sexta-feira, dezembro 29, 2006

As liquidações dos "formiguinhas"

Por Elio Gaspari, da Folha de S.Paulo

COMEÇA HOJE a temporada de liquidações em quase todas as grandes revendedoras de materiais de construção. Se o PSDB tivesse juízo, mandaria seus sábios visitar os grandes galpões dessas empresas. Entenderia por que perdeu a eleição e por que perderá as próximas. Um bom pedaço dos clientes dessas liquidações vem do andar de baixo.
Gente que compra uma caixa d`água de 500 litros e um novo piso para a cozinha esperando gastar R$ 200 em dez prestações, sem juros. Chama-se a esse consumidor de "formiguinha".
Abastece-se no crédito consignado e, nesse mercado, um aumento do salário mínimo de R$ 30 mensais dá para pagar o novo piso e ainda sobram uns R$ 10 para cobrir o aumento das tarifas tucano-pefelês dos ônibus do Rio e de São Paulo.
A repórter Cibele Gandolpho revelou que quatro grandes entrepostos planejam oferecer descontos de até 70%.
Com sorte, juntando-se o aumento de dois salários mínimos e mercadoria barata (talvez de uma ponta de estoque), consegue-se um novo banheiro.
Esse pedaço do Brasil é olhado com desconfiança pelo andar de cima. Quando Lula baixou os impostos sobre os materiais de construção, viu-se na providência um estímulo à favelização.
Se o problema habitacional brasileiro pudesse ser resolvido pela elevação do preço do saco de cimento, as coisas seriam muito mais fáceis. Pior: o medo descende do pavor oitocentista dos escravos livres, desorganizando os bulevares e embebedando-se pelas ruas.
Uma pesquisa patrocinada pelo sindicato da indústria, com números de 2002, ensina que as famílias com renda de até três salários mínimos consomem apenas 8% da produção nacional de cimento.
Um saco consumido numa casa situada nessa faixa de renda é parte de uma obra que muda a vida da família. A conjunção do salário mínimo com o acesso ao crédito e o interesse do comércio em vender para as faixas de menor renda estão provocando mudanças na maneira de viver (e de votar) do brasileiro.
Assim como há no andar de baixo muita gente que precisa tomar banho de loja, há no de cima quem precise de banho de entreposto. O PSDB tem uma certa incapacidade neurológica para absorver avanços sociais produzidos pelo PT.
Um bom exemplo dessa demofobia está na incapacidade dos tucanos de reconhecer a revolução ocorrida nos transportes públicos de São Paulo durante a gestão de Marta Suplicy. Outro é a confusão do "puxadinho" com a favelização.
São atitudes irracionais, pois enquanto houver sufrágio universal, a política de satanização do andar de baixo produzirá apenas demagogia e triunfos eleitorais de demagogos.
É nesse sentido que faria bem ao cardinalato tucano passar uma tarde num entreposto de materiais de construção.
Descobrirão o que pensam e como agem os trabalhadores que planejam ampliar sua casas com algumas centenas de reais, a boa vontade dos vizinhos e a ajuda dos parentes.
Vivem naquele pedaço do Brasil onde os ônibus atrasam, são inseguros e maltratam os passageiros, mas ninguém quer ouvir falar disso. Em 2008, eles vão votar de novo.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Repórter revela como a Globo tentou manipular as eleições

(fonte: http://www.pt.org.br/)

Após 12 anos trabalhando na TV Globo, período durante o qual cobriu seis eleições, o repórter Rodrigo Viana desligou-se da emissora nesta terça-feira (19), após ser comunicado de que seu contrato de trabalho não seria renovado.

Em e-mail interno aos agora ex-colegas de redação, e que já vazou pela internet (foi publicado no site Terra Magazine), Viana condena a cobertura "desastrosa" e "seletiva" da Globo nas eleições deste ano, detalhando vários casos de manipulação do noticiário, todos em prejuízo da candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e/ou em benefício de candidatos tucanos, como o governo eleito de São Paulo, José Serra.

O jornalista relata ainda, no texto distribuído aos colegas, a luta de um grupo de profissionais da emissora para que a cobertura fosse equilibrada: "Ninguém na Redação queria poupar petistas (...) O que pedíamos era isonomia".

Ele também faz críticas a certas normas internas, como a que obriga o noticiário a chamar os negros brasileiros de "pretos ou pardos". E conclui: "Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira".

Em outro ponto, Viana comenta o "episódio lamentável" do abaixo-assinado em defesa da emissora, produzido pela direção da empresa e ao qual muitos jornalistas aderiram. Ele afirma que isso jamais aconteceria se, hipoteticamente, a direção da Volks pedisse aos seus metalúrgicos que assinassem um documento isentando a montadora de erros que ela tivesse cometido na produção de seus carros.

"Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...", diz o texto.

Procurado pelo Portal do PT, Viana, que tem 37 anos e 18 de profissão, informou que, por razões contratuais (formalmente, seu contrato só vence no fim de janeiro), não poderia se manifestar a respeito.

Leia abaixo a íntegra do comunicado interno:

"LEALDADE

Quando cheguei à TV Globo, em 1995, eu tinha mais cabelo, mais esperança, e também mais ilusões. Perdi boa parte do primeiro e das últimas. A esperança diminuiu, mas sobrevive. Esperança de fazer jornalismo que sirva pra transformar - ainda que de forma modesta e pontual. Infelizmente, está difícil continuar cumprindo esse compromisso aqui na Globo. Por isso, estou indo embora.

Quando entrei na TV Globo, os amigos, os antigos colegas de Faculdade, diziam: "você não vai agüentar nem um ano naquela TV que manipula eleições, fatos, cérebros". Agüentei doze anos. E vou dizer: costumava contar a meus amigos que na Globo fazíamos - sim - bom jornalismo. Havia, ao menos, um esforço nessa direção.

Na última década, em debates nas universidades, ou nas mesas de bar, a cada vez que me perguntavam sobre manipulação e controle político na Globo, eu costumava dizer: "olha, isso é coisa do passado; esse tempo ficou pra trás".

Isso não era só um discurso. Acompanhei de perto a chegada de Evandro Carlos de Andrade ao comando da TV, e a tentativa dele de profissionalizar nosso trabalho. Jornalismo comunitário, cobertura política - da qual participei de 98 a 2006. Matérias didáticas sobre o voto, sobre a democracia. Cobertura factual das eleições, debates. Pode parecer bobagem, mas tive orgulho de participar desse momento de virada no Jornalismo da Globo.

Parecia uma virada. Infelizmente, a cobertura das eleições de 2006 mostrou que eu havia me iludido. O que vivemos aqui entre setembro e outubro de 2006 não foi ficção. Aconteceu.

Pode ser que algum chefe queira fazer abaixo-assinado para provar que não aconteceu. Mas, é ruim, hem!

Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto".

Tudo isso aconteceu. E nem foi o pior.

Na reta final do primeiro turno, os "aloprados do PT" aprontaram; e aloprados na chefia do jornalismo global botaram por terra anos de esforço para construir um novo tipo de trabalho aqui.

Ao lado de um grupo de colegas, entrei na sala de nosso chefe em São Paulo, no dia 18 de setembro, para reclamar da cobertura e pedir equilíbrio nas matérias: "por que não vamos repercutir a matéria da "Istoé", mostrando que a gênese dos sanguessugas ocorreu sob os tucanos? Por que não vamos a Piracicaba, contar quem é Abel Pereira?"

Por que isso, por que aquilo... Nenhuma resposta convincente. E uma cobertura desastrosa. Será que acharam que ninguém ia perceber?

Quando, no JN, chamavam Gedimar e Valdebran de "petistas" e, ao mesmo tempo, falavam de Abel Pereira como empresário ligado a um ex-ministro do "governo anterior", acharam que ninguém ia achar estranho?

Faltando seis dias para o primeiro turno, o "petista" Humberto Costa foi indiciado pela PF. No caso dos vampiros. O fato foi parar em manchete no JN, e isso era normal. O anormal é que, no mesmo dia, esconderam o nome de Platão, ex-assessor do ministério na época de Serra/Barjas Negri. Os chefes sabiam da existência de Platão, pediram a produtores pra checar tudo sobre ele, mas preferiram não dar. Que jornalismo é esse, que poupa e defende Platão, mas detesta Freud! Deve haver uma explicação psicanalítica para jornalismo tão seletivo!

Ah, sim, Freud. Elio Gaspari chegou a pedir desculpas em nome dos jornalistas ao tal Freud Godoy. O cara pode ter muitos pecados. Mas, o que fizemos na véspera da eleição foi incrível: matéria mostrando as "suspeitas", e apontando o dedo para a sala onde ele trabalhava, bem próximo à sala do presidente... A mensagem era clara. Mas, quando a PF concluiu que não havia nada contra ele, o principal telejornal da Globo silenciou antes da eleição.

Não vi matérias mostrando as conexões de Platão com Serra, com os tucanos.

Também não vi (antes do primeiro turno) reportagens mostrando quem era Abel Pereira, quem era Barjas Negri, e quais eram as conexões deles com PSDB. Mas vi várias matérias ressaltando os personagens petistas do escândalo. E, vejam: ninguém na Redação queria poupar os petistas (eu cobri durante meses o caso Santo André; eram matérias desfavoráveis a Lula e ao PT, nunca achei que não devêssemos fazer; seria o fim da picada...).

O que pedíamos era isonomia. Durante duas semanas, às vésperas do primeiro turno, a Globo de São Paulo designou dois repórteres para acompanhar o caso dossiê: um em São Paulo, outro em Cuiabá. Mas, nada de Piracicaba, nada de Barjas!

Um colega nosso chegou a produzir, de forma precária, por telefone (vejam, bem, por telefone! Uma TV como a Globo fazer reportagem por telefone), reportagem com perfil do Abel. Foi editada, gerada para o Rio. Nunca foi ao ar!

Os telespectadores da Globo nunca viram Serra e os tucanos entregando ambulâncias cercados pelos deputados sanguessugas. Era o que estava na tal fita do "dossiê". Outras TVs mostraram o vídeo, a internet mostrou. A Globo, não. Provava alguma coisa contra Serra? Não. Ele não era obrigado a saber das falcatruas de deputados do baixo clero. Mas, por que demos o gabinete de Freud pertinho de Lula, e não demos Serra com sanguessugas?

E o caso gravíssimo das perguntas para o Serra? Ouvi, de pelo menos 3 pessoas diretamente envolvidas com o SP-TV Segunda Edição, que as perguntas para o Serra, na entrevista ao vivo no jornal, às vésperas do primeiro turno, foram rigorosamente selecionadas. Aquele diretor (aquele, vocês sabem quem) teria mandado cortar todas as perguntas "desagradáveis". A equipe do jornal ficou atônita. Entrevistas com os outros candidatos tinham sido duras, feitas com liberdade. Com o Serra, teria havido, deliberadamente, a intenção de amaciar.

E isso era um segredo de polichinelo. Muita gente ouviu essa história pelos corredores...

E as fotos da grana dos aloprados? Tínhamos que publicar? Claro. Mas, porque não demos a história completa? Os colegas que estavam na PF naquele dia (15 de setembro), tinham a gravação, mostrando as circunstâncias em que o delegado vazara as fotos. Justiça seja feita: sei que eles (repórter e produtor) queriam dar a matéria completa - as fotos, e as circunstâncias do vazamento. Podiam até proteger a fonte, mas escancarando o que são os bastidores de uma campanha no Brasil. Isso seria fazer jornalismo, expor as entranhas do poder.

Mais uma vez, fomos seletivos: as fotos mostradas com estardalhaço. A fita do delegado, essa sumiu!

Aquele diretor, aquele que controla cada palavra dos textos de política, disse que só tomou conhecimento do conteúdo da fita no dia seguinte. Quer que a gente acredite?

Por que nunca mostraram o conteúdo da fita do delegado no JN?

O JN levou um furo, foi isso?

Um colega nosso, aqui da Globo, ouviu a fita e botou no site pessoal dele... Mas, a Globo não pôs no ar... O portal "G-1" botou na íntegra a fita do delegado, dias depois de a "CartaCapital" ter dado o caso. Era noticia? Para o portal das Organizações Globo, era.

