sábado, agosto 19, 2006

Governo Lula alavanca pesquisa e renda com biodiesel

Depois dos ciclos da cana-de-açúcar, do ouro, do algodão e do café, o Brasil vive hoje o que poderá ser uma revolução na sua matriz energética nacional nos próximos anos, segundo avaliação de especialistas. Lei assinada em 2004 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva torna obrigatório, a partir de 2008, a adição de 2% de biocombustível em um litro de diesel. Até lá, o país precisa multiplicar por quatro sua produção atual, de 200 milhões de litros. A partir de 2013, a adição deverá ser de 5%. O programa brasileiro é tema recorrente nas reuniões mundiais e objeto de textos em publicações internacionais renomadas. O jornal francês Le Monde também publicou matéria em que destaca o programa do governo Lula.

O biodiesel é um combustível elaborado com oleaginosas. A mais utilizada, nos Estados Unidos e na Europa, é a soja. Mas o Brasil quer tirar proveito das suas plantas tropicais, que são fáceis de cultivar pelos pequenos agricultores, como a mamona, a banana, a mandioca, o dendê, o óleo de palma e o algodão - ou até mesmo o sebo animal.

Na avaliação do governo, o novo combustível, além de baratear o custo do diesel, será de melhor qualidade que o atual. O presidente Lula tem afirmado que o óleo diesel nacional vai ser de melhor qualidade porque será diretamente refinado junto com o petróleo. "Pode baratear o preço para o consumidor, pode dar aos produtores de soja, de mamona uma certa garantia de mercado. Ou seja, não ficam dependendo apenas das exportações. Nós poderemos vender esse óleo para outros países e poderemos consumir muito mais internamente", afirma o presidente.

A intenção é que a extração do biodiesel dessas oleaginosas permita ao país um aumento de produtividade no campo e tranqüilidade para os produtores. O combustível será produzido pela Petrobras. Hoje, as pesquisas e os testes com diferentes tipos de sementes estão em ritmo acelerado e cerca de 600 postos de combustível em todo o país já vendem a mistura.

No Rio Grande do Norte a Petrobras iniciou uma experiência inovadora que mobiliza cerca de 5 mil famílias de agricultores em uma fazenda de propriedade coletiva situada em Ceará-Mirim, a cem quilômetros de Natal. Ao lado das lavouras de bananeiras e de mandioca, os fazendeiros plantaram vários hectares de "pinhão-manso" (também conhecido como pinhão-de-purga), uma árvore originária dessa região semi-árida e cuja fruta contém 38% de um óleo destinado à elaboração do biodiesel. Mesmo crescendo no solo arenoso, esse vegetal produz três toneladas de grãos por hectare e oferece duas colheitas anuais. A mamona, que cresce em terrenos baldios, também garante uma renda complementar aos pequenos agricultores.

Inclusão
Para deputados petistas, o programa de biodiesel representa mais do que um programa agrário, tecnológico e energético - é um passo importante na consolidação de uma política de inclusão social, geração de emprego e de compromisso ambiental.

"Vejo o programa de biodiesel como uma revolução no campo e uma alteração profunda e positiva na matriz energética nacional, até porque teremos uma matriz com uma energia renovável mais presente. O conjunto de benefícios para o Brasil será enorme. Não tenho dúvida de que, no futuro, pelas suas condições de solo, clima e recursos tecnológicos, o Brasil se torne o grande produtor de biomassa no mundo", afirmou o deputado Mauro Passos (PT-SC).

Segundo o deputado Luciano Zica, (PT-SP), uma das grandes vantagens para o Brasil é a grande diversidade de suas culturas nacionais. "Essa diversidade nos tira da monocultura, nos leva para a agricultura perene e é uma alternativa ambiental econômica considerável. O biodiesel representa uma guinada mundial na matriz energética brasileira e mundial, porque há outros países tratando dessa questão. Podemos substituir importações de óleo diesel por emprego e renda no campo", destacou.

Na avaliação dos parlamentares, a grande expectativa do programa do biodiesel está ainda associada à atual oferta mundial de petróleo. Nesse sentido, culturas que não se mostravam atrativas economicamente há cinco anos, por exemplo, como o girassol ou o dendê, viram sua competitividade crescer com o aumento do preço do barril de petróleo para entre US$76 e US$78.

Segundo o deputado Fernando Ferro (PT-PE), o programa revela ainda a construção de uma política ambiental extremamente coerente com o debate mundial sobre o meio ambiente. "Tenho participado de seminários internacionais e que são marcados pelas experiências brasileiras de iniciativa para limpar os combustíveis, na linha do desenvolvimento sustentável e da inclusão econômica e social. O biodiesel tem tudo para se tornar uma verdadeira revolução na redução da pobreza e da miséria", afirmou. (Gabriela Mascarenhas, com informações do Le Monde).

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