quarta-feira, julho 19, 2006

Lula de novo

Nunca é demais lembrar que, em política, é legítimo avaliar um acusado pela trajetória dos acusadores. Vale, então, reparar quem são muitos daqueles que abriram fogo contra Lula. São os mesmos que não hesitaram em apoiar o Golpe de 64, que sabotaram as Diretas Já, que apoiaram Collor e defenderam o programa neoliberal de FHC até o fim.


Aos mais novos é necessário revelar quem são os autores dos roteiros repisados da política brasileira. A construção simbólico-política da persona do presidente Lula não oferece elementos novos. Sequer a estrutura discursiva é alterada. Tal como em antigas tragédias não faltam catarses, mas as narrativas guardam tão pouca preocupação com a verossimilhança que talvez seja mais apropriado falarmos em farsa. Um gênero tão recorrente em nossa história que com ela se confunde.

Nunca é demais lembrar aos jovens que, em política, é legítimo avaliar um acusado pela trajetória dos acusadores. Abre-se espaço para o exercício do contraditório, bem como se amplia o campo de visão. A historiografia só é possível se comporta tensionamentos. E são eles, em sua centralidade, os alvos móveis que os aparelhos ideológicos buscam ocultar nos relatos de conflitos. O ódio de classe aparece travestido de indignação cívica.

Uma leitura ligeira dos principais veículos da grande imprensa dá conta do seguinte quadro: Lula e seu partido, transformaram-se, após as eleições realizadas em 2002, respectivamente, numa liderança conservadora e em um partido sem projeto de nação. Reiteradamente se afirma que a não-ruptura com a política econômica do governo anterior demonstra que o país foi vítima de um estelionato eleitoral. Tanto mais grave se a ele somarmos supostos esquemas de corrupção, com destaque para o "mensalão". É assim, com simplificações grosseiras e distorções calculadas, que os bolsões antipetistas tentam conformar o senso crítico do eleitor mediano. Apostam em duas variáveis: desencanto e desinformação. Misturando moral privada e pública, embaralham as cartas que dão sentido à política desde a modernidade. Mas, afinal, o que move os "soldados cívicos" encastelados em redações e blogs? O que torna o presidente da República um ator político imperdoável? A tal ponto que a oposição não hesita em chamá-lo de bêbado e analfabeto. O que classificam como debate qualificado não passa de baixaria, ofensa pessoal. Mas o que leva o fígado a ditar os termos do discurso? A moralidade pública? A traição programática e o aliancismo decorrente? Afinal, o que empolga os Corifeus?

A ofensiva da direita já não esconde objetivos nem atualiza métodos. Deixa claro o jogo e mostra o cacife que dispõe. No limite, aposta no esquecimento do passado recente para agir com desenvoltura. Como assinalou Mauro Santayana, "enganam-se os que pensam que a oposição a Lula é mobilizada pelo combate à corrupção". Em que pese às concessões ao capital e o transformismo de seus principais quadros, o governo possui, após meses de intenso bombardeio, uma significativa base popular de apoio. Fato tão novo quanto incômodo para uma classe dominante acostumada a transitar com desenvoltura em sociedade fracionada. O que fazer? Não nos iludamos com retórica de ocasião. Os condestáveis do patrimonialismo não têm qualquer compromisso com ética na política, estabilidade institucional e consolidação democrática. Jogam sujo e pesado. E nisso contam com inequívoca colaboração das oficinas de consenso das grandes redações.

Na verdade, o que aflige o reacionarismo é o êxito das políticas sociais do governo. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) registram recuperação do rendimento médio da população, em queda desde 1997. O nível de ocupação atingiu 56,3%, o maior desde 1996. O Índice de Gini demonstra queda na concentração de renda, com metade da população que ganha os menores rendimentos obtendo ganho real de 3,2%. O melhor resultado nos últimos 24 anos. Adicionemos a isso o Bolsa-Família, programa de renda familiar básica, que atende a oito milhões de famílias.

Como destacamos, em artigo publicado nesta agência, "Poderíamos citar a recuperação do salário mínimo e a taxa básica de juros, no menor patamar desde 2001, como exemplos de cegueira monetarista? E o que dizer dos avanços na reforma agrária e do diálogo com os movimentos sociais? A política externa não luta por uma integração soberana na região? Por que não debatemos isso? Por que afirmar continuidades onde há disjunções? A resposta é simples: os dados acima mostram o inaceitável. Há, apesar dos pesares, uma política redistributiva em andamento. E isso é inconcebível para os setores que, como destacava Hebert de Souza, o saudoso Betinho, vivem um liberalismo de pernas curtas e consciência culposa. Uma prática política que só existe no reino do poder e do Estado patrimonialista".