Por que o JN não deu no dia 29 de setembro? Levou um furo?

Não. Furada foi a cobertura da eleição. Infelizmente.

E, pra terminar, aquele episódio lamentável do abaixo-assinado, depois das matérias da "CartaCapital". Respeito os colegas que assinaram. Alguns assinaram por medo, outros por convicção. Mas, o fato é que foi um abaixo-assinado em defesa da Globo, apresentado por chefes!

Pensem bem. Imaginem a seguinte hipótese: a revista "Quatro Rodas" dá matéria falando mal da suspensão de um carro da Volkswagen, acusando a empresa de deliberadamente não tomar conhecimento dos problemas. Aí, como resposta, os diretores da Volks têm a brilhante idéia de pedir aos metalúrgicos pra assinar um manifesto em defesa da empresa! O que vocês acham? Os metalúrgicos mandariam a direção da fábrica catar coquinho em Berlim!

Aqui, na Globo, muitos preferiram assinar. Por isso, talvez, tenhamos um metalúrgico na Presidência da República, enquanto os jornalistas ficaram falando sozinhos nessa eleição...

De resto, está difícil continuar fazendo jornalismo numa emissora que obriga repórteres a chamarem negros de "pretos e pardos". Vocês já viram isso no ar? Sinto vergonha...

A justificativa: IBGE (e, portanto, o Estado brasileiro) usa essa nomenclatura. Problema do IBGE. Eu me recuso a entrar nessa. Delegados de policia (representantes do Estado) costumavam (até bem pouco tempo) tratar companheiras (mesmo em relações estáveis) como "concubinas" ou "amásias". Nunca usamos esses termos!

Árabes que chegaram ao Brasil no início do século passado eram chamados de "turcos" pelas autoridades (o passaporte era do Império Turco Otomano, por isso a nomenclatura). Por causa disso, jornalistas deviam chamar libaneses de turcos?
Daqui a pouco, a Globo vai pedir para que chamemos a Parada Gay de "Parada dos Pederastas". Francamente, não tenho mais estômago.

Mas, também, o que esperar de uma Redação que é dirigida por alguém que defende a cobertura feita pela Globo na época das Diretas?

Respeito a imensa maioria dos colegas que ficam aqui. Tenho certeza que vão continuar se esforçando pra fazer bom Jornalismo. Não será fácil a tarefa de vocês.
Olhem no ar. Ouçam os comentaristas. As poucas vozes dissonantes sumiram. Franklin Martins foi afastado. Do Bom dia Brasil ao JG, temos um desfile de gente que está do mesmo lado.

Mas sabem o que me deixou preocupado mesmo? O texto do João Roberto Marinho depois das eleições.

Ele comemorou a reação (dando a entender que foi absolutamente espontânea; será que disseram isso pra ele? Será que não contaram a ele do mal-estar na Redação de São Paulo?) de jornalistas em defesa da cobertura da Globo: "(...)diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança".

Entendi. Ele comemora que não haja dúvidas e incertezas... Faz sentido. Incerteza atrapalha fechamento de jornal. Incerteza e dúvida são palavras terríveis. Devem ser banidas. Como qualquer um que diga que há racismo - sim - no Brasil.

E vejam o vocabulário: "lealdade e confiança". Organizações ainda hoje bem populares na Itália costumam usar esse jargão da "lealdade".

Caro João, você talvez nem saiba direito quem eu sou.

Mas, gostaria de dizer a você que lealdade devemos ter com princípios, e com a sociedade. A Globo, infelizmente, não foi "leal" com o público. Nem com os jornalistas. Vai pagar o preço por isso. É saudável que pague. Em nome da democracia!

João, da família Marinho, disse mais no brilhante comunicado interno: "Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando".

Caro João, em que planeta você vive? Várias cabeças? Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!

Cumpro agora um dever de lealdade: informo-lhe que, passadas as eleições, quem discordou da linha editorial da casa foi posto na "geladeira". Foi lamentável, caro João. Você devia saber como anda o ânimo da Redação - especialmente em São Paulo.

Boa parte dos seus "colaboradores" (você, João, aprendeu direitinho o vocabulário ideológico dos consultores e tecnocratas - "colaboradores", essa é boa... Eu não sou colaborador, coisa nenhuma! Sou jornalista!) está triste e ressabiada com o que se passou.

Mas isso tudo tem pouca importância.

Grave mesmo é a tela da Globo - no Jornalismo, especialmente - não refletir a diversidade social e política brasileira. Nos anos 90, houve um ensaio, um movimento em direção à pluralidade. Já abortado. Será que a opção é consciente? Isso me lembra a Igreja Católica, que sob Ratzinger preferiu expurgar o braço progressista. Fez uma opção deliberada: preferiram ficar menores, porém mais coesos ideologicamente. Foi essa a opção de Ratzinger. Será essa a opção dos Marinho?

Depois, não sabem por que os protestantes crescem...

Eu, que não sou católico nem protestante, fico apenas preocupado por ver uma concessão pública ser usada dessa maneira!

Mas essa é também uma carta de despedida, sentimental.

Por isso, peço licença pra falar de lembranças pessoais.

Foram quase doze anos de Globo.

Quando entrei na TV, em 95, lá na antiga sede da praça Marechal, havia a Toninha - nossa mendiga de estimação, debaixo do viaduto. Os berros que ela dava em frente à entrada da TV traziam uma dimensão humana ao ambiente, lembravam-nos da fragilidade de todos nós, de como nossa razão pode ser frágil.

Havia o João Paulada - o faz-tudo da Redação. Havia a moça do cafezinho (feito no coador, e entregue em garrafas térmicas), a tia dos doces... Era um ambiente mais caseiro, menos pomposo. Hoje, na hora de dizer tchau, sinto saudade de tudo aquilo.

Havia bares sujos, pessoas simples circulando em volta de todos nós - nas ruas, no Metrô, na padaria.

Todos, do apresentador ao contínuo, tinham que entrar a pé na Redação. Estacionamentos eram externos (não havia "vallet park", nem catraca eletrônica). A caminhada pelas calçadas do centro da cidade obrigava-nos a um salutar contato com a desigualdade brasileira.

Hoje, quando olho pra nossa Redação aqui na Berrini, tenho a impressão que estou numa agência de publicidade. Ambiente asséptico, higienizado. Confortável, é verdade. Mas triste, quase desumano.

Mas há as pessoas. Essas valem a pena.

Pra quem conseguiu chegar até o fim dessa longa carta, preciso dizer duas coisas...

1) Sinto-me aliviado por ficar longe de determinados personagens, pretensiosos e arrogantes, que exigem "lealdade"; parecem "poderosos chefões" falando com seus seguidores... Se depender de mim, como aconteceu na eleição, vão ficar falando sozinhos.

2) Mas, de meus colegas, da imensa maioria, vou sentir saudades. Saudades das equipes na rua - UPJs que foram professores; cinegrafistas que foram companheiros; esses sim (todos) leais ao Jornalismo. Saudades dos editores - que tiveram paciência com esse repórter aflito e procuraram ser leais às minúcias factuais. Saudades dos produtores e dos chefes de reportagem - acho que fui leal com as pautas de vocês e (bem menos) com os horários! Saudades de cada companheiro do apoio e da técnica - sempre leais. Saudades especialmente, das grandes matérias no Globo Repórter - com aquela equipe de mestres (no Rio e em São Paulo) que aos poucos vai se desmontando, sem lealdade nem respeito com quem fez história (mas há bravos resistentes ainda).

Bem, pelo tom um tanto ácido dessa carta pode não parecer. Mas levo muita coisa boa daqui.

Perdi cabelos e ilusões. Mas, não a esperança.

Um beijo a todos.
Rodrigo Vianna."

domingo, dezembro 17, 2006

O segundo governo Lula

Por Luis Nassif

A pesquisa indicando Lula o melhor presidente da história é uma boa amostra da falta de sintonia ampla entre o dito conhecimento culto e a percepção popular.

Uma das características mais marcantes em períodos de liberalização financeira internacional é a tentativa de terceirizar a política para os mercados. Não é de agora. A Pax Britânica, no século 19, baseou-se nesse princípio. O chamado mercado desenvolveu um conjunto de ferramentas de pressão para manter a economia sob controle apenas no ponto que interessa ao credor: a capacidade de solvência do devedor.

Não interessam as ditaduras, embora enalteçam ditadores que seguiram a cartilha, mesmo os sanguinários. Mas as ditaduras dependem exclusivamente dos humores do ditador. Por isso mesmo, a democracia é o ambiente ideal, desde que não submetida aos primados da política.

É evidente que a classe política não prima pelas virtudes, ainda mais no modelo brasileiro. Grande parte dos políticos batalha por interesses específicos, setoriais ou pessoais. Em cima desses defeitos, cria-se uma caricatura de toda atividade política, que acaba engolfando especialmente as decisões que implicam em transferir parte do bolo orçamentário para fora do circuito financeiro. Qualquer medida nessa direção torna-se “populismo”, induz à “farra fiscal”, significa a volta do atraso.

No entanto, os grandes saltos nacionais ocorreram quando a política conseguiu se impor sobre o mercado. A entrada do Brasil na era moderna deu-se através de dois episódios significativos. O primeiro, a Constituinte de 1988. Evidente que, como todo fruto de acordos, tem muitos defeitos. Mas foi ela que consagrou as verbas vinculadas para educação, instituiu o SUS, garantiu melhor repartição do bolo tributário, abriu as bases para um novo federalismo.

Dia desses conversava com Maurício Botelho, da Embraer, que me contava os incentivos dados por estados e condados americanos para a implantação de novas empresas. Em um determinado condado, a municipalidade garantia US$ 20 dos US$ 35 milhões previstos, por que a obra garantiria 400 empregos de alto nível para a cidade.

Essa disputa por investimentos é mundial. Aqui no Brasil, quem praticou política industrial na última década foram os estados. E sua iniciativa foi pichada como “guerra fiscal irresponsável”.

Voltemos a Lula. Errou clamorosamente na política monetária de Palocci e Meirelles, ao permitir a reapreciação do câmbio, o aborto do suspiro de crescimento de 2004, plantado pela crise cambial de 2002. Mas teve a intuição para apoiar e dar escala aos movimentos de inclusão social. Quando criou as diversas secretarias de inclusão, foi torpedeado pelo tal do mercado. O governo era irracional, seria atropelado pelas demandas sociais. No entanto, foi a intuição do político que permitiu conferir-se escala à Bolsa Família, depois do início desastroso do Fome Zero. E a Bolsa Família é o que os analistas chamam de "fator portador de futuro", um marco na história das políticas sociais brasileiras, com o mesmo efeito para o futuro que teve a vinculação das verbas para educação, pela Constituição de 1988.

O primeiro governo Lula foi bom na área econômica, excepcional na área social, desastroso da área monetária. Apesar de muito provavelmente não ousar romper com a estagnação do câmbio, o segundo governo terá mais condições para melhorar. Aparentemente vão ser preservadas as áreas de excelência. O Programa da Bioenergia, se bem estruturado, poderá mexer com vários setores relevantes da economia, como pesquisa e tecnologia, indústria de base, distribuição de renda, estratégia comercial global. Há espaço, agora, para investimento maciço em Saneamento. A infra-estrutura tornou-se prioridade nacional.

É possível perceber movimentos de inúmeros grupos de empresas e de investidores em projetos ligados a infra-estrutura e ao biodiesel e bioenergia. O mercado de capitais está pronto para atrair parte da poupança que será deslocada pela redução dos juros.

Ou seja, há um quadro completo para que o político Lula desperte o que o Delfim chama de “espírito animal” do empresariado para investir e ousar. Desde que consiga colocar o mercado no seu devido lugar. Não há que se ser imprudente, a ponto de esfrangalhar as finanças; nem medroso, a ponto de nada ousar para não descontentar o mercado.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

MIRIAM LEITÃO, A CONTROLADORA-GERAL DA REPÚBLICA

Por Paulo Henrique Amorim


. O Bom Dia Brasil de hoje, quinta feira, dia 7 de dezembro, dedicou 13 minutos ao “caos aéreo”.

