Franklin Martins
Apesar das paixões, dos discursos e da efervescência, deu a lógica nas eleições para as presidências do Senado e da Câmara. As vitórias de Renan Calheiros e Arlindo Chinaglia representaram uma volta ao princípio da proporcionalidade: cada partido tem no comando do Legislativo um peso compatível com a fatia do eleitorado que conquistou nas urnas.
Nos últimos anos, esse princípio havia sido deixado de lado, não só em Brasília como em muitas assembléias legislativas, com os resultados que todos conhecemos, o que despertou na maioria dos partidos – pelo menos, nos grandes partidos – um forte anseio pelo retorno á normalidade. Foi esse sentimento que prevaleceu ontem. Algumas outras conclusões podem ser tiradas das disputas na Câmara e no Senado:
1) Por incrível que pareça, pessoalmente, os três candidatos a Presidência da Câmara saíram no lucro.Gustavo Fruet, do PSDB, obteve uma votação maior do que se esperava. Saiu da disputa bem maior do que entrou, tornando-se um dos principais nomes do seu partido. Aldo Rebelo levou o confronto para o segundo turno e perdeu por uma diferença relativamente pequena. Embora derrotado, não foi humilhado. Ainda que pertencendo a um pequeno partido, com apenas 13 deputados, firmou-se como uma das principais lideranças do parlamento. Não é pouca coisa. Já Chinaglia elegeu-se presidente da Câmara. Não era o candidato de Lula, mas tornou-se o candidato da maioria da base governista. Apesar do susto, foi o grande vitorioso de ontem.
2) Durante a disputa, o PT e o PMDB uniram-se para atingir seus objetivos. O do PT era sair do isolamento político, não permitindo que o confinassem ao gueto em que se meteu e foi metido durante o escândalo do mensalão. Já o PMDB pretendia ganhar um mínimo de unidade interna, voltar para o centro do jogo político e entrar na coalizão governista como uma estrela de primeira grandeza. Os dois partidos alcançaram seus objetivos. Mais do que isso: descobriram que, pelo menos durante um bom tempo, têm mais a ganhar caminhando juntos do que separados. A meta de ambos agora é ser o eixo político do governo.
3) O PSB, o PCdoB e o PDT também firmaram uma aliança nesse processo, para não ser engolidos pela ação coordenada dos dois maiores partidos da coalizão, o PT e o PMDB. Tendem a se constituir como um pólo de esquerda não-petista. Sua força não deve ser desprezada. Reúnem mais de 70 deputados, oito senadores, cinco governadores e exercem uma razoável influência na sociedade. E têm um nome visível para 2010: Ciro Gomes. Saíram da sombra e querem seu lugar ao sol.
4) As eleições de Renan e Chinaglia foram, simultaneamente, boas e ruins para Lula. Boas, porque ele terá aliados no comando das duas casas e ficou claro que o poder de fogo da oposição, no momento, é pequeno. Ruins, porque a base do governo dividiu-se na disputa pela presidência. Não se trata de uma divisão irremediável, mas tampouco é algo que se cure com um pouco de mercúrio cromo, como disse ontem o presidente. Há braços na tipóia, pernas engessadas, nervos à flor da pele e, mais grave, corações partidos. As seqüelas não se limitam a um outro arranhão. Seu tratamento exigirá um salto de qualidade na articulação política do governo.
5) A eleição de Chinaglia, longe de obrigar Lula a ceder mais espaço para o PT no ministério, como avaliam alguns analistas, dará ao presidente mais liberdade para estabelecer um novo equilíbrio político no governo. O PMDB terá provavelmente quatro ministérios. O bloco formado pelo PSB, PCdoB e PDT, também. Já o PT perderá posições, mas seguirá sendo o partido com maior presença no primeiro escalão, até porque vários ministros petistas (Dilma Roussef, Luis Dulci, Tarso Genro, Guido Mantega e Paulo Bernardo) são hoje da cota do presidente e não da legenda.
6) A oposição também saiu bem machucada das disputas. No Senado, o PFL e o PSDB, juntos, tinham 30 votos. Somando-se esse total aos quatro senadores da base governista que haviam anunciado publicamente que apoiariam José Agripino Maia, o candidato da oposição deveria ter recebido, pelo menos, 34 votos. Obteve 28. Ou seja, houve, no mínimo, 6 defecções entre os senadores oposicionistas – o coeficiente de traição, de 20%, foi altíssimo. O veneno e o fel destilados ontem entre os senadores da oposição daria para intoxicar meia Brasília. Na Câmara, o PSDB, como era de se esperar, dividiu-se no segundo turno. Metade da bancada, mais ligada aos governadores José Serra e Aécio Neves, votou em Chinaglia, em nome do princípio da proporcionalidade. A outra metade, que reverbera o estado de espírito do núcleo duro do eleitorado de Geraldo Alckmin, apoiou Aldo Rebelo. É uma divisão que ainda vai dar pano para as mangas.
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