sábado, fevereiro 03, 2007

Vivendo e aprendendo

Republico aqui artigo de José Dirceu, o cara mais sacaneado com toda a história do chamado mensalão, que foi cassado por causa dele, sem provas, e que, com a eleição de Arlindo Chinaglia para comandar a Câmara, deve ter facilitada sua pretensão - justa - de ser anistiado. Ou não. Mas que o cara manda bem, lá isso manda.

(Por José Dirceu - Artigo publicado no Jornal do Brasil, em 01 de fevereiro de 2007)

Quem se lembra da batalha na mídia e na opinião pública, no início do governo Lula, sobre os programas sociais ou sobre o factóide que o PT aparelhava o Estado, por nomear petistas? Depois, quando chegaram as eleições de 2006 e o Bolsa Família já era um sucesso inegável, passaram a acusá-lo de assistencialismo e de ser o único responsável pela eleição de Lula, nova fase da campanha para desqualificar os programas sociais e o resultado das urnas. Mas a mesma mídia que tenta associar o Bolsa Família à esmola esqueceu-se de mencionar a nomeação, em estados governados por tucanos, de tucanos para cargos públicos, inclusive de derrotados nas eleições. Ou seja, se o PT nomeia petistas é aparelhamento do Estado, se o PSDB nomeia tucanos é a ordem natural das coisas.

Como vemos, trata-se de uma disputa política, da construção ou desconstrução de imagens do governo federal e de seus objetivos. O alvo, agora, é o PAC, o Programa de Aceleração Econômica. O que estamos assistindo -- e o governo, o PT, os partidos aliados e mesmo as entidades empresariais e populares que apóiam o programa ainda não se deram conta -- é uma verdadeira guerra de entrevistas, artigos, editoriais, com um único objetivo de desconstruir o PAC.

Ora, se o PAC é, como tem dito o presidente Lula, a bússola do segundo mandato que dará norte à coalizão para a governabilidade e à constituição de uma maioria no Parlamento, como é possível que os ministros, os líderes e o próprio PT não priorizem a divulgação, defesa e consolidação desse verdadeiro Programa de Governo? Como é possível o PT se reunir para discutir a expulsão ou não de dois filiados, quando quase toda a mídia concentra seu poder de fogo na luta contra o PAC? Como é possível que, no governo, a todo momento, surjam iniciativas isoladas de ministros que desviam sua pauta e agenda do PAC, para temas como a reforma política ou outros, internos do PT?

O que a oposição pretende é desmobilizar a importante base de apoio que o governo conquistou, com o lançamento do PAC, tanto no empresariado como no meio sindical e popular. Afinal, o programa traz medidas reais de aumento de investimentos na infra-estrutura e na área social, acompanhadas de desaceleração tributária para os investimentos e com uma clara direção de política industrial.

A direita e seus porta-vozes na mídia vão ocupando todo o espaço, pregando o corte de despesas, as reformas trabalhista e previdenciária, desqualificando o PAC e acusando o governo e Lula de autoritarismo, estatismo e até, mais um factóide, de estar gestando um terceiro mandato. Ou seja, querem que o governo assuma o programa derrotado nas urnas, querem deslegitimar o mandato, recebido por Lula, de fazer o país crescer e retomar o desenvolvimento nacional. Na prática, querem dar um golpe branco na vontade popular expressa nas eleições de 2006.

Como se não bastasse, a maioria da diretoria do BC diminui o ritmo da queda dos juros, sem justificativa técnica, só para se impor como verdadeira direção da economia brasileira e bastião do conservadorismo. E dá mais munição aos críticos do PAC, que se apóiam na decisão do BC para argumentarem que o programa não passa de um instrumento de propaganda.

Fica evidente a necessidade de um freio de arrumação dentro do governo para viabilizar o PAC. Sem unidade no governo e em sua base de apoio em torno do PAC e de seus objetivos, será difícil sua aprovação no Congresso. Vem pela frente uma dura batalha, na qual será disputada também a aprovação da prorrogação da DRU e da CPMF. E, para isso, será necessário negociar com governadores, empresários e entidades sindicais.

Sem uma intensa mobilização na sociedade e sem o debate público e a disputa, através da mídia, da opinião pública, não criaremos as condições para que o PAC seja, de fato, o que é: o início de um novo ciclo de desenvolvimento e uma mudança de rumo para o país. Essa é a verdadeira razão da oposição feroz da direita e da mídia conservadora ao PAC. Quem não entender isso não está entendendo nada do que está em disputa, hoje, no Brasil.

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