. Quando caiu o avião da Gol, o Jornal Nacional não noticiou. Mas, agora, a Globo parece especialmente preocupada com o “caos aéreo”.

. No Bom Dia de hoje, a âncora Claudia Bomtempo, como sempre, desempenhou com entusiasmo o papel de vice-líder da oposição, em Brasília.

. Ao entrevistar o Ministro da Educação sobre a aprovação do Fundeb (*), começou a sabatina não com o Fundeb, mas com o nível de repetência “absurdamente elevado”, segundo a vice-líder da oposição.

. A outra âncora, Renata Vasconcelos, também tem opiniões. E opiniões sobre o andamento da economia nacional.

. Depois que a praça de São Paulo cometeu a impropriedade de levantar a remota possibilidade de, por acaso, por obra do destino ingrato, pela mão de Deus, quem sabe?, de alguns setores industriais, talvez, hipoteticamente, ganharem dinheiro em 2007, eis que Renata Vasconcelos, notória analista de sistemas macro-econômicos, teceu comentário arrasador sobre a hipótese mais provável: tudo vai dar errado, porque a maioria dos empresários, segundo Vasconcelos, não pensa como disse a precipitada repórter de São Paulo.

. Chegamos à Controladora Geral da República, Miriam Leitão.

. É notável a capacidade da Controladora Geral de dar opinião sobre tudo.

. Hoje, a Controladora não deu opinião sobre economia, porque, em seu lugar, Renata Vasconcelos deu o rumo definitivo aos destinos do empresariado nacional.

. Leitão, a Controladora, falou, com a usual veemência, sobre o “caos aéreo”.

. Em seguida, sobre os salários do Judiciário.

. Pouco importa, aqui, a múltipla opinião de Miriam Leitão, de Bomtempo ou de Vasconcelos.

. Elas têm a opinião que o dono da empresa considerar adequada.

. O que me parece relevante a considerar é que o Brasil é o único lugar do mundo – que conheço – em que a tevê aberta, um serviço público, exibe opinião sem dizer que é opinião.

. Tevê aberta tem que colocar uma legenda na telinha que diga “OPINIÃO’’ ou “EDITORIAL”, quando o dono da empresa quiser manifestar sua opinião. Seja através do ancora, do locutor em off, ou através de “colunistas” (que podem dizer o que quiserem desde que digam o que o dono da empresa aprovar).

. Por que eu, beneficiário de um serviço público, que quer saber sobre o tempo em São Paulo, ou sobre as saídas de vôos de Congonhas, tenho que me submeter à opinião de quem a Globo deu o poder ser a Controladora Geral da República?

. Opinião, tenho as minhas.

. Os americanos têm uma frase muito interessante sobre o que diz um leitor ou espectador, diante desse problema: “Give me the facts. I’ll provide the opinion” – você, jornalista, me dá os fatos que eu entro com a opinião.

. O “colunismo” ou o “opinionismo” na tevê aberta é um abuso de poder das redes de televisão, que operam por concessão.

. É uma desastrosa contribuição brasileira à civilização ocidental.

. Imaginem a Controladora Geral da República na BBC. Na CBS. Na CBC canadense???

. “Opinionismo” ou “colunismo” é coisa para a tevê paga.

. O fregues vai lá, paga e vê. Gostou? Tudo bem. Continua a pagar.

. Não gostou? Não paga mais.

. É diferente de trocar de canal na tevê aberta. Na tevê aberta, a Globo entra na minha casa – ou na sala de ginástica... - sem que eu decida (ou pague).

. (E se o síndico chegar antes e ligar na Globo? Paro de malhar? E como fica o meu HDL?)

. A família Marinho (através da Controladora Geral da Republica, da Claudia Bomtempo, ou da Renata Vasconcelos) não tem o direito de enfiar a suas opiniões pela goela do freguês.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Engolindo Chávez

Jornalistas entrevistam jornalistas: mais uma inovação dos jornais brasileiros na cobertura das eleições da Venezuela

Por Alceu Nader, do blog Contrapauta

O presidente reeleito da Venezuela, Hugo Chávez, ou melhor, a fixação dos grupos empresariais que controlam a mídia no Brasil com Chávez, está motivando novas práticas jornalísticas no Brasil. Pelo menos três jornalões – Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo – enviaram jornalistas para cobrir as eleições de ontem, mas a cobertura mais íntegra não é de nenhum deles: é do Valor Econômico, que não enviou repórter. A Folha, um dia antes da eleição, inventou um decreto de última hora que já existia há doze dias e que parece coibir a boca-de-urna. O mesmo decreto proíbe a venda de álcool, como no Brasil, mas o jornal não publicou esse detalhe, possivelmente para evitar a comparação que seus leitores fariam.

Na edição de hoje, na qual os jornalões tiveram de aceitar o resultado das urnas amplamente favorável a Hugo Chávez, com mais de 60% dos votos, as inovações continuaram. Todos cometem o que, até poucos anos, era inadmissível: entrevistam jornalistas para tentar explicar o que, afinal, acontece com o povo desse país vizinho, onde, a despeito de toda a campanha movida pelos grupos que controlam a imprensa no continente, Chávez continua vivo – pior, com novo mandato que lhe assegura mais seis anos no poder.

O Estado inovou um pouco além dos seus pares ao tentar criar uma “fraude eleitoral” que nem os vigilantes jornais venezuelanos constataram, ao trazer hoje denúncia ide rregularidade, feira por uma partidária do candidato derrotado por Chávez. Como de hábito, o jornal multiplicou o caso, atribuindo-lhe um coletivo que não existiu. A reportagem com o título “Oposição reclama e teme fraudes” não traz “a oposição”; na verdade, traz a história de uma mulher que foi desmascarada por uma funcionária do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) após denunciar a “fraude”. O que aconteceu: a partidária anti-Chávez pretendia armar um escandalete para a imprensa internacional com uma grave “denúncia”: a tinta aplicada no polegar dos que já haviam votado não resistia à aplicação de álcool e acetona. A funcionária do CNE foi acionada e descartou a “fraude” ao ver vestígios de tinta nas unhas e na cutícula da denunciante. Nenhum jornal – nem os da Venezuela - comprou a história. Apenas o Estado. O caso bobo foi transformado em reclamação da oposição. Enquanto isso, na Venezuela, tanto a oposição quanto os jornais não questionam o resultado nas urnas.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Folha de SP e a síndrome do escorpião

Por Luís Nassif

Durante muitos anos, minha luta diuturna na "Folha" era tentar passar a mensagem de que direitos individuais são um valor que independe do personagem. A imprensa precisa ser guardiã desses direitos de forma incondicional, seja para assegurar direitos de culpados, seja para prevenir abusos contra inocentes.

Dizia isso porque havia uma tendência a enaltecer qualquer forma de desrespeito aos direitos individuais dos "inimigos do povo". Como foi o caso da celebração do feito do delegado que algemou o senador Jáder Barbalho. Quando se enaltece uma arbitrariedade dessas, mesmo em um personagem suspeito e marcado como Jader, está se convalidando qualquer arbitrariedade da polícia contra qualquer cidadão..

Não adiantou. A "Folha" fez enorme pampeiro quando o telefone da sucursal apareceu por engano no inquérito policial que apura a compra do dossiê. Três dias sustentando que a liberdade de imprensa estava ameaçada, mesmo com a informação de que o número tinha aparecido no celular de um suspeito, e não havia como saber de quem era sem quebrar o sigilo.

Ontem, a “Folha” soltou matéria com o título "Ligado a Berzoini, Vaccaro vira alvo da PF". O número de Vaccaro apareceu no celular de um dos suspeitos.

Na resposta à carta de Vaccaro ao Painel do Leitor, o repórter responde que "a reportagem não informou que houve quebra do sigilo telefônico de Vaccaro. Suas ligações foram identificadas a partir da quebra do sigilo dos demais investigados". Então porque a manchete o colocou imediatamente na condição de suspeito?

No mesmo Painel do Leitor, uma empresa acusada de fraudar importações manda carta protestando contra a acusação. Resposta do repórter: ela não quis se pronunciar. Foi o suficiente para virar suspeita.

A saída, então, é atender a reportagem? Errado.

Na última carta do Painel, a TAM reage a uma matéria em que foi acusada de se recusar a transportar um menino com um tubo de oxigênio. Na carta, ela explica que não pode transportar devido a normas da Agência Nacional de Aviação Civil, que exige aviões especiais, já que tubos de oxigênio são explosivos.

A TAM foi ouvida para a matéria. O que não impediu que fosse alvejada com a manchete "TAM impede garoto de viajar".

Não tem escapatória. Hoje em dia há um verdadeiro pavor de empresas e pessoas em geral de atender a determinados jornais, porque é grande a probabilidade de serem alvos de matérias maldosas. Os que não atendem são alvejados sumariamente. Os que atendem, também.

Essa síndrome do escorpião – o exercício continuado de atirar em qualquer um que passa na frente – desenvolveu-se em algumas redações nos anos 80 e transbordou. Hoje em dia, se transformou em um distúrbio invencível em algumas publicações, uma posição suicida em um momento em que erros como esses são imediatamente identificados e divulgados pela Internet.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

O que move a Veja, além do 'fato jornalístico'?

A Veja vê um interesse subalterno em tudo o que os outros fazem - desde que esses outros não sejam seus colunistas, ou, mais ainda, sócios da Abril.

Pois bem, por que a Veja não é transparente com seus leitores - até para mostrar que não é movida por interesses outros que não a busca da verdade no fato jornalístico? Por que, por exemplo, após cada reportagem em que citasse o filho do presidente Lula - a quem chama sempre de Lulinha, embora o nome dele seja Fábio -, e/ou a Gamecorp e a PlayTV, a Veja não informa que faz parte do grupo Abril, que é sócio da MTV e disputa o mesmo público-alvo com a PlayTV?

Não agindo assim, a Veja autoriza o distinto público a julgá-la com a mesma régua que ela utiliza para medir o caráter dos outros, e, portanto, a utilizar um raciocínio típico de Veja contra a própria Veja: ela move essa campanha contra a empresa do filho do presidente para defender seus interesses na MTV.

(do blog do Mello)

pra não perder o costume...

Adesão?

Leio a manchete de primeira página da Folha de S.Paulo de hoje (29/11) e padeço de um sobressalto entre o fígado e a alma: Bancos lideram doações a Lula. Comento com meus aturdidos botões: o doutor Olavo e seus pares aderiram ao PT, este partido dado a práticas ilícitas, a tramas sinistras, a engodos sem conta. Meu Deus, onde estamos? E a troco de quais garantias quanto à permanência dos juros em altos patamares e do doutor Meirelles no Banco Central, o presidente conseguiu seduzir os banqueiros? Aí abaixo os olhos, e leio aquilo que alguns jornalistas chamam de linha fina, o subtítulo em corpo bem menor, e verifico que a mesma importância doada à campanha de Lula coube também à de Geraldo Alckmin. As pulsações voltam ao ritmo habitual. Mas por que será que a Folha gosta de me espantar? Meu dia teria começado melhor se também o candidato tucano estivesse na manchete.

(do blog do Mino. Grifo meu.)

segunda-feira, novembro 27, 2006

Fonte não revelada e licença para mentir

PF NÃO DISSE QUE BERZOINI COMPROU DOSSIÊ

Paulo Henrique Amorim

Máximas e mínimas 16

. O delegado Diogenes Curado conversou por telefone na sexta-feira, dia 24, e no sábado com Fernando Tibúrcio Peña, advogado do deputado federal Ricardo Berzoini, e autorizou Peña a negar que a Polícia Federal tivesse concluido que Berzoini foi quem mandou comprar o dossiê que implica tucanos na compra de ambulâncias superfaturadas.

. O delegado Curado, da Polícia Federal de Mato Grosso, é quem chefia as investigações sobre o superfaturamento das ambulâncias.

