Depois do entendimento com a Bolívia, o relançamento das relações com o Uruguai. O Itamaraty está comemorando discretamente os resultados das conversações entre os presidentes Lula e Tabaré Vasquez, ontem, em Colônia de Sacramento. Ao fim da reunião, o Uruguai desistiu da idéia de negociar um tratado de livre comércio com os Estados Unidos, o que na pratica acarretaria sua saída do Mercosul. Bush estará em Montevidéu no início de março, depois de uma visita a São Paulo.
No encontro, foram assinados vários acordos e impulsionadas algumas iniciativas que, de um modo geral, beneficiaram fortemente o Uruguai. Nosso vizinho ressente-se do fato de, nos últimos anos, estar perdendo espaço nas trocas comerciais com os demais países do Mercosul. Suas exportações para o Brasil, no ano passado, por exemplo, foram da ordem de US$ 600 milhões, contra importações no valor de US$ 1 bilhão.
Os uruguaios queixavam-se com razão de uma série de obstáculos burocráticos, fiscais e alfandegários que impediam o crescimento de suas vendas para nosso país. E pediam também um esforço do Brasil para gerar projetos comuns capazes de emprestar dinamismo à economia uruguaia.
De um modo geral, esses pleitos foram atendidos. A Petrobras deve partir para a instalação de uma fábrica de etanol no Uruguai e injetará também recursos na construção de uma linha de transmissão, de gasodutos e de uma planta de gaseificação, contribuindo para minorar o problema energético de nossos vizinhos. Além disso, o BNDES financiará a construção de uma grande fábrica de cimento, bem como as obras do anel rodoviário de Montevidéu e da segunda ponte sobre o rio Jaguarão, a serem tocadas por empreiteiras brasileiras.
Lula comprometeu-se ainda a trabalhar para que a indústria automotiva brasileira formate um programa especial voltado para a renovação de toda a frota de ônibus de Montevidéu e das principais cidades uruguaias, do qual participem empresas locais de autopeças. No médio prazo, há possibilidades de que estaleiros sediados na margem oriental do Rio da Prata participem de trabalhos de reforma de navios brasileiros.
No Itamaraty, a avaliação é de que o saldo da rodada de conversações de ontem foi extremamente positivo. Praticamente fechou a porta a saída do Uruguai do Mercosul, produziu um novo clima nas relações entre Brasília e Montevidéu e abriu uma nova etapa de cooperação entre os dois países. À primeira vista, o Brasil foi generoso, ao atender a pleitos que gerarão atividade econômica, emprego e renda no Uruguai. Mas, ao se olhar mais para frente, se verá que o Brasil também sairá ganhando com o estreitamento dos laços econômicos com nosso vizinho. Afinal, a tecnologia, as empresas e os capitais envolvidos nas várias frentes de cooperação serão, em quase todos os casos, brasileiras.
No próximo dia 8 de março, Bush chega ao Brasil para uma rápida visita; O Itamaraty quer uma agenda enxuta de discussões, centrada basicamente em três pontos: Organização Mundial do Comércio, etanol e Conselho de Segurança da ONU. O Departamento de Estado, provavelmente, tentará incluir nas discussões um quarto tema: a situação geral da América do Sul – leia-se Hugo Chavez. O Brasil não se furtará a conversar sobre o assunto, dentro da linha de sempre de respeito à autodeterminação dos povos e aos processos internos de cada país. Mas tudo indica que o grande tema do encontro será mesmo o etanol. No encontro, devem ser amarradas as linhas mestras para o lançamento, no final de março, durante a visita de Lula a Washington, de um mega-programa de produção de biocombustíveis, com capitais americanos e tecnologia brasileira, na América do Sul, na América Central e na África.
A expectativa no Palácio do Planalto é grande. As preocupações, também.
Por Franklin Martins
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