em período pré-eleitoral. Investigada durante o governo Lula, a máfia das ambulâncias começou a atuar "no governo anterior", o do PSDB.

CARA: O delegado Edmilson Bruno, da Polícia Federal, vaza fotos na antevéspera do primeiro turno da eleição que são divulgadas com grande destaque pela mídia.

COROA: Os indícios de que o delegado pode ter feito a "arquitetura" do dinheiro com objetivos cenográficos não merecem uma linha em jornal, rádio ou televisão.

CARA: A operação da Polícia Federal que teve maior repercussão no governo de Fernando Henrique Cardoso foi aquela que levou à descoberta de dinheiro num escritório ligado a Roseana Sarney, então possível candidata do PFL à presidência da República. A operação eliminou a candidatura de Roseana e deixou o campo livre para a candidatura de José Serra, do PSDB.

COROA: Operações da Polícia Federal durante o governo Lula investigaram o contrabando na Daslu, a fraude fiscal na Schincariol, resultaram na prisão de autoridades do próprio governo, de delegados da Polícia Federal e da polícia civil, na acusação a deputados e senadores e levaram ao afastamento de um ministro de Estado.

CARA: O valerioduto resultou na cassação de José Dirceu, do PT, depois de uma cobertura que consumiu toneladas de papel e um gigantesco arquivo de reportagens de rádio e televisão. Participei marginalmente da cobertura, denunciando um esquema de caixa 2 do PT em Goiás. Mas, quando o assunto chegou à CPI dos Correios, morreu depois que o principal acusado revelou que havia feito doações para quase todos os partidos. As doações não aparecem nas declarações dos partidos e candidatos à Justiça Eleitoral.

COROA: O ex-presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, que participou do parto do valerioduto, não só escapou de qualquer tipo de punição como não foi investigado pela mídia com o mesmo ímpeto dedicado a José Dirceu. Azeredo continua exercendo um papel de destaque na bancada do partido no Congresso.

CARA: Quatro CPIs foram criadas especificamente para investigar ações do governo, com ampla cobertura da mídia, transmissão ao vivo pela TV e cobranças diárias de colunistas e comentaristas políticos.

COROA: Nenhuma CPI para investigar denúncias específicas contra governos do PSDB em São Paulo foi criada desde Geraldo Alckmin, do PSDB, embora haja denúncias consistentes sobre a distribuição de verbas publicitárias da Nossa Caixa para a mídia "amiga" e um rombo considerável na CDHU. Nem os comentaristas, nem os articulistas
regionais se empenham em cobrar as CPIs com o mesmo vigor. A energia e os recursos dedicados pela mídia a esses assuntos é, por comparação, mínimo - e praticamente inexistiu no período pré-eleitoral, quando a investigação poderia prejudicar tanto Geraldo Alckmin quanto José Serra.

CARA: Renan Calheiros foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Os negócios dele com o gado passaram batidos. Presidente do Congresso e articulador da coalizão governista, Renan é acusado de ter tido as despesas com a manutenção da amante jornalista e de uma filha fora do casamento por um lobista de uma empreiteira. Curiosamente, em 1989 o então candidato Lula teve seu caso com a enfermeira Miriam Cordeiro revelado às vésperas da eleição. Uma entrevista com Miriam, gravada pela equipe de campanha do candidato Fernando Collor, foi ao ar também no Jornal Nacional, acusando Lulanão só de ter sugerido o aborto da filha Lurian mas também de ter feito manifestações racistas quando via atores negros na televisão.

COROA: Embora a mídia saiba do filho do ex-presidente FHC com uma jornalista da Globo, o fato não só nunca foi divulgado pela grande mídia brasileira como nunca se perguntou ao político como foram sustentados a mãe e o filho no Exterior. O filho de FHC e as circunstâncias em que ele e a jornalista foram "escondidos" são a maior não-notícia da História recente da mídia brasileira.

CARA: Quando cobri o apagão elétrico, que afetou a todos os brasileiros, no governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, a ênfase era numa campanha cívica para convencer a população de que cabia a cada um colaborar.