. O delegado também disse a Peña que manteve contato com vários órgãos de imprensa para desmentir a informação. Inclusive com o repórter Kennedy Alencar, autor da reportagem da Folha de S. Paulo, que, no domingo, deu origem à informação.

. Eu conversei com o advogado Peña às 18H00 desta segunda feira.

. Falei com o reporter Kennedy Alencar para confirmar se ele conversou com o delegado Curado. Alencar me perguntou se eu queria fazer uma entrevista com ele. Disse que sim, claro. Alencar me disse que não ia revelar as fontes dele.

. A ligação se encerrou aí.

Comentário do blog: aí fica facinho, facinho. Inventa-se a cascata, que é coerente com a hipótese ou vontade do editor, e lasca-se a "reportagem" com 6 colunas na primeira página do domingão da Folha. Mas isso tem limite, pois a verdade sempre tem uma fonte que topa se tornar pública. Foi o que fez O DELEGADO QUE COMANDA A INVESTIGAÇÃO. Haja saco pra esse jornalismo à Chateubriand.

domingo, novembro 26, 2006

Folha, em editorial, assume a negação do Direito

A Folha assume hoje, em editorial, aquilo que fez durante esses últimos cinco anos: prejulgar e negar os inquéritos policiais.

O primeiro inquérito sobre o assassinato de Celso Daniel, acompanhado pelo Ministério Público de São Paulo e pela Polícia Federal – esta, a pedido do PT –, concluiu por crime comum e indiciou os assassinos, muitos presos e sendo julgados. A pedido da própria Folha, da família e do Ministério Público, houve outro inquérito policial, que confirmou o crime comum.

São cinco anos de investigações e não há nenhum indício (ao contrário do que diz a Folha), testemunha ou prova de que o crime foi político e por supostas razões ligadas à Prefeitura de Santo André ou a financiamento de campanhas do PT. Mas a Folha não se contenta em julgar e condenar o PT e substituir a polícia e o Judiciário. Quer reinterpretar a Constituição, substituir ou tomar o lugar do Supremo Tribunal Federal.

A polícia Judiciária tem a iniciativa e preside inquéritos. Nos Estados, é a Polícia Civil e na União, a Polícia Federal. A Constituição é clara sobre isso e foi votado na Constituinte. O Ministério Público tem usurpado, de forma ilegal e inconstitucional, essa função de polícia judiciária. Mesmo com isso, o Ministério Público de São Paulo e a Folha tiveram cinco anos para investigar a morte brutal e covarde de Celso Daniel e nada provaram que ligasse esse crime à política.

O único julgado e condenado nesse crime foi e é a própria vítima, que, sem poder se defender, já que a própria família não o fez, teve sua memória e biografia enxovalhada e caluniada durante todos esses anos. Também o PT e eu mesmo sofremos essa sórdida campanha e essa flagrante violação de nossos direitos constitucionais da presunção da inocência e do devido processo legal.

Com esse editorial de hoje, a Folha assume um triste papel ao lado do arbítrio e da negação do Direito. Infelizmente, não é a primeira vez.

Por José Dirceu

sábado, novembro 25, 2006

Folha de S.Paulo incorrigível

Das manchetes

Da boa entrevista de Fábio Zanini com o presidente do PT Marco Aurélio Garcia na “Folha” de 25/11.

FOLHA - Por que o sr. briga tanto com a imprensa?

GARCIA - A imprensa é que tem brigado comigo. Sempre que eu dou uma opinião que não corresponde à pergunta, que muitas vezes é uma tese, as pessoas caracterizam minha opinião como "visivelmente irritado". (...)

FOLHA - Uma reforma da Previdência também?

GARCIA - Evidentemente. Se você examinar os débitos [das empresas] com a Previdência, é mais do que o déficit. Por que vamos mudar a idade mínima se tem gente fraudando a Previdência, sonegando? Se essas coisas não derem certo, vamos estudar outras medidas. Não vamos mexer nas regras enquanto não fizermos isso.

FOLHA - Esgotadas as medidas administrativas, pode haver mexida nas regras?

GARCIA - Se eu lhe disser isso, amanhã a Folha (...)

FOLHA - O sr. acabou de dizer.

GARCIA - (...) vai dizer: presidente do PT admite reforma. Não admito. (..)

FOLHA - Durante a campanha se falou que quatro anos não eram suficientes para o PT mudar o país. Quanto é preciso?

GARCIA - Uma mudança não se faz em oito anos, ou quatro. País com um passivo social como o nosso precisa de uma geração para encontrar a embocadura do ciclo prolongado de crescimento.

FOLHA - O sr. está repetindo o [ex-ministro das Comunicações] Sergio Motta, que queria o PSDB 20 anos no poder?

GARCIA - Não estou dizendo que o PT deva ficar [no poder]. Estou dizendo que precisamos do movimento de uma geração para transformar o país, e gostaria que o PT tivesse papel protagônico. Quem decide é a sociedade.

Manchete do jornal: “Garcia defende PT no poder por uma geração”.

Do cada dia melhor Blog do Nassif

quinta-feira, novembro 23, 2006

Oposição em clima de brincadeira colegial

Por Franklin Martins

A oposição deixou claro ontem no Congresso que está inteiramente perdida. Na Câmara, foi derrotada ao propor a elevação do índice de reajuste das aposentadorias de 5,01% para 16,67%, medida que, se levada à prática, produziria um rombo nas contas públicas de R$ 8 bilhões. No Senado, comemorou em meio a gargalhadas a aprovação do projeto de Efraim Morais (PFL-PB), determinando o pagamento de benefício natalino no “Bolsa Família”. A novidade representa um custo adicional de R$ 700 milhões para o programa.

Nos discursos, os oposicionistas carregaram nas ironias: como pode um governo a favor dos humildes e dos aposentados ser contra medidas que botam mais dinheiro no bolso desses segmentos? Nas rodinhas de parlamentares, deputados e senadores do PFL e do PSDB divertiam-se por julgarem que estavam metendo o PT e seus aliados numa tremenda saia justa. Mas até que ponto isso é verdade? Não será a oposição que está entrando numa fria ao fazer brincadeira com coisa séria?

É bom lembrar que, no caso das aposentadorias, a oposição já tinha logrado aprovar no primeiro semestre o reajuste de 16,67%. Lula vetou-o, com o argumento de que a emenda era demagógica e eleitoreira. Não sofreu qualquer desgaste sério por isso, tanto que venceu as eleições com folga, inclusive entre os aposentados. No episódio, quem ficou mal na fotografia foi a oposição, que apenas montou uma armadilha para seu candidato na campanha eleitoral. Alckmin, que pregava um corte severo nos gastos públicos, foi obrigado, por honra da firma, a defender o reajuste irreal nos benefícios vetado pelo presidente. Ou seja, Lula não perdeu votos, mas Alckmin perdeu discurso.

Alguém acredita que, agora, ao patrocinar a aprovação do 13º benefício, a oposição conseguirá tirar do governo a paternidade do “Bolsa Família”? É claro que não. Ainda estão frescas as seguidas declarações de caciques do PSDB e do PFL contra o programa, muitas vezes rotulado pejorativamente de “Bolsa Esmola”. No máximo, a pirueta natalina passará a idéia de que a oposição não é coerente e, no afã de desgastar o governo, dispara para tudo que é lado. De quebra, dará a Lula oportunidade, mais uma vez, de fazer o discurso da seriedade fiscal.

Bem disse o historiador inglês Kenneth Maxwell, em entrevista recente à Folha de S. Paulo, que o Brasil está precisando de um partido conservador, que se assuma como conservador. Poderia o PFL ser esse partido? Talvez, mas antes precisa abandonar as brincadeiras juvenis do senador Efraim Morais, apoiadas com entusiasmo colegial pela bancada do partido no Senado. Poderia o PSDB ser essa alternativa? Talvez, desde que os líderes tucanos não tivessem vergonha de defender o processo de privatização e de reforma do Estado do governo Fernando Henrique. Na campanha, em vez de travar o debate político, preferiram vestir seu candidato a presidente com um jaleco cheio de logomarcas de estatais. Fizeram mais ou menos o que o senador paraibano fez agora com o projeto do 13º da “Bolsa Família”.

Não dá para entender uma oposição que não defende aquilo em que acredita e ainda morrer de dar risadas quando tromba com seu próprio programa.

quarta-feira, novembro 22, 2006

POLÍCIA CONCLUI QUE CASO CELSO DANIEL NÃO FOI POLÍTICO

Delegada diz que testemunhos indicam "suspeita aqui ou acolá sobre crime político", mas que, sem prova, isso "equivale a quase nada"

A polícia concluiu que não há provas de crime político no assassinato de Celso Daniel (PT), prefeito de Santo André seqüestrado e executado a tiros em janeiro de 2002.

Elizabete Sato, delegada titular do 78º Distrito Policial (Jardins), mandou à Justiça e ao Ministério Público relatório de 5 páginas, no qual escreveu: "Os testemunhos trazidos ao procedimento nesta segunda fase ratificaram as participações dos indivíduos indiciados no primeiro inquérito policial, alguns até trouxeram uma suspeita aqui ou acolá sobre eventual crime político, todavia, suspeita sem a devida prova equivale a quase nada."

A delegada investigou o caso durante um ano. Ela foi escalada pela Secretaria da Segurança para apurar denúncias dos irmãos do prefeito, João Francisco e Bruno, segundo as quais Celso foi alvo de crime de encomenda porque teria decidido dar fim a um suposto esquema de corrupção.

Elizabete, quase 30 anos de experiência, concluiu em outubro o inquérito 781/2005: "Decorrido um ano desde a reabertura das investigações, passado o período da 'efervescência investigativa' que suspeitava de crime político, tese defendida pelo Ministério Público de Santo André e os irmãos da vítima, certo é que estes dois últimos não apresentaram, quer seja na CPMI dos Bingos, quer seja no inquérito policial, qualquer indício que redundasse em prova que pudesse dar sustentação à suspeita."

A delegada ressaltou: "A voracidade do Gaeco de Santo André sucumbiu diante da não-demonstração de outras provas." Gaeco é a sigla da unidade de elite do Ministério Público que tem a missão de combater o crime organizado. Os promotores do Gaeco estão convencidos de que Daniel foi morto a mando do empresário Sérgio Gomes, o Sérgio Chefe. Ele nega.

Coação
A delegada ouviu os sete pistoleiros presos sob acusação de terem sido os executores do prefeito. Eles confessaram o crime, como tinham feito na primeira etapa da investigação, conduzida pelo Departamento de Homicídios.

Em sua avaliação, a única novidade foi a constatação de que L. S. N., o Lalo - na época do crime com 15 anos - , assumiu a autoria dos 7 disparos contra o prefeito 'por mando e coação' de José Edson da Silva, o Zé Edson, "este sim o principal executor do crime e indivíduo que exala violência e descomprometimento com a vida humana".

Ela dedicou um parágrafo a Dionísio Aquino, assaltante que o MP aponta como mentor do crime. Aquino havia sido resgatado de helicóptero de um presídio dias antes do seqüestro. Recapturado, ele acabou morto a golpes de estilete na Detenção Belém 2. "O elemento principal para o deslinde completo do caso talvez tenha levado consigo as informações preciosas que poderiam dirimir quaisquer dúvidas quanto à motivação do crime."

A polícia não reintimou Sérgio Chefe nem o ex-vereador Klinger Souza (PT), apontados pela promotoria como peças de 'organização criminosa estável' que teria criado poderosa rede de propinas na gestão Daniel. "É obvio que eles ratificariam suas declarações anteriores", anotou Elizabete, que destacou sua preocupação em "não transformar a investigação em um acontecimento político".

Extraído do confuso G1.com.br, das Organizações Globo

Uma agenda para manter o PFL na mídia

Por José Dirceu

O senador Heráclito Fortes me enviou uma carta em resposta ao post "Mais seriedade e responsabilidade", publicado no dia 13 de novembro, sobre sua iniciativa para criar a CPI das ONGs no Senado. Publico a carta abaixo.

