sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Brasil indica Paulo Nogueira Batista Jr, um crítico do BC, para o FMI

O governo vai substituir um economista da linhagem ortodoxa – identificada com as teses do “mercado” – por uma das principais vozes da corrente oposta (heterodoxa) como representante do Brasil e mais oito nações latino-americanas no Fundo Monetário Internacional (FMI). O novo indicado é Paulo Nogueira Batista Júnior, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo. Ele entrará no lugar de Eduardo Loyo, que fez carreira na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e foi diretor do Banco Central (BC) no início do primeiro governo Lula.

A troca foi comunicada nesta sexta-feira (23) pelo Ministério da Fazenda, a quem cabe fazer a indicação em nome do Brasil e seus oito parceiros (Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname, Trinidad e Tobago). Os nove países formam uma espécie de bloco de atuação conjunta no FMI. Os interesses do grupo são representados junto ao Fundo, em Washington (EUA), por um diretor-executivo.

Em nota distribuída à imprensa, a Fazenda informou que Loyo pediu para sair por motivos pessoais – voltará a trabalhar no Brasil. Ele foi diretor por dois anos, até setembro de 2006, quando o ministro Guido Mantega o reconduziu para outro mandato. Como diretor do BC, Loyo integrava a tropa conservadora, junto com o diretor de Política Econômica, Afonso Beviláqua, que em breve deve deixar o cargo. Os dois foram colegas na PUC-Rio, tida como maior referência da ortodoxia no meio acadêmico.

Paulo Nogueira, que deve assumir em abril, cumprirá o resto do mandato iniciado por Loyo. A Fazenda não informou por que o escolheu para a função. O professor da FGV é conhecido por sua visão crítica da política econômica produzida no governo Fernando Henrique e preservada na gestão Lula, de juros altos, liberdade de fluxo de dólares pelo país e pagamento de quantias elevadas de juros com dinheiro de impostos (superávit primário). Também critica a globalização e é contra à criação da Área e Livre Comércio das Américas (Alça), tema sobre o qual já escreveu um livro (A Alca e o Brasil).

Paulo Nogueira acredita, no entanto, que a chegada de Mantega ao comando da equipe econômica serviu para arejar um pouco a ortodoxia dos tempos de Pedro Malan e Antonio Palocci, ao menos no que diz respeito à política fiscal baseada em superávit primário. Ele foi uma das vozes ouvidas pelo ministro durante a elaboração do Programa de Aceleração do Crescimento – os dois conversaram no ministério antes do anúncio do PAC.

O economista foi negociador da dívida externa brasileira no governo de José Sarney (1985-1990), ocasião em que o país declarou moratória. Entre as nove nações que representará no FMI, duas ainda têm acordo com o Fundo (ou seja, ainda submetem suas decisões de política econômica à instituição): Haiti e República Dominicana.


André Barrocal – Carta Maior

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