COROA: O apagão aéreo é caos. Falta de planejamento. Culpa do governo. Pouquíssimas menções são feitas ao sistema de hubs implantado pelo duopólio TAM/Gol - que concentra muitos vôos em poucos aeroportos - e ao espetacular crescimento na venda de passagens aéreas.

Qual é a minha conclusão?

O governo pode ser ruim, mas é melhor do que a mídia mostra. Apesar da decepção causada aos eleitores do próprio PT e de ter adotado uma política econômica conservadora, Lula ameaça a hegemonia daqueles que se deram bem com a privataria, é vítima de ódio de classe e desprezado pela elite branca dos Jardins paulistanos e da faixa de terra que vai de Copacabana ao Leblon, no Rio de Janeiro.

Os ressentidos querem mais estado - para bancar os Jogos Panamericanos, levantar empresas falidas e financiar com juros baixos a conversão para o sistema de TV digital - e menos estado - para reduzir a carga tributária, cortar as "migalhas" do Bolsa Família e colocar no ar todo o lixo que quiserem, quando quiserem, desde que dê audiência.

Os muitos defeitos do governo Lula são amplificados e as conquistas são diminuídas com a estratégia de dizer que "poderia ser melhor", "na Índia é melhor", "na China é diferente", "vejam só como é na Rússia" e assim por diante.

Mas essas mesmas comparações não valem quando revelam que "na Suécia não só tem classificação indicativa, como há limite para anúncios durante a programação infantil".

Quando o governo brasileiro tenta regulamentar o assunto, é "censura prévia". Quando autoridades britânicas multam pesadamente emissoras públicas e privadas de tevê por desvios de conduta, a notícia nem sai no Brasil.

Não há conspiração da mídia contra o governo. Não é preciso. É só deixar rolar os interesses de classe.

Publicado por Luiz Carlos Azenha, em 15 de julho de 2007, no seu site Vi o Mundo.

quinta-feira, julho 05, 2007

FHC, o invejoso, vai surtar com números da economia



FHC ressuscitou.

Está em todas.

Nunca um ex-presidente foi tão citado pela mídia.

A mídia golpista adora o FHC.

Teriam sido as "negociatas" da privataria?

A base de Alcântara, que FHC queria "entregar" aos americanos?

Ou teria sido o ministro da Justiça de FHC, um certo Renan Calheiros?

FHC palpita sobre tudo, mas nenhum repórter tem coragem de perguntar a ele quem é que pagou as contas do filho do senador com a jornalista da Globo.

Se não foi o próprio FHC, quem foi?

E o que recebeu em troca?

Eu juro para vocês: se eu encontrar o FHC na rua ou em algum evento público eu vou fazer essa pergunta.

Não devemos admitir a hipocrisia: se o Lula teve de responder e o Renan Calheiros também, devemos poupar FHC?

Devemos poupar as crianças, que não têm nada com isso.

Digo, antes de prosseguir, que o fato de que Lula desperdiça sua taxa de aprovação apoiando Renan Calheiros é nojento.

Nada justifica isso, nem a tal "governabilidade".

Renan, ACM, Sarney, Roriz - essa gente deveria ser enterrada.

É o atraso do atraso do atraso do atraso.

Pior que a elite brasileira, que é apenas o atraso do atraso do atraso.

O problema do Lula é que ele tem medo.

O sonho de Lula é ser o FHC.

E o sonho do FHC é ser tão popular quanto o Lula.

À revista Economist, que o considera presidente-em-exercício, FHC papagaiou um bordão que deve ter sido produzido no mesmo laboratório de onde saiu o Pan do Brasil.

Alguma coisa do gênero: chega de fazer comparações com o passado, devemos fazer comparações com os nossos competidores.

É óbvio que FHC não quer mais comparações com o passado.

O governo Lula dá de dez a zero em todos os sentidos, inclusive no número de CPIs instaladas e em atividade, no combate à corrupção, na defesa dos interesses nacionais, na economia, na distribuição de renda e por aí afora.