Na nota, eu dizia que ele pretende fazer voltar a moda as CPIs com finalidade única de desestabilizar o governo. Ontem, o senador apresentou ao Senado seu requerimento de criação da CPI, cujo conteúdo não conhecemos ainda.

O primeiro requerimento apresentado pelo senador foi refeito, porque não trazia fato determinante. Claro. A determinação do senador é, como ele mesmo afirma, em matéria publicada em seu site, "pegar petistas que montam ONGs". Ou, como informa o site do PFL, o "objetivo é desvendar transferência de recursos públicos para entidades petistas". Ou, ainda, segundo editorial do Estadão (de 20 de novembro): "Evidentemente, ao propor uma CPI para investigar os convênios firmados pela União com ONGs a partir de 2003 e acusar o governo de ter favorecido entidades vinculadas ao PT, o senador oposicionista Heráclito Fortes quer apenas fustigar o presidente Lula." Para o jornal, ainda assim, a idéia é boa.

Para desgastar o governo, querem mobilizar o Senado, a imprensa, a opinião pública. Mas será isso um fato determinante aceitável? Não. Então, apoiado em matérias publicadas pela imprensa, o senador trata de encontrar argumentos mais concretos que sirvam ao seu objetivo.

Em entrevistas, ele elenca como fatos determinantes, conforme sua conveniência, 1. a ligação de Jorge Lorenzetti à Unitrabalho, uma rede de apoio a projetos de pesquisa; 2. matéria da Folha de S.Paulo, do dia 12 de novembro, sobre auditoria do TCU em contratos firmados entre o governo federal e ONGs, entre 1999 e 2005 e 3. repasse de recursos da Petrobras para ONGs.

Todas essas questões são fiscalizadas por mecanismos institucionais, como o Tribunal de Contas, ou investigadas pelo Ministério Público. A Unitrabalho é investigada desde o dia 25 de setembro, e deu à Superintendência da Polícia Federal e ao Ministério Público do Estado de São Paulo o acesso irrestrito às suas instalações, documentos, registros bancários, fiscais e telefônicos, como divulgou aqui. Aliás, Jorge Lorenzetti, ao contrário do que afirma o senador, nunca foi presidente da Unitrabalho e não ocupa cargo na organização desde 2005.

Tribunal de Contas
No dia 8 de novembro, o senador propôs um requerimento ao Tribunal de Contas da União de uma auditoria para examinar a regularidade dos repasses de recursos a ONGs e OSCIPs nos exercícios financeiros de 2003, 2004, 2005 e 2006. Quatro dias depois, os resultados de uma auditoria do tribunal, que já estava em curso, foram publicados na Folha de S.Paulo. Assim como a declaração, do ministro Paulo Bernardo (Planejamento), de que as recomendações resultantes serão acatadas pelo governo porque "há interesse em haver total transparência" no trato dos recursos públicos destinados às ONGs. Segundo Paulo Bernando, é preciso melhorar os mecanismos de controle desses convênios. "Queremos restringir o acesso de recursos públicos apenas a quem tem condições", disse ele à Folha.

Como as recomendações visam aperfeiçoar o sistema de acompanhamento dos convênios, e não se referem apenas a repasses realizados durante o governo Lula, não servem para o senador. Ele quer pegar petistas.

Petrobras
Sobre a Petrobras, o presidente José Sérgio Gabrielli deu uma entrevista ontem e eu já comentei em nota, hoje, neste blog. Para quem quiser mais informações, vale ler a apresentação feita por ele aos jornalistas na coletiva, publicada no site da empresa, e a nota de esclarecimento à opinião pública, em resposta às matérias de O Globo dos dias 19 e 20 de novembro, divulgada ontem e publicada na seção de notícias do site do PT.

"Em matéria de domingo, 19 de novembro", diz a nota, "de um universo de 1751 projetos sociais patrocinados pela Petrobras, o jornal 'O Globo' selecionou 25 para acusar a Companhia de favorecimento de entidades vinculadas a partidos que apóiam o governo. Na edição de hoje, O Globo afirma que a ABEMI (Associação Brasileira de Engenharia Industrial) mantém contrato com a Petrobras 'sem licitação' para favorecimento de candidatos nas últimas eleições. Afirmação e ilação absolutamente falsas e caluniosas”.

Há muitas informações no esclarecimento, vale a leitura. Por ele vê-se que o mapa desenhado pela Folha de S.Paulo, em sua edição de ontem, para mostrar como o dinheiro sairia da Petrobrás, passaria pela ABEMI e se tornaria doação para campanhas do PT é pura ficção. Simplesmente porque os recursos não são pagos às empresas, vão direto da Abemi para as instituições educacionais que participam do projeto.

Também atacados, os projetos sociais apoiados pela Petrobras atendem diretamente 2,5 milhões de pessoas. São selecionados de forma transparente, em um programa do qual participam entidades como o Canal Futura, a Fundação Roberto Marinho, a Unicef, o Instituto Ethos e a Agência Nacional dos Direitos da Infância. Ao querer jogar suspeição sobre esses projetos, o PFL e certa imprensa cometem o mesmo erro da campanha eleitoral: tentam criminalizar os ativistas que trabalham em seu dia-a-dia para mudar o país, não apenas ligados ao PT mas a todas as organizações não governamentais sérias.

Marco regulatório
Se o senador tivesse seriamente preocupado em aperfeiçoar os mecanismos de fiscalização da atuação das ONGs, faria propostas em sessões como a realizada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, de acordo com matéria da Carta Maior em 14 de maio, na qual o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) apresentou o projeto “Marco Legal do 3º Setor”. A sessão debateu os propósitos da iniciativa, o diagnóstico sobre a legislação do terceiro setor e as alternativas de melhoria nas normas.

"Para Alexandre Ciconello, da Associação Brasileira de ONGs (Abong), é preciso, sim, harmonizar a legislação das organizações da sociedade civil, mas a prioridade não passa por conceder isenções fiscais à fundações, mas por garantir a liberdade associativa das entidades deste campo, promover a abertura do Estado para o controle social por parte da sociedade civil e aprimorar os mecanismos de controle da gestão de recursos públicos. Desenvolver este conjunto de ações, diz, passa por entender que há uma diversidade tão grande de formas associativas fora do Estado e do mercado que é quase impossível falar em um terceiro setor." Isso está no site da Abong e é uma agenda positiva. Mas não serve às intenções oposicionistas do PFL.

O PFL em busca de uma plataforma
A determinação do senador em pegar petistas não tem como objetivo beneficiar o país. Trata-se somente de uma onda em fabricação para o PFL surfar no próximo ano, tentando, assim, compensar sua falta de rumo, suas disputas internas e o fato de ter sido um dos partidos que mais perdeu cadeiras na Câmara na última eleição. Elegeu 65 deputados, comparados aos 84 de 2002.

Sem entender, ainda, o processo político e de mudanças pelo qual o Brasil passa, o partido quer fazer, no Senado, uma trincheira para manter a pauta de CPIs na agenda. E certa imprensa lhe serve de suporte nessa campanha. Como na minha nota de 13 de novembro, repito aqui: A agenda do país é outra. Reformas, crescimento, investimento em educação. Essas são as questões sobre as quais precisamos nos debruçar. Deixemos o país trabalhar.

PS: vou poupar o senador de discutir a existência ou não da ONG Amigos de Plutão, na qual ele acredita. Já disse tudo o que precisava sobre isso.

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Veja aqui a carta do senador para este blog:

"Meu caro José Dirceu,

Na sua atividade de blogueiro, é seu direito defender as idéias que julgar acertadas. Como ex-colega, no entanto, deveria ter uma melhor compreensão sobre o papel de um parlamentar, sobretudo da Oposição, e jamais colocar-se como quem cerceia a atuação de um deles.

Ao propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o sorvedouro de dinheiro público em que algumas – felizmente, a minoria – das ditas Organizações Não-Governamentais se transformaram, como atesta o Tribunal de Contas da União, estou rigorosamente dentro do que prevê a atividade congressual. Diga-se de passagem, que não fundamentei meu pedido com a já famosa ONG "Amigos de Plutão". Alguns julgam-na apenas uma brincadeira, mas há quem garanta que os amigos de Plutão existem, sim; aguardemos, portanto.

É bom que se diga que quem tentou transformar CPI em moda e trampolim político foi o PT. Com resultados duvidosos, já que alguns dos atingidos pelo seu furor investigatório, este sim, irresponsável, foram até reabilitados, como no caso do ex-deputado Ricardo Fiúza, que lhe mereceu um pedido de desculpas público.

Não sou dado a modismos. E é, sim, item da agenda do país, apurar por onde escoa o dinheiro do contribuinte brasileiro. Isto é ser sério e responsável. Não sou, em absoluto, contra a atuação das ONGs, mas, sim, contra a clandestinidade no uso dos seus recursos. Este é um serviço que qualquer cidadão, e não apenas um parlamentar, deve prestar à Nação.

Com isto, estaremos também preservando aquelas organizações sérias, voltadas ao bem comum, que atuam sobretudo onde o Estado não alcança. Este é o meu objetivo. Espero que seja também o seu.

Se o governo quer impor uma agenda, que use a maioria parlamentar que diz possuir. Convém apenas que ela não seja alcançada pelos mesmos métodos de um passado recente e nem se mostre tão frágil.

Por fim, posso aceitar a sua sugestão para que investiguemos também o Sistema S. Vindo de pessoa tão bem informada e até pouco tempo um dos homens fortes do governo, ela mais me parece um alerta.

cordialmente,

Senador Heráclito Fortes"

sábado, novembro 18, 2006

Diogo Mainardi e Editora Abril condenados a indenizar Mino Carta

(Do portal Comunique-se)

O colunista Diogo Mainardi e a Editora Abril, que edita a Veja, revista em que a coluna de Mainardi é publicada, foram condenados a indenizar o jornalista Mino Carta, diretor de redação da revista CartaCapital, em R$ 35 mil por danos morais. A condenação foi imposta pela juíza Camila de Jesus Gonçalves Pacífico, da 1ª Vara Cível de Pinheiros, São Paulo. A defesa de Mainardi informou que vai recorrer.

Mainardi escreveu em sua coluna que Carta era pago pelo empresário Carlos Jereissati para editar reportagens contra Daniel Dantas, comparando o jornalista a políticos mensaleiros. O colunista afirmou ainda que em CartaCapital há mais anúncios do governo do que da iniciativa privada, o que caracterizaria dependência.

Os argumentos dos advogados de Mainardi são que ele emitiu sua opinião, sem intenção de ofender. "Além disso, os artigos representam o direito à liberdade de informação, sendo que a crítica inspirada pelo interesse público, não constitui abuso, nos termos do artigo 27, VIII, da Lei de Imprensa", sustentou a defesa.

A juíza não aceitou a argumentação. "O exercício da liberdade de pensamento e de opinião também exige o cumprimento do dever de veracidade, que não se confunde com a verdade real, mas pressupõe uma conduta diligente", afirmou.

O pedido original de indenização estendia o benefício à Editora Confiança, responsável por CartaCapital, porém a pretensão foi negada. A justiça também negou o pedido de publicação da sentença na coluna de Mainardi.

***

Obviamente esta é uma boa notícia – ainda há alguma justiça nesse país. Mas fica impossível, neste momento, não fazer a comparação: acusações levianas como as Mainardi, baseadas apenas em suposições retiradas de seu próprio suvaco, merecem a pena de uma multa num valor irrisório para a Editora Abril, mas uma constatação inequívoca feita pelo sociólogo Emir Sader, baseada em uma frase de conhecimento público proferida pelo senador Bornhausen, merece a pena de cadeia e demissão??? Realmente, não dá para entender!

sexta-feira, novembro 17, 2006

Emir Sader e o rancor da mídia

Um samba popular
Emir Sader

Vozes da imprensa aparecem para atacar-me tentando manchar minha trajetória e minha atuação política e intelectual. Indago: por que eu, de repente, sou projetado à pauta da imprensa? Sempre tratei de pautar minha atividade de forma discreta, pois acredito que o mais importante são as idéias e as possibilidades de diálogo com as forças sociais, políticas e culturais, em defesa de um outro mundo possível.

