quinta-feira, agosto 31, 2006

Lula: "Pra dizer que o PT está pior, tem que dizer quem está melhor"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostrou, durante entrevista ao Jornal da Globo levada ao ar na madrugada desta quinta-feira (31), porque lidera todas as pesquisas de intenção de voto para as próximas eleições. Com clareza e conhecimento de causa, Lula fez um veemente relato das ações de seu governo, respondeu às perguntas com precisão, contestou equívocos de análise e conduziu a conversa para um debate de idéias sobre o país, a economia e a política.

A entrevista foi concedida aos apresentadores William Waack e Cristiane Pelajo. Waack quis saber do presidente como ele via a expectativa de o PT “piorar” seu desempenho nas eleições deste ano. Lula saiu em defesa do partido. “Pra dizer que o PT está pior, tem que dizer quem está melhor”, rebateu.

Na seqüência, lembrou que haverá eleições para vários níveis neste ano, que uns vão perder, outros vão ganhar e que “a vida continua”. Daí por diante, analisou Lula, quem tiver piorado vai ter de rever seus erros para melhorar da próxima vez.

Lula também falou sobre alianças, acordos e governabilidade. Disse ter orgulho dos apoios que recebe, entre eles uma parte do PMDB, e afirmou que não escolhe nem veta as pessoas indicadas pelos partidos para compor seu conselho político.

“Vamos ganhar a eleição, se Deus quiser, e teremos a sustentabilidade que o Brasil precisa", disse.

Carga tributária
O presidente esclareceu que o governo não aumentou a carga tributária, como afirmaram os entrevistadores. A carga tributária brasileira, lembrou, só aumentou na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto).

Ele explicou que o que subiu, de fato, foi a arrecadação, porque a Receita Federal passou a ser mais eficiente. "Diga um único imposto que eu criei ou que aumentou em meu governo", questionou Lula a seus entrevistadores, sem obter resposta.

Os jornalistas então perguntaram por que o governo não concedeu nenhum alívio fiscal, uma vez que houve aumento da arrecadação. Lula respondeu: "Mas como não houve alívio fiscal? Acabei de dizer que nós desoneramos diversos setores da economia".

O presidente informou os repórteres que os preços de arroz, feijão, farinha de mandioca, entre outros produtos alimentícios, além de areia, cimento, tijolos e demais itens da construção civil, ficaram mais baratos em seu governo justamente porque ele determinou o alívio fiscal para itens de consumo popular, beneficiando as pessoas mais pobres. "Pergunta para a dona de casa", provocou.

"No total desoneramos R$ 19 bilhões. Houve também a redução das alíquotas do Imposto de Renda", reiterou Lula, lembrando que, quando assumiu, a alíquota não era atualizada havia cinco anos.

O presidente também foi enfático ao revelar que já definiu os pontos básicos da reforma tributária com seu relator, o deputado federal Virgílio Guimarães (PT-MG), e que a reforma só não é votada porque a oposição não quer.

"Se eles quisessem, a reforma sairia ainda neste ano. Mas não permitem que os deputados votem. E depois tem candidato que diz que o meu governo aumenta imposto e não faz a reforma", ironizou.

Crescimento econômico
Lula também refutou a afirmação de que o Brasil tem crescimento baixo se comparado à China e outros países emergentes. O presidente afirmou que seu governo construiu a infra-estrutura sobre a qual o país poderá crescer com estabilidade e distribuição de renda pelos próximos anos.

"Já vi o Brasil sendo comparado com a Índia, com a China e até com o Haiti. Mas o Brasil deve ser comparado é com o Brasil. Nunca houve uma conjuntura de fatores tão positivos para a economia brasileira. As exportações crescem, o crédito é farto, a balança comercial é positiva, as transações correntes são favoráveis", disse Lula.

O presidente explicou aos repórteres que seu governo também vai definir os marcos regulatórios das PPPs (Parcerias Público-Privadas) que permitirão o aumento do capital privado no investimento, um dos motores do crescimento econômico. Segundo Lula, seu governo estuda a expansão do Brasil em mercados em que pode assumir a liderança global, como o de papel e celulose.

"O Brasil nunca esteve tão preparado para dar o próximo passo", concluiu, defendendo um ciclo de crescimento contínuo com investimentos em educação.

Volkswagen
Lula foi questionado sobre o que esperaria de um presidente se ainda fosse líder sindical, diante da crise da Volkswagen, que demitiu 1.800 empregados de sua fábrica de São Bernardo do Campo. O presidente revelou que já chorou na porta da Mercedes-Benz no passado, quando esta anunciou a demissão de 8 mil trabalhadores.

"A Volks se precipitou ao anunciar as demissões sem discuti-las com o governo e com o sindicato", disse o petista, que informou que 27 mil empregos na indústria automotiva foram criados em sua gestão.

Lula afirmou desconhecer em profundidade a atual situação da montadora, mas afirmou que a Volks optou pelas demissões num momento em que "nunca se exportou tantos carros e o mercado interno cresce".

"Eu sei o que é a fome"
O presidente demonstrou irritação diante Waack, que perguntou por que o governo investe mais em programas sociais, "que dão o peixe", do que ações "que ensinam a pescar". Lula disse que o jornalista provavelmente “nunca foi pescador”, porque mesmo o pescador tem de comer alguma coisa enquanto o peixe não vem.

Depois informou que seu governo ataca nas duas frentes e que uma não anula a outra. "Eu sei o que é a fome. A criança que vai para a escola com fome aprende menos. Nossa política social garante três refeições diárias. Isso está na bíblia, deve estar na consciência de todo homem público", afirmou o presidente. "Eu sei o que é uma mãe ter cinco filhos pedindo comida e ela não ter nada para dar".

Na seqüência, os jornalistas abordaram as fraudes no programa Bolsa-Família. Lula respondeu que o programa é fiscalizado pelo Ministério Público e pelo conjunto da sociedade.

"Um programa que atende 11 milhões de famílias pode ter um erro. Mas isso não nos impede de expandi-lo em três frentes: ampliar o número de beneficiados, aumentar a fiscalização e gerar empregos, por meio do crescimento econômico, que seriam a porta de saída do programa".

Educação
O presidente discorreu com desenvoltura ao responder sobre a educação, enfatizando o Fundeb (Fundo para a Educação Básica), que está parado a um ano e meio no Congresso e, quando aprovado, vai destinar R$ 5 bilhões para o setor.

Os jornalistas apontaram apenas 23% das escolas públicas brasileiras com biblioteca, 10% com acesso à Internet e que somente 45% dos professores têm ensino superior completo.

"Este não é um quadro desolador?", perguntou Pelajo. “É”, respondeu Lula, ressaltando que esse quadro resulta dos 500 anos anteriores a seu mandato.

Na seqüência enumerou as ações em andamento e destacou a ampliação da Universidade Aberta, que estará presente em 80% dos municípios brasileiros, com a função de aprimorar a formação dos professores.

O presidente também informou que seu governo passou a mensurar a qualidade da educação com o Prova Brasil, testes para alunos da 4ª e da 8ª séries, em 41 mil escolas, ao contrário do governo de Fernando Henrique Cardoso, quando apenas cerca de 6 mil escolas aplicavam os testes, e só para alunos da 4ª série.

Lula comentou que o único Estado que se recusou a participar da prova foi São Paulo. “Talvez temendo revelar que, embora sendo o Estado mais rico, não liderava o ranking da educação", disse Lula, que completou: "Depois o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) veio mostrar que São Paulo está na oitava posição no país", disse.

31/08/2006 - 03:32

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