sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Acordo com a Bolívia deixa governo muito satisfeito

Como registrou Paulo Henrique Amorim, até a Míriam Leitão elogiou. Está cada vez mais difícil para a oposição, como já deixamos registrado aqui. O texto que se segue é do sempre lúcido Franklin Martins.

A avaliação do governo brasileiro é de que o resultado das negociações com o presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciado ontem, é extremamente positivo para o desenvolvimento e a consolidação das relações entre os dois países. Não só a questão do preço do gás foi resolvida de forma satisfatória para ambos os lados, como se abriu caminho para a realização de projetos importantíssimos que, em dez ou quinze anos, colocarão a integração entre Brasil e Bolívia num novo patamar.

A fórmula encontrada na questão do gás foi engenhosa. Politicamente permitiu aos dois países salvar a face. A Bolívia conseguiu o que queria: aumentou os preços. Atualmente, ela recebe US$ 4,20 por milhão de BTU (British Termal Unity). Pretendia elevar o preço para US$ 5, o mesmo pago pela Argentina. Na prática, o entendimento de ontem ficou a meio caminho entre as pretensões dos dois países: algo entre US$ 4,50 e US$ 4,60 . .

O Brasil também tem o que comemorar. Saiu da mesa de negociações com a garantia de fornecimento e a manutenção dos contratos anteriormente firmados. Tecnicamente, a Petrobras e a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos assinarão um aditivo aos antigos contratos, dando forma jurídica ao “pulo do gato” que permitiu o entendimento.

Pelo acordo, a Petrobrás passará a pagar um adicional sobre os gases mais nobres, como o etano e o GLP, que vêm junto com o metano usado nas usinas termoelétricas e nas fábricas de São Paulo. Na maioria dos países, os gases mais nobres, de alto valor, usados na indústria química ou nas cozinhas, são separados na origem. Na Bolívia, isso não era feito até agora. Por outro lado, tampouco a Petrobras fazia a segregação da matéria prima no Brasil. Certamente passará a fazê-lo agora que terá de pagar pelo que antes recebia de graça.

Para muitos especialistas, a fórmula deixa claro que está para sair do papel o projeto de montagem de um pólo gasoquímico perto na fronteira do Brasil e da Bolívia, que aproveitaria o etano como matéria prima para a produção de plásticos. O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, um dos principais negociadores pelo lado brasileiro, confirmou, em conversas reservadas, que essa é a idéia-mãe que permitiu o entendimento na questão dos preços.

O projeto terá três grandes acionistas: a Petrobras, a YPFB e a Braskem, empresa química do grupo Odebrecht. A avaliação é que o pólo, depois de consolidado, poderia gerar de 30 a 40 mil empregos diretos e indiretos na região, com enorme impacto na economia da Bolívia e de Mato Grosso do Sul.

Outros projetos também foram postos na mesa de negociações. Dois deles são especialmente importantes em termos da cooperação econômica. O primeiro, em fase de estudos bastante adiantada, prevê a construção de uma rodovia entre La Paz e o Norte do Brasil. A estrada não só permitiria um salto na integração física e econômica entre os dois países, como aproximaria os produtos brasileiros dos portos do Oceano Pacífico. O segundo projeto, ainda em fase embrionária, é o da construção de uma grande usina hidrelétrica no Rio Madeira, na fronteira entre os dois países. A empresa teria caráter binacional, nos moldes de Itaipu, onde Brasil e Paraguai são sócios.

Já do ponto de vista político, a avaliação do governo brasileiro é de que os entendimentos dos últimos dias foram importantíssimos, porque assentaram as bases para uma cooperação de longo prazo. Para o Brasil, isso é duplamente importante. Primeiro, porque o estreitamento das relações com a Bolívia gera inúmeras possibilidades econômicas e comerciais para o nosso país. Segundo, porque favorece o crescimento econômico e a estabilidade política da Bolívia, país com quem compartilhamos nossa fronteira mais extensa. São 3.500 quilômetros que tanto podem nos unir como nos separar, tanto podem trazer progresso como imensas dores de cabeça. Ter um sócio, um parceiro e um amigo ao longo de uma fronteira tão extensa é muito melhor do que ter de conviver com um vizinho problemático, ressentido e instável na casa ao lado.

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