Indago também: por que o editor de Política da Folha de S. Paulo utiliza dois artigos seguidos sem sequer escutar as pessoas que ataca? Ele, que escreve uma vez por semana, se deu ao trabalho de utilizar a metade dos artigos que publica no mês para tentar me desqualificar, levantando ataques infundados e com linguagem grosseira – no que foi acompanhado por uma colunista do caderno de cidades.

Nenhuma solidariedade diante do processo do presidente do PFL, apenas ataques. Que se voltaram também contra a Boitempo e sua editora, Ivana Jinkings, cujo trabalho editorial é reconhecidamente de alta qualidade, com a publicação de alguns dos melhores autores nacionais e estrangeiros, em meio a um universo completamente comercializado e mercantilizado.

Por que a imprensa opta por essa pauta, quando deveria estar preocupada em fazer um balanço autocrítico da pior cobertura – e a mais violenta – de uma campanha eleitoral? Vendo que as suas “verdades” não foram aceitas pela maioria, por que não abre um período de reflexão e de debate para compreender os motivos que levaram os leitores a se apoiarem na mídia alternativa?

Uma parte importante da resposta a essas interrogações certamente pode ser encontrada na constatação evidente de que ela perdeu a capacidade que julgava ter de “fabricar consensos” – na expressão de Chomski –, definindo a pauta sobre o que o país deve discutir, decidindo a versão e elegendo os bons e os maus em cada tema.

No lugar de uma justa cobertura, optou por reviver um anacrônico lacerdismo, com insinuações golpistas, ecoando a exortação de que estava na hora de o poder voltar às mãos tucano-pefelistas antes mesmo do sufrágio popular, no pior estilo da imprensa que preparou a opinião pública para o golpe militar.

E incomodam, sobretudo, as manifestações de apoio que recebemos – não pessoalmente, mas como vítima daquele processo –, a ponto de que os artigos mencionam o manifesto, mas o jornal, reiterando a linha de editorializar todo o noticiário, nunca o publicou ou se referiu à extensão desse apoio – chega a 15 mil assinaturas – ou ao peso dos que o assinam.

Fosse pela Folha, os seus leitores não saberiam que manifestaram sua solidariedade pessoas como Antonio Candido, Chico Buarque, Luis Fernando Veríssimo, Francisco de Oliveira, Eduardo Galeano, Perry Anderson, István Mészáros, Leonardo Boff, entre tantos outros.

Ao que tudo indica, incomoda que um personagem a quem querem desqualificar com linguagem indigna de qualquer debate de idéias receba solidariedade tão ampla e qualificada, enquanto os articulistas têm de se limitar a extremismos verbais e a carreiras sem nenhuma presença intelectual, com artigos descartáveis.

O mais importante é que algo novo acontece no Brasil, e os setores conservadores resistem a aceitar. Não possuem mais o monopólio do discurso e agora tem de dividir o espaço com a imprensa crítica, como Carta Capital, Carta Maior, Brasil de Fato, Caros Amigos e tantas outras publicações que formam o público-leitor, assim como vários blogs que trabalham nessa mesma direção.

Ataques pessoais fazem parte dessas tentativas de desqualificação, para tentar mostrar que não haveria nenhum comportamento possível que não o da submissão aos interesses criados, que fizeram do Brasil o campeão mundial da desigualdade. A existência de um pensamento que sustenta esse quadro social somente será abalada com transformações que atinjam os privilégios seculares dos setores protegidos pela mídia oligopolista.

O processo e o ataque desses setores embutem um recado: todos os que mantiverem o pensamento crítico e autônomo podem sofrer pesadas conseqüências, da desqualificação à perda do cargo obtido por concurso e mesmo à prisão. É um recado também para a universidade pública: silenciem!

Os esclarecimentos das acusações feitas por essa nova direita – com cheiro claramente bushista, de pensamento único – podem ser encontrados na página do projeto Outro Brasil.

Os chacais – como os chamava Julio Cortázar – seguirão atacando, mas a caravana passa, com a força do povo, e seguirá adiante, construindo um novo país e um outro mundo possível, com a força do pensamento crítico, das forças sociais, políticas e culturais comprometidas com um Brasil e um mundo livres das oligarquias e do monopólio do dinheiro, das armas e da palavra.

A caravana passa, com a força do povo, e segue adiante, fortalecida com as belíssimas vitórias conseguidas, apoiada na massa pobre da população que nunca acreditou nessa mídia, que nunca vacilou na sua decisão de apoiar a construção de um Brasil melhor, mais humano, solidário e democrático. Apoiada na altivez e na dignidade da intelectualidade crítica e independente, que acredita na força das idéias e na força do povo. Já está passando, “nesta avenida, um samba popular”.

quarta-feira, novembro 15, 2006

"Folha" terá de pagar indenização no caso Escola Base

A empresa Folha da Manhã, que publica o jornal Folha de S. Paulo, teve negada tentativa de ver apreciado recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que contestava o pagamento de indenização aos proprietários da Escola Base. Com isso, fica mantida a condenação imposta pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ/SP) de R$250 mil para cada um dos três acusados que moveram a ação por dano moral contra o jornal. Em 1994, falsas denúncias de abuso sexual dos alunos foram feitas à polícia por pais e divulgadas amplamente pela imprensa, apontando os proprietários da Escola de Educação Infantil Base, seus funcionários e professores como envolvidos nos supostos crimes. A escola acabou depredada e saqueada, com os apontados sofrendo "linchamento moral".

Arquivado o inquérito por falta de provas, Icushiro Shimada e sua esposa, Maria Aparecida Shimada, proprietários da escola, e Maurício Monteiro de Alvarenga, motorista, ingressaram com pedido por danos morais. O ministro Aldir Passarinho Junior, relator do caso no STJ, entendeu que não há razão para análise do recurso especial contra a decisão do TJ/SP alegadas pela empresa, mas apenas um desfecho contrário aos interesses da Folha. O ministro destacou ainda que não se trata de hipótese de revisão do valor da indenização, porque o valor não é abusivo frente às gravíssimas e infundadas imputações feitas com grande alarde contra os proprietários e o funcionário. Inicialmente, em 2003, a sentença de primeiro grau havia condenado a Folha da Manhã ao pagamento de 1.500 salários mínimos para cada acusado, mais juros de 1% ao mês a partir da citação. A empresa apelou, mas o TJ/SP manteve a condenação, reduzindo o valor. Segundo a defesa dos implicados no caso, em decorrência das falsas denúncias, Icushiro sofreu um enfarte, Maria Aparecida estaria vivendo à base de tranqüilizantes e Maurício teria se separado da esposa.

(do blog Os amigos do Presidente Lula)

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O caso da Escola Base é um ícone do poder devastador da imprensa, especialmente quando usada de forma irresponsável. As três pessoas julgadas e condenadas sem provas pela grande imprensa por um crime que não cometeram, tiveram suas vidas irremediavelmente prejudicadas. Dias, meses de massacre em rede nacional não se apagam com um simples desmentido. Ó, erramos, foi mal, viu?, vocês não eram mesmo culpados! Basta? Quem devolve a eles os dias de pesadelo? As angústias, as acusaçãos, a dignidade perdida pela sombra da suspeita hedionda que passou a os acompanhar como uma tatuagem na testa? Quem devolve a eles seu trabalho, quem os contrataria novamente para trabalhar em uma escola infantil? É no mínimo revoltante que até hoje eles não só não tenham recebido a indenização à qual têm direito, como que o jornal que levianamente destruiu suas vidas ainda lute para revogá-la! Fosse uma empresa séria, faria questão de pagar e ainda reconheceria que isso é o mínimo a ser feito diante do mal causado que não pode ser desfeito.

Infelizmente, o que temos visto nos últimos meses é uma banalização desse tipo de comportamento. Crimes que não existem viram manchetes condenatórias, suposições viram certezas, certezas são escondidas porque não convém que venham a público e quando não dá mais para se sustentar a farsa, simplesmente muda-se de assunto, não há nem a decência da retratação. Aliás, corre-se sério risco de que pedidos de retratação sejam rechaçados como "golpes contra a liberdade de expressão".

Independente de nossas posições políticas, de nosso voto, de nosso agrado ou desagrado com o resultado das eleições, não podemos nunca nos esquecer que os diretores da Escola Base são pessoas comuns, como nós. São trabalhadores honestos que por uma leviandade sem tamanho tiveram suas intimidades distorcidamente expostas e julgadas pela mídia. Eles poderiam ser qualquer um de nós, e é por isso que cobrar isenção da imprensa não tem nada a ver com posição política.

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(charge: Maringoni)

Estadão, me engana que eu gosto

15 de Novembro de 2006 @ 12:05 por Alceu Nader, do Contrapauta

Estadão manipula informação sobre crítica ao apoio de Lula a Chávez

O truque é velho e manjado, mas volta e meia reaparece na imparcialíssima e irrepreensível imprensa brasileira. A prestidigitação consiste em dar voz a uma instituição – de preferência, alguma que tenha respeito público – para a projeção de uma opinião contundente na primeira página, quando, na verdade, quem fala é somente uma pessoa ligada à mesma instituição. Se a leitura ficar nos títulos, comeu-se gato por lebre.

O Estado de S.Paulo traz uma dessas mercancias na edição de hoje. Na chamada de primeira página, lê-se: “Conselho Eleitoral da Venezuela critica Lula”. Logo abaixo, lê-se que o presidente brasileiro foi criticado “por um diretor do Conselho”. Na p. 4, ocupando as seis colunas, de novo, o título: “Conselho Regional da Venezuela vê intervenção grosseira de Lula no país”, mas apenas no final do quinto parágrafo é que se lê que o Conselho, uma organização independente que existe para organizar e fiscalizar as eleições no país vizinho, tem cinco diretores e que o diretor usado como ventríloquo para falar pelo órgão, Vicente Díaz, “é o diretor mais próximo da oposição”.

Três agências assinam a reportagem reeditada pelo Estado – Associated Press, Agência France Press e EFE, da Espanha. Breve visita ao jornal El Universal de Caracas, que exerce oposição feroz a ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, mostra outra coisa: a reportagem é de autoria do próprio jornal. Mais: o jornal venezuelano não tergiversou nem escondeu a informação sobre o autor da opinião. Logo na abertura, esclarece: “a título pessoal – e sem respaldo do resto dos membros do Poder Eleitoral (o Conselho) – Vicente Díaz qualificou como uma ‘intervenção grosseira, em assuntos de estrita competência dos venezuelanos’ as palavras de apoio do presidente reeleito do Brasil”.

Acima a desonestidade editorial, uma outra pergunta provoca: Se Chávez, com o dinheiro fácil do petróleo, desbancou Lula como líder da América do Sul, porque o mesmo Chávez precisaria de Lula para fortalecer sua campanha eleitoral?

Indignação quando convém

Diferenças na repercussão da suposta intimidação aos repórteres de Veja e da condenação de Emir Sader

Da Redação de CartaCapital

Há várias formas de impedir avanços democráticos em uma sociedade. Um deles, talvez o mais eficiente do ponto de vista de quem defende determinados privilégios, é bloquear a discussão sobre certos temas. No Brasil, os donos da mídia decretaram ser proibido debater seus erros e excessos, desnudar seus interesses ou apresentar, sobre o papel dos meios de comunicação, uma visão diferente.

A respeito, vale citar declaração recente do deputado federal Ciro Gomes, eleito com mais de 600 mil votos no Ceará e um dos políticos mais demonizados pela imprensa justamente por ter idéias próprias. Em entrevista ao blog Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, sediado no portal iG, Ciro refletiu: "Precisamos ter clareza de que não temos de ter medo de avançar em uma questão substantiva, que é a questão da democratização dos meios de comunicação. Quando a gente discute esse tema, os que têm o monopólio da mídia vão sempre inventar que isso é autoritário. Não é".

Dois casos exemplares da última semana mostram como levantar a bandeira da liberdade de imprensa é uma questão de conveniência dos veículos de comunicação.

