terça-feira, março 13, 2007

Como é criativa a nossa direita (3)

Quer um texto crítico “denso”? Essa receita é batata. É preciso preparar antes umas citações bem chiques, qualquer assunto pode ser pretexto, pois sempre cabe. Cite (de memória) Bobbio, Santo Agostinho, Stendhal – e até um economista liberal fodão, tipo Milton Friedmann. Encontre um gancho e fale mal dos muçulmanos – aliás, comprove a inferioridade de sua civilização e a incapacidade de haver democracia entre eles. Você pode citar Samuel Huntington, pois ninguém conhece mesmo. Renove sua confiança no acerto da política norte-americana de combate ao terrorismo e se demonstre sensível ao ponto de vista israelense a respeito da questão palestina. Fukuyama cai bem aqui, quem sabe você use até um editorial do NYT. Diga que é católico e temente a Deus (crê na Santa Madre Igreja, não na igreja comunista do padre Lancelotti). Quando falar da pobreza palestina, lembre o leitor do Bolsa-família, chame-o de bolsa-esmola, associe-o a “populismo”. Lembre que fazem melhor no Paquistão. Se chegou até aqui, aproveite e fale mal do Chavez (bufão histriônico é bom); invente algum dado sobre o crescimento da pobreza na Venezuela. Lamente a reeleição do Lula (apedeuta!), fale mal dos pobres que votaram nele, reclame da mídia vermelha (êpa!), da dona Marisa, do filho Fábio, da estrela no jardim do Alvorada, do "dossiê fajuto", trate os petistas como “essa gente”. Tá pronto mais um post instigante e descolado do Reinaldo Azevedo (aquela figurinha de chapéu).

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