segunda-feira, março 12, 2007

O que Míriam Leitão quer dizer quando faz pouco caso da visita de Bush

Altamente esclarecedor o exercício feito por Paulo Henrique Amorim para desnudar o que vai nas entrelinas do discurso dor-de-cotovelo de Míriam Leitão, fazendo pouquíssimo caso da visita que mobilizou a mídia, calou a oposição e fez evaporarem as críticas à política externa pretensamente "anti-americana" do governo Lula.

"Reproduzo abaixo o que disse Miriam Leitão no seu blog em O Globo:

Visita de Bush foi tardia e vazia

A visita do presidente George Bush tomou muitas páginas dos jornais neste sábado, provocou muita confusão no trânsito de São Paulo na sexta, mas produziu muito pouco efeito. Foi uma viagem tardia, um gesto de um presidente perdendo rapidamente seu poder. O debate da imprensa sobre a visita ficou contaminado demais pelos gestos inocuos de Hugo Chavez, levando a sério um suposto conflito Washington-Caracas.

Hugo Chavez é apenas patético com gestos como fazer manifestação de rua em vez de governar seu país que tem sérios problemas. Um deles: a taxa de homicídios em Caracas é quase três vezes maior do que a do Rio e mais de seis vezes maior do que a de Bogotá.

George Bush é apenas um presidente caminhando rapidamente para virar um lame duck, como resultado de ter perdido as eleições legislativas do ano passado e o país já estar pensando na eleição presidencial do ano que vem.

Bush ignorou a América do Sul na maior parte do seu governo. Ao tomar posse ficou mais de um ano sem sequer nomear o sub-secretário para Assuntos Latino-Americanos. Depois do 11 de setembro a política externa ficou definitivamente em torno da questão do terrorismo.

Hugo Chavez seu suposto inimigo na América do Sul faz ótimos negócios com os Estados Unidos. É o país que compra quase a metade de todo o petróleo que a Venezuela exporta, e esse petróleo representa 11% de tudo o que os Estados Unidos importam. Esse produto entra sem pagar imposto no mercado americano e é a garantia de receita da PDVSA. Dos cofres da empresa petrolífera saem os dólares para financiar tudo: a política populista interna e a ajuda a países como Bolivia, Equador e Cuba. O suposto amigo Brasil tem que pagar 48% de tarifa para entrar com seu etanol no mercado americano e este ano, como tem etanol sobrando lá, não deve vender nada. E que não se espere coisa diferente dos democratas. O senador Barack Obama já está hoje nos jornais defendendo o produtor americano, para provar a fama de protecionista dos democratas.

Enfim, uma visita tardia e vazia, que não representa nada mais que isso.

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Vamos fazer um exercício de “metalinguagem” e reescrever a coluna de Miriam com O QUE ELA DE FATO QUIS DIZER:

Lula não pode faturar essa visita

A vista do presidente da nação mais poderosa do mundo ao Brasil não deve ser interpretada como uma vitória política do Brasil nem da diplomacia brasileira.

Isso seria péssimo para os conservadores brasileiros como eu e as Organizações Globo para que trabalho.

É importante evitar que se solidifique a impressão de que uma política externa diferente da política pró-americana de FHC possa dar certo.

É importante impedir que um presidente trabalhista como Lula seja capaz de se impor ao presidente da nação mais poderosa do mundo como um político maduro, bem preparado, que sabe o que diz.

A política do Itamaraty é um fracasso.

E Lula é um despreparado.

É preciso fixar a idéia de que um presidente americano com APENAS dois anos de mandato tem tanto poder quanto o presidente da Ilha de Malta.

Que veio ao Brasil com medo do Chávez.

Que só parou no Brasil porque é a melhor escala antes de Montevidéu.

Outra coisa: esse acordo do etanol é irrelevante. Como diz a Folha de São Paulo de hoje, brevemente o Brasil perderá essa efêmera liderança.

O Brasil pode querer ser o maior produtor de cana do mundo, mas, no Governo Lula, NADA será feito para manter e ampliar essa liderança.

Todos os esforços positivos - se houver - se deverão à iluminada liderança do Governador de São Paulo, o homem mais preparado para governar o Brasil, e que saberá dinamizar as pesquisas e manter o que Lula vai perder.

Bush é um pobre coitado. Não manda nada. Hoje, quem manda é o Barack Obama que já disse que não vai ter redução dos subsídios agrícolas.

Aliás, Lula, se fosse minimamente preparado, nessa próxima viagem aos Estados Unidos, não deveria ficar em Camp David, mas visitar Barack Obama, porque é ele quem dá as cartas, nos próximos dois anos.

Bush é tão irrelevante que Fernando Henrique Cardoso sempre debochou dele, nunca o levou a sério. Para que? De que adiantaria ficar amigo de um pobre coitado, como Bush. FHC é que estava certo!

(Ainda bem que as gestões de Mario Garnero e Nelson Jobim para aproximar FHC de Bush não deram certo...)

Quem está certo é o Kirchner, que, sequer, recebeu esse presidente irrelevante, esse tal de Bush.

Um comentário:

Anônimo disse...

pois é, mas "se o presidente fosse o FHC"...