A suposta intimidação de três repórteres da Veja, convidados a depor na Polícia Federal por causa de uma reportagem, produzida pela própria revista, que revelava um hipotético encontro às escondidas entre Freud Godoy e Gedimar Passos, mereceu editoriais indignados e alentados textos nos principais jornais e emissoras de tevê. Instituições de classe e a sempre atenta OAB lançaram notas a repudiar a "truculência" da PF e a exaltar a liberdade de imprensa. Como de costume.

Sutileza não faz parte da personalidade de policiais. Não há aqui defesa de ilegalidades por parte do aparelho de Estado. Nem se descarta a possibilidade de o delegado que ouviu os jornalistas ter cometido excessos injustificáveis contra cidadãos, qualquer que seja a profissão ou posição social, durante o depoimento.

Mas a situação está no seguinte pé. Em nota oficial, a direção da revista diz que seus profissionais foram intimidados. Também em nota, a Superintendência da PF em São Paulo nega. Em uma terceira correspondência, a procuradora Elizabeth Mitiko Kobayashi, escalada para acompanhar os depoimentos por ser representante de um órgão independente, afirmou que, no seu entendimento pessoal, não houve "qualquer ato de intimidação por parte da PF, o que teria provocado imediata reação de minha parte".

A repercussão do episódio relativiza, porém, as versões fornecidas pelas partes. Enquanto editoriais e textos tratam as acusações de Veja como expressão da verdade absoluta, as negativas da PF e da procuradora são colocadas no condicional, desde sempre tratadas com salutar espírito crítico e distanciamento. Pergunta: Por que não proceder da mesma maneira em relação às declarações da revista? Por ora, interpretemos a reação em cadeia ao que teria sido um "ataque à liberdade de imprensa" na conta do viés corporativista tão recorrente. Corporativista, diga-se, quando, de certa forma, está em jogo a credibilidade das empresas de mídia.

A mesma solidariedade ou indignação não se nota, por exemplo, no caso da condenação do sociólogo Emir Sader, em processo movido pelo senador pefelista Jorge Bornhausen. Sader, em artigos na imprensa, havia chamado Bornhausen de "racista" por causa da famosa declaração do senador em que ele anunciava "o fim dessa raça", ao se referir ao PT e a esquerdistas em geral.

O juiz auxiliar da 22ª Vara Criminal de São Paulo, Rodrigo César Muller Valente, condenou Sader a um ano de detenção, em regime aberto, e à perda do cargo de professor na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Cabe recurso.

Inaudita a decisão de Muller, pela tipificação do suposto crime, injúria, que teria sido cometido por Sader. Além do mais, é difícil negar que a frase do senador tenha sido racista, apesar de suas justificativas posteriores. Raras, porém, foram as manifestações de indignação diante do claro excesso do magistrado e da pena desproporcional. Em geral, deram-se em sites e blogs na internet. Nem uma linha em editoriais dos maiores jornais. Não houve sequer um colunista que tenha se comovido. Estes sempre vigilantes quando se trata não de defender um princípio, mas uma companhia. Ou um grupo delas.

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Em tempo:

- Em 8/11, o promotor Renato Eugênio de Freitas Peres entrou com recurso contra a decisão do juiz Muller Valente. A íntegra do recurso pode ser lida no site da Agência Carta Maior, aqui.

- Mais uma vez, a internet mostra sua força ao abrigar um manifesto contra a condenação política do sociólogo Emir Sader. Para ler e assinar o manifesto, clique aqui.

Combate à corrupção: PF manda ver contra políticos, entre eles filho de tucano

Relatos da imprensa hoje, reproduzidos no blog do Zé Dirceu, dizem muito do que tem sido o governo Lula. Noves fora o denuncismo quase sempre vazio da oposição, a PF tá pegando pesado com esquemões antigos, em todo o país. Um legado que vai se consolidando: acabou o tempo da impunidade.

1. Operação desencadeada pela Polícia Federal e a Controladoria Geral da União (CGU), ontem, em Pernambuco, levou à prisão do deputado estadual Claudiano Martins (PMDB) – que se encontrava em Caxias, no Maranhão –, de três prefeitos, um ex-prefeito, um empresário, secretários de Finanças e presidentes e ex de comissões de licitações de prefeituras no Agreste e no Sertão do Moxotó. (...) A PF revelou que os desvios de recursos da União podem ter atingido a R$ 10 milhões, porém, ao final da tarde, a assessoria da CGU encaminhou informe à imprensa revelando que as fraudes podem ultrapassar a R$ 17,6 milhões. [Jornal do Commercio]

2. A Polícia Federal prendeu ontem dez pessoas suspeitas de integrar um esquema de fraudes na Previdência Social, no Pará. Um dos presos é o consultor Marcelo França Gabriel, 38, filho do ex-governador Almir Gabriel (PSDB-PA), que disputou novamente o cargo neste ano, mas foi derrotado. Marcelo Gabriel foi levado para a sede da PF em Belém, onde foi ouvido pelo delegado Caio César Bezerra. Para Clodomir Araújo, advogado do consultor, o envolvimento de seu cliente foi uma tentativa de atingir o ex-governador tucano. (...) O esquema pode ter causado um prejuízo de R$ 9 milhões aos cofres públicos. [Folha de S.Paulo]

terça-feira, novembro 14, 2006

Mais do mesmo: o debate sobre o gasto público

O tema foi deixado de lado durante a campanha eleitoral, mas teima em retornar entre aqueles – bem ou mal intencionados – que procuram soluções para o Brasil crescer em ritmo mais acelerado do que tem crescido. O artigo de Luís Nassif, publicado em seu ótimo blog, acerta em questionar o raciocínio tecnocrático dos "cabeças de planilha", como engraçadamente batiza a maioria dos economistas que advogam cortes indiscriminados visando o equilíbrio das contas públicas. Uma discussão antes de tudo pertinente.

A eficiência ineficiente

por Luís Nassif

Estava folheando o livro “Gasto Público Eficiente”, lançado pela Topbooks, com vários autores e prefácio de Rubens Ricupero.

Francamente, não sei quando esse tema relevante vai sair das generalidades dos economistas e ser entregue a gestores com sensibilidade social e política e conhecimento de indicadores de desempenho. É inacreditável a miopia desse pessoal.

Setor público não é empresa. A meta do setor público é atender bem sua clientela: os cidadãos. Esse é o ponto de partida de qualquer projeto de gestão eficiente.

A partir do momento em que se definam indicadores de qualidade de atendimento, e metas a serem alcançadas, começa a se entrar nos processos e acrescentar metas de redução de custos e melhoria de processos. Legitima-se a racionalização com transparência que assegure que a qualidade dos serviços não será piorada, ou poderá até ser melhorada.

Mas esse pessoal não sabe avançar além da tesoura sem nenhum critério, nenhuma sensibilidade política, quanto mais social.

Propõem reduzir subsídios relativos às aposentadorias e pensões. Que subsídio? Com crescimento de 5% há subsídio? Se retirar a assistência social, há subsídio?

Propõem acabar com um salário mínimo de pagamento aos maiores de 65 anos, mesmo que não tenham contribuído, porque “sinaliza à população jovem de baixa renda que não vale a pena contribuir para a previdência”. Ora, por conta da estagnação e da insensibilidade social imposta por esse tipo de pensamento, a opção do jovem não é entre contribuir ou não contribuir, mas de entrar ou não para o crime. Se nem essa história de déficit conseguiu se legitimar, como irão fazer para avançar contra os abusos? Cortando do velhinho da zona rural? Tenha-se a santa paciência!

Propõem a extinção do FGTS, o fim da gratuidade do ensino superior, a redução no volume de transferência de recursos para estados e municípios, redefinição dos critérios de partilha do Fundo de Participação dos Municípios.

Esse tempo passou. Há a necessidade de racionalização dos gastos públicos, sim, mas dentro de uma nova ótica, que leve em conta a missão do serviço público. Enquanto esses especialistas-do-valor-agregado não entenderem isso, não aprenderem a trabalhar com indicadores de desempenho e metas com o setor privado, nao completarem sua formação com um mínimo de conhecimento político e social, continuarão isso: anacrônicos e generalistas

Vida nova, roupa nova!

Então, aos poucos retornando da ressaca pós-eleitoral, este blog começa aqui sua nova fase. De novo layout e nova proposta, uma vez que a primeira - contribuir para a reeleição do Presidente Lula – foi cumprida, com a participação de mais de 52 milhões de brasileiros!

Daqui pra frente, é ficar de olho, no governo, na grande mídia, na zelite, e no que mais possa afetar os interesses dos cidadãos brasileiros. Continuamos na luta, afinal, cidadania se faz em qualquer tempo!

domingo, novembro 05, 2006

Agora, é ficar de olho

Clarice, Ludmila,
Ganhamos a eleição. Nossas convicções mais caras foram avalizadas por sessenta milhões de brasileiros que confiaram no "homem" como nós mesmos confiamos. O "Votolula" perde sua razão de ser ao terminar a apuração.

O que fazer com o espaço-cidadão que tão generosamente nos serviu, servindo-se de nós e de nossos colaboradores? Que destino dar a esta vetusta instituição alternativa que se consolidou como centro de referência - centrípeto e centrífugo - do lulismo crítico?

Em conversa com a Clarice, delineamos a proposta de servirmos como observadores da mídia, no que tange à cobertura política. A mídia, sim senhores, pois ela se tornou o locus por excelência no qual se "desarolla" a política contemporânea. Sem mídia não haveria Al-Qmin, e Lula seria muito menor do que é.

Isto posto, proponho adequar este espaço ao novo desafio, se todos concordarem. Sugiro, de cara, mais destaque ao nome. Votolula, e ponto final, com melhoria da arte da testeira e assumpção da marca.

Podemos pensar em mudar de cor também, afinal o Lulismo não é mero petismo, ainda que tenha este último diversos pontos de contato e aproximação.

Vamos escrever e copiar-colar críticas ao desempenho da mídia na tarefa de fazer a cobertura do governo Lula. Vamos acompanhar e denunciar os colunistas vendidos ao tucanismo-pefelista e acompanhar e divulgar aqueles analistas capazes de fazer a crítica honesta ao governo, ao presidente da República, aos contribuidores ao governo.

Vamos fazer o debate e ocupar os espaços, nesta luta gramsciana pela hgemonia. Que fique claro desde já: a internet é nossa. Aqui ninguém tasca. Temos áudio, vídeo, texto e lista de distribuição para lutar pela democratização dos meios de comunicação e para defender o progressismo representado por Lula e o governo reeleito por nós em 29 de outubro de 2006.

Estas são as armas que temos. E estamos decididos a usá-las.

E temos dito.

segunda-feira, outubro 30, 2006

preconceito que cega

Quem acompanha esse blog sabe que fiz campanha para Lula durante praticamente todo esse ano. O que mais cansei de ler/ouvir da oposição – aqui, por e-mail ou nas ruas – foram ofensas pessoais sem qualquer embasamento que pretendiam me desqualificar como pessoa, na tentativa de desqualificar a minha opção de voto. Ou eu era "burra" ou era "criminosa" também, para usar apenas dois dos adjetivos mais leves que me foram imputados.

Tive a ilusão de que o fim da disputa - fosse qual fosse o resultado - permitiria o desanuviamento desse véu de ódio e preconceito que tanto cega os defensores do projeto tucano. (Vejam bem, eu optei por votar no Lula, mas eu ainda acredito que em algum lugar o PSDB ainda deve ter um projeto, um programa de governo, propostas para o futuro. Alckmin foi incompetente até para mostrar e defender seu programa, como poderia ser um bom governante?)

Durante toda a campanha foram pouquíssimas as vezes que me apareceu algum simpatizante de Alckmin querendo discutir sem ofender, debater idéias sem me desqualificar. Pessoas do meu círculo próximo, pessoas de quem eu jamais esperaria tanta baixeza, pessoas que estão cansadas de saber que eu sou classe média assalariada cheia de contas penduradas para pagar, vieram insinuar que eu devia estar "levando o meu por fora para defender esse governo". (Não sei se é pra rir ou pra chorar, mas quem quiser fuçar meu extrato bancário que fique à vontade! Quem sabe alguém se penaliza e me ajuda a pagar as dívidas que tanto me sobrecarregam?)