FHC comprou a sua reeleição e a mídia abafou o escândalo.

O problema do sociólogo é que a comparação do Brasil com os competidores é favorável... ao Brasil.

Se você isolar o número do PIB - que é o que fazem os puxa-sacos de FHC -, o Brasil sai perdendo.

Mas você gostaria de morar na China, país de partido único, sem democracia, com a imprensa amordaçada, problemas gravíssimos no meio ambiente, falta de terras, de água e 200 milhões de camponeses miseráveis que detonam o seu salário?

E na Índia, em pé de guerra com um vizinho, com graves problemas entre hindus e muçulmanos, terrorismo, fome, falta de água e a divisão da sociedade em castas?

E na Rússia, com um regime autocrático, em guerra com uma de suas províncias, "cercada" pelos americanos, com centenas de mísseis nucleares apontados em sua direção?

Dos BRICs o Brasil é a melhor opção para os investidores estrangeiros.

Ou é por acaso que está chovendo dinheiro no Brasil?

Que o dólar só faz despencar?

O Brasil oferece uma plataforma razoavelmente segura para investimentos, sem comoções internas, com ótimas perspectivas de crescimento, terra e água à vontade e um monte de brasileiros dentro.

É o lugar ideal para se instalar e disputar um mercado em crescimento, o da América Latina.


Sim, temos um gravíssimo problema de violência, uma guerra civil não declarada por causa de uma distribuição de renda criminosa.

Mas o governo que está no poder está enfrentando o problema, com resultados visíveis.

Em que país do mundo as vendas pela internet têm aumento de 49% em relação aos primeiros seis meses do ano anterior?

Eu não vou ficar aqui desfiando todos os números da economia.

Faça isso você mesmo e vai ver que o governo Lula, ainda que enrolado com todo tipo de trapaceiro, dá de dez a zero no de FHC.

Se o Lula ousasse um pouquinho mais e usasse a autoridade que tem com mais de 60 por cento de aprovação popular poderia passar feito um rolo compressor sobre FHC e sua turma... politicamente.

Mas o Lula é de negociar, busca sempre o consenso, o que dá a impressão de paralisia.

O Lula é melhor presidente e melhor político que FHC.

E eu imagino o quanto deva doer, num professor da Sorbonne oriundo da aristocracia paulistana, o fato de perder para um nordestino que se formou no SENAI.


(Publicado em 3 de julho de 2007)


Estou com preguiça de ajudar os tucanos.

Por isso fico no caderno Dinheiro, da Folha, de 5 de julho.

Entrada de dólares no Brasil até 17 de junho de 2007: U$ 42,9 bilhões. Em todo o ano de 2006: U$ 37,3 bilhões - e não é tudo capital especulativo, não.

Brasil deve zerar o déficit nominal em 2008.

Brasil deve criar 1,451 milhão de empregos em 2007, 18% a mais que em 2006.

Estrangeiros vendem ações no país, mas compram de novo.

Compraram, os estrangeiros, 74% do volume de novas ações emitidas por companhias brasileiras na primeira metade do ano.

Venda de motos cresce 25,83% no primeiro semestre em relação ao ano passado.

Indústria cresce 1,3% em maio.

Para Sílvio Sales, coordenador de indústria do IBGE, esse perfil de crescimento, liderado por máquinas e equipamentos (19,4% em relação a abril) é "bastante saudável", pois indica o aumento dos investimentos.

'Choque agrícola' eleva inflação em SP (acumulado de 4,88% em 12 meses)

Ainda sobre as bolsas da valores, Carlos Miranda, sócio da Ernst & Young para a área de transações, vê dados positivos no cenário do país.

Para ele, ao contrário do que acontece com os outros Brics (Rússia, Índia e China), o investidor estrangeiro que aplica nas Bolsas brasileiras prioriza investimentos de longo prazo, apostando menos em ganhos rápidos.

Tudo isso chupei de apenas um caderno da Folha.

(Publicado em 5 de julho de 2007)

Reproduzido do site Vi o mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha.