sábado, outubro 07, 2006

Anti-racismo eleitoral

(do jornalista Franklin Martins, publicado no dia 26/9 no Observatório de Imprensa)

Pretendia escrever a coluna de hoje sobre as discrepâncias entre as mais recentes pesquisas do Ibope e do Datafolha. Mas mudei de idéia ao ler matéria publicada no Estadão desta segunda-feira sob o título "Rigor com a corrupção na política varia com região e condição social" e o subtítulo "Eleitor do Nordeste expressa maior tolerância com desvios do que o do Sudeste". É séria candidata ao primeiro lugar da campanha "Vamos envenenar este País" em curso em muitos jornalões brasileiros.

Jogando com números de uma pesquisa do Ibope que não prova nada, a matéria tenta sustentar a tese de que os nordestinos, os pobres e os negros dão menor valor à questão ética do que os habitantes do "Sul Maravilha", os ricos e os pobres. Diz o Estadão: "No Nordeste, 10% dos eleitores declaram que votariam em político acusado de corrupção - índice próximo do Norte/Centro-Oeste, que é de 9%. No Sul e no Sudeste, esses índices são de 6% e 7%, respectivamente".

Na realidade, as variações são mínimas, estão dentro da margem de erro da pesquisa e não indicam absolutamente nada. Aliás, se alguma coisa pode se depreender desses números é que, na valoração da questão ética, há um padrão razoavelmente homogêneo nas diferentes regiões do País - e não o contrário.

Mas há mais. O Estadão avalia também que a pesquisa do Ibope permite estabelecer relação entre cor de pele e rigor moral: "Os que se autodeclaram brancos são mais implacáveis com a ética: 88% não votariam num corrupto; os que se autodeclaram pardos cobram menos e 85% não votariam em indiciados por corrupção; mas os que se autodeclaram pretos são os menos rígidos com a ética: só 82% negam o voto a corruptos". Queira-se ou não, a idéia que se passa é de que, quanto mais escurinha for a cor da pele, maior será a frouxidão com valores éticos.

Tenha a santa paciência. Está claro que o jornal tinha uma tese. Encomendou a pesquisa para dar-lhe sustentação, digamos, científica. O levantamento, porém, não comprovou o postulado (ou o preconceito). Se houvesse bom senso, arquivava-se o assunto. Mas, como alguém quer provar, sabe-se lá por quê, que o povão não "está nem aí" para a corrupção e que nossa elite tem padrões morais dignos de Catão, a pesquisa rendeu matéria.

Mais um pouco e descobriremos que os pobres, os nordestinos e os negros são os responsáveis pela corrupção no país, que os ricos não têm nada a ver com isso, que em São Paulo nunca se pagou nem se recebeu propina e que os brancos sempre repeliram com veemência a idéia de pagar ou de levar um "por fora".

Não sei por quê, mas lembrei-me do samba "Não é conselho", de Dário Augusto e Nilcéia Gomes, gravado em 1993 pelo grande Bezerra da Silva, que pode ser ouvido aqui. A letra diz o seguinte:

É, doutor, isso é um alô,
Não é um conselho,
Mas não foi o preto quem botou
O meu Brasil no vermelho
Quando a coisa não vai bem
Eles dizem logo que está preta
Mas não foi o preto que travou
A grana da caderneta
Juro alto, inflação,
Mutretagem, mordomia
Mão não foi o preto
Quem botou o povão nessa agonia...


Como a maioria dos sambas cantados por Bezerra da Silva nessa fase, ele pega pesado. Pessoalmente, acho o voto nulo um erro. Sempre há um nome melhor (ou menos pior) do que os outros nas eleições majoritárias. E há muitos candidatos a deputado que merecem nossos votos.

Mas que tem gente pegando pesado demais nessa campanha, tem. Como dizem os jovens: "menos, gente, menos". É muito fácil envenenar um país, e muito difícil desintoxicá-lo depois. É como o adolescente que cai na droga. Para entrar na onda, bastam meses (e alguma revolta). Para sair dela, às vezes, são necessários anos (e muito sofrimento).

2 comentários:

Anônimo disse...

DEBATE NA BAND!
Lulla "disse" que vai, mas nunca se sabe...
Será que ele vai dizer de onde veio a grana? ou tá mais curioso ainda pra saber o que tem no dossiê?

O Lullalau já sabe, foi tudo arma por gente escolhida a dedo, da sua mais absoluta confiança, e obviamente já devem ter dito, de onde veio.
Só nós não sabemos, deve ser fonte ilícita senão já teria aparecido, se fosse "outro" empréstimo, já saberíamos...

Se o Lulla não tiver a resposta para essa pergunta nem precisa ir...
Dá outra desculpa esfarrapada e perde o segundo turno.
DE NOVO!

Este Domingão vai demorar pra passar e chegar a hora do debate...

Clarice disse...

sim, tb não vejo a hora de ver esse debate! também quero saber a origem do dinheiro, mas não nego que eu estou MUITO mais curiosa não só pra saber o que tem no dossiê como pra saber o quê nele é verdade, ver as suspeitas investigadas e os culpados punidos. por todos os crimes que compõem essa história!

a propósito, o alckmin vai contar quem imprimiu os santinhos com o número dele na foto do lula? ou ele "não sabe", hã?