No meio de mais uma enxurrada de sofismas e retórica vazia, me deparei com um texto na Central de Mídia Independente que me motivou a escrever este post, inicialmente uma resposta publicada lá. O texto traz uma única frase com a qual concordo plenamente: "a vitória de Lula por um número expressivo de votos não significa uma absolvição pelos crimes de seu governo, nem um passaporte para a continuação, no próximo governo, dos atos ilegais e antiéticos do seu atual governo". Logo na seqüência, vai por terra minha esperança de um debate qualificado: "uma parcela significativa da população, que votou em Alckmin, repele este tipo de comportamento".

Quero deixar claro que eu e os milhões de eleitores de Lula também repelimos o que o autor chama de "esse tipo de comportamento" - corrupção, compra de votos, sanguessugas, caixa dois, etc. Se nós votamos em Lula não é por aceitar a velha prática do "rouba mas faz", como a oposição tanto infla o peito para acusar. Se nós votamos em Lula foi porque vimos que, "pela primeira vez na história desse país", a Polícia Federal vem tendo liberdade para investigar e indiciar suspeitos, não são barradas CPIs escandalosas nem são protegidos os amigos do Presidente. Errou, paga. É suspeito? É afastado até que tudo se esclareça. Todos sabemos que 70% das ambulâncias superfaturadas foram liberadas no governo FHC, mas a indignação seletiva que assolou esse país não permite que o povo se indigne com o que não venha do PT!

Pois eu me indigno com o que é errado, venha de onde vier. Suspeito não é culpado, a única forma legítima de se julgar e condenar alguém é investigando e recolhendo PROVAS. E eu não pretendo absolver nenhum crime que venha a se PROVAR que o governo Lula cometeu. Pelo contrário, meu voto este ano vem com muito mais cobrança do que os outros. Quero acompanhar de perto, fiscalizar, exigir prestação de contas e respeito pelo meu voto e pelos 58 milhões de votos que Lula teve. Quero que quem errou seja punido e afastado, mas não vou jogar fora o bebê junto com a água do banho!

Acredito que o programa de governo apresentado por Lula é sim o melhor que esse país já teve, o crescimento responsável com distribuição de renda era uma urgência para esse país a beira de um colapso, e Lula começou a arrumar a casa. Nós já sabíamos que não seria em quatro anos. Se foi mais lento do que esperávamos, era porque esperávamos demais, porque tínhamos uma esperança sufocada por décadas de desgoverno. Se foi mais lento do que esperávamos, pelo menos agora temos a certeza que estamos devagar, mas estamos na direção certa!

Com certeza há divergências sobre essa direção, sempre haverá divergências num regime democrático. O que eu espero, sinceramente, é que os divergentes saibam ter humildade para reconhecer que foram minoria, que a vontade do povo é soberana, mas que nem por isso eles devem ser alijados do processo democrático. Espero que os divergentes consigam se livrar da viseira do preconceito e participem de forma positiva da construção do nosso futuro. Oposição crítica, construtiva e inteligente é sempre bem vinda. Mas ninguém ganha NADA com esse fundamentalismo violento.

domingo, outubro 29, 2006

VIVA O NOSSO PRESIDENTE!!!



É LULA DE NOVO, COM A FORÇA DO POVO!

sexta-feira, outubro 27, 2006

Se é para o bem do povo e para a felicidade geral da nação...

(Nelson R. Perz, em seu blog Bué de Bocas)

Hoje tem cientista política chorando com saudade dos showmícios.
Tem ex-presidente se declarando contra o golpe que não deu certo: "Essa não é minha idéia. Eleição você respeita. O povo decidiu está decidido".
Tem jornalista pregando a abstenção.
Tem bolos de dinheiro (reais e dólares) dos tucanos apreendido no Paraná pela PF e impedido pela justiça eleitoral de terem suas fotos divulgadas.
Tem mais dinheiro tucano apreendido na Paraíba.
Tem o silêncio dos colunistas de plantão e a censura interna no imprensalão.
Tem uma pespectiva de vitória acachapante do governo em todo o Brasil.
Tem fuxico de um novo partido para José Serra.
Tem o velório do PSDB e PFL.
Tem mais de 100 análises de "como e o por que" o presidente Lula chegou às portas da reeleição.
Tem de tudo...menos um singelo reconhecimento que, desde a primeira hora da campanha, o eleitor brasileiro já tinha seu candidato guardado no peito.
Em nenhum momento nessa eleição colunistas, blogueiros e cientistas políticos reconheceram..."é o Lula que o Brasil quer". Nenhuma linha.
Em nenhum momento as ameaças de virada deixaram de ser crescentes, deixaram de estar nas manchete e nas penas e nas bocas das matildes.
Em nenhum momento a voz das ruas se sobrepôs aos factóides.
Enquanto a rua dizia o que queria, o imprensalão imprimia o que bem entendia.
Dia 29, domingo, queira ou não, o povo vai marcar o 13 que há muito estava escolhido, a farra da direita conservadora acabou.
As análises e comentários publicados hoje têm ao fundo um tom de choro, de desdém. O golpe da elite nacional, amparado vergonhosamente pela imprensa, está vagarosamente morrendo na praia.
Dia 29, domingo, os envergonhados vão entrar e sair rapidamente das suas zonas eleitorais, cada um levando seu constrangimento, sua desculpa, seus resmungos.
A maioria esmagadora dos brasileiros não! Essa vai às urnas sorrindo, vai exigir - direto constitucional - que o presidente continue por mais 4 anos.

Lula da Vila Euclides, que hoje completa 61 anos, nunca sonhou em ganhar de presente esse bi-campeonato. Mas se é para o bem do povo e para a felicidade geral da nação... certamente ele fica!

De onde veio o dinheiro?

A Polícia Rodoviária Federal apreendeu ontem à noite, na Paraíba, uma mala com dinheiro que seria distribuído pelo diretor do Departamento Administrativo e Financeiro da Secretaria do Controle da Despesa Pública do governo estadual, Gláucio Arnaud de Medeiros, a prefeitos, vereadores e líderes políticos do interior da Paraíba, aliados do governador Cássio Cunha Lima (PSDB), que é candidato à reeleição.

Na mala, a PRF encontrou cerca de R$100 mil em espécie. O dinheiro foi apreendido na cidade de Bayeux, na Grande João Pessoa, num Celta dirigido por Raimundo da Silva, que se identificou como funcionário da secretaria. Na mala, segundo a PRF, havia dez envelopes com dinheiro. Cada envelope era destinado a um líder político. Dentro dos envelopes havia dois pacotes de dinheiro. Um era destinado ao prefeito. O outro era destinado aos vereadores, cujos nomes estavam escritos em uma folha de caderno.

Dentro de cada envelope também havia um CD com a inscrição "Cássio 45", que se caracteriza como propaganda do governador, segundo o patrulheiro Agnaldo Lopes, que comandou a apreensão. O policial abriu apenas o envelope endereçado a Adalcindo José de Freitas, ex-prefeito de São Sebastião do Umbuzeiro. Dentro do envelope de Adalcindo, estavam 120 cédulas de R$50 (R$6 mil no total). Do total, R$4 mil seriam destinados a Adalcindo. Outros R$2 mil seriam entregues a seis vereadores e líderes.

Os outros envelopes estavam endereçados a Lucivaldo Vaz Henrique (ex-prefeito de Zabelê), Fred Menezes (ex-vereador de Monteiro e diretor de Operações do jornal "A União"), Marcel Nunes (prefeito de Prata), Djaci Aleixo dos Santos, conhecido como Chuta (ex-vereador de Monteiro), Ivanildo Mendes de Sousa, conhecido como Galego da Granja (comerciante em Monteiro), Robério Vasconcelos (prefeito de Zabelê), Paulo Sérgio (suplente de vereador em Monteiro), Aristeu Chaves (ex-superintendente da Polícia Civil na região do Cariri e prefeito do município de Camalaú). Os nomes em outros dois envelopes não foram identificados. Lucivaldo, Paulo Sérgio e Adalcindo são líderes políticos da região do Cariri ligados ao ex-deputado e hoje secretário-executivo adjunto da Secretaria Estadual do Controle da Despesa Pública. - A informação dizia que era uma grande quantia em dinheiro, para a compra de votos. Aparentemente se confirma - disse o inspetor Nunes.

(do blog Os Amigos de Presidente Lula)

PFL e PSDB aparecem no meio da história do dossiê

(Reproduzido do blog do Zé Dirceu)

Essa história dos dólares do dossiê está ficando muito estranha. Apareceram duas pessoas com ligações com o PFL, sob as quais pairam suspeitas de lavagem de dinheiro. Mas falta verificar ainda qual a relação delas com o caso do dossiê.

Hoje, a Folha diz que Centaurus Turismo e Câmbio – uma das casas pelas quais a PF suspeita terem passado os dólares da negociação do dossiê – tem como sócio Aristoclides Stadler, que é irmão do segundo-suplente do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), Ari Stadler.

Ontem, um nome que tinha saído pela manhã no Estadão (para assinantes) reapareceu à tarde, no site Terra, na matéria "Depoimento sobre dossiê envolve dono de pousada em MG". É Gérson Luiz Cotta, ou simplesmente Gérson da Pousada. Dizia o texto do Terra:

"Um dos próximos depoimentos que a Polícia Federal deverá ouvir no caso do dossiê será o do terceiro suposto 'laranja', Gérson Luiz Cotta, dono de uma pousada em Ouro Preto. Conhecido como Gérson da Pousada, Cotta foi candidato a vereador, em 2003, pela coligação 'Muda, Ouro Preto', formada pelo PTB/PFL/PSB/PSC, mas teve apenas 237 votos. Desde o depoimento de uma de suas funcionárias, ele permanece incomunicável. A informação é de que estaria em viagem".

Cotta aparece no site do TSE como candidato a vereador pelo PFL em 2004, concorrendo com o número 25.660. Leitores deste blog comentaram que é um "inimigo histórico" do PT em Ouro Preto. Já a Polícia Federal, segundo o Terra, ao falar da pousada, "suspeita que o estabelecimento é utilizado para a prática de lavagem de dinheiro". O site relata que as duas moças que teriam sacado dinheiro numa casa de câmbio "têm parentes em Magé, no Estado do Rio de Janeiro, cidade na qual outra família também teria sido utilizada como 'laranja' para transações comerciais da Vicatur".

No caso de Cotta, pode ser um desses casos indecifráceis de homônimos, já que o Gérson da Pousada, no TSE, é Luiz com "z", e o Gerson da Pousada Ouro Preto, na internet, é Luis com "s". Pode ser também um erro de digitação.

De qualquer maneira, é preciso acompanhar essa história, já que a única coisa certa até agora é a ligação dos dois com o PFL, o que é de se estranhar. Como disse na Folha o advogado da Centauro, Charles Machado, "imagine o irmão de um pefelista trabalhando para o PT", e o mesmo vale para o dono da pousada.

Outro suposto laranja, Agnaldo Henrique de Lima, já foi desmascarado pela Polícia Federal. De acordo com a Reuters, as movimentações financeiras que ele assumiu (disse que recebeu R$80 mil em sua conta do empresário Luiz Armando Ramos) não existem.

Lima foi apresentado à imprensa por Rosy Pantaleão. Mas agora à tarde já se pode ler, no O Globo Online, que além de fundadora e secretária executiva do PSDB em Pouso Alegre (MG), Rosy Pantaleão aparece no expediente da TV UAI Network como diretora de conteúdo e jornalismo da empresa.

Hoje pela manhã, a Polícia Federal disse, de acordo com a Reuters, que é falsa a versão de Agnaldo de que teria sido o "laranja" numa operação de repasse de R$250 mil para Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo paulista. Na conta de Agnaldo, não havia nenhum depósito de R$80 mil. Não conseguiram comprovar as movimentações que ele disse existirem. Era uma farsa.