E como soa aos ouvidos da direita furiosa, a informação publicada na grande imprensa, no início do mês? "O governo Lula produziu uma melhora considerável na classificação econômica dos eleitores a partir de 2003, revela pesquisa Datafolha. Cerca de 6 milhões de eleitores saíram da classe D/E. A maioria migrou para a C. Praticamente a metade dos 125,9 milhões de eleitores (49%) considera hoje que sua situação econômica vai melhorar. Ao mesmo tempo, houve um aumento no consumo, sobretudo de alimentos -37% dos eleitores passaram a consumir mais desde 2003. A melhora na renda se dá por uma combinação de cenário econômico positivo e forte aumento do gasto público dirigido aos mais pobres" (Folha de São Paulo,9/7). Um soco no estômago dos que apostavam no desastre de rupturas voluntaristas ou na inépcia da política macroeconômica. Um desconforto inédito para quem não se livrou do legado escravagista.

Não se iludam, eleitores mais jovens. O antilulismo deita raízes nos extratos sociais que só concebem democracia sem povo. E povo sem Estado e nação. Para eles, os princípios democráticos terminam na entrada da favela ou nas portas de fábrica. Endossaram todos os retrocessos políticos vividos no Brasil desde o Estado Novo. Por sua inserção subalterna no cenário internacional não foram capazes de elaborar um projeto de país. Para maximizar seus interesses, não hesitaram em apoiar todas as violações de normas constitucionais, dos direitos humanos, incluindo a tortura e os assassinatos políticos promovidos pelo regime militar de 64. Sabotaram, enquanto puderam, a campanha das Diretas Já. Apoiaram Collor e seu programa econômico. E só aderiram ao impeachment quando se asseguraram que ocorreria nos marcos de um pacto intraelites. Durante oito anos, sob a batuta de FHC, levaram o país à beira do precipício financeiro. Derrotados eleitoralmente em 2002, mantêm considerável capilaridade política e apoio incondicional da mídia.

Daqui a pouco mais de três meses, o eleitorado precisará decidir novamente. Desta vez, contudo, a escolha será mais dramática. Alckmin representa o retrocesso, a diminuição dos gastos públicos, a retomada das reformas neoliberais e a supressão de direitos. Contará em sua campanha com especialistas em terrorismo eleitoral. Gente do naipe do senador Jorge Bornhausen, ACM e Agripino Maia. Terá, ainda, o apoio coerente de Roberto Freire, um ex-comunista que nunca pestanejou em aderir aos projetos da direita. A vitória deste grupo confirmará nossa história como produção de desigualdade. Formação política onde princípios fundamentais tais como igualdade; liberdade, diversidade, solidariedade e participação são penduricalhos sem sentido.

Por isso, peço aos mais jovens cautela e reflexão. É preciso aprender com os erros recentes. Resgatar um projeto contra-hegemônico requer coragem e coerência. A ação da esquerda nos marcos do Estado de Direito deve conciliar política institucional com a dinâmica dos movimentos sociais dos quais se origina. E o único avanço possível tem nome e sobrenome. Luís Inácio Lula da Silva: político orgânico, cidadão do agreste pernambucano. Pensem nisso, mais uma vez.


(Gilson Caroni Filho, professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso - Facha e colaborador do Jornal do Brasil, Observatório da Imprensa e La Insignia. O artigo acima foi publicado no site da Agência Carta Maior. Grifos meus.)

3 comentários:

ex-petista disse...

O Palácio do Planalto ultrapassou, no início deste mês, o total de gastos de 2005. De janeiro para cá, a estrutura de apoio do presidente da República teve uma despesa de R$ 637,3 milhões, valor R$ 69 milhões a mais que o registrado em todo o ano passado. Os números atingiram essa cifra pelos recursos disponibilizados principalmente com pessoal, diárias de viagens, aluguel de carros e publicidade.

Um dos órgãos da Presidência, a Coordenação de Recursos Humanos, teve uma despesa nos últimos 6 meses de R$ 285 milhões, contra R$ 31 milhões em 2005. A Secretaria de Administração, responsável pela manutenção dos prédios da Presidência e até por diárias de viagens, gastou em 6 meses R$ 165 milhões, valor inferior aos R$ 272 milhões pagos em 2005.

As diárias de funcionários e ministros em países latino-americanos, nos EUA, na África e na Europa - roteiros de viagens do presidente Lula - contribuíram para elevar as despesas. O assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia (diária de cerca de US$ 220), e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, estão entre as autoridades que receberam diárias para viajar.

Há funcionários do palácio, no entanto, que receberam mais de R$ 100 mil em algumas viagens. É o caso de Ivan Moyses Ayupe, que recebeu R$ 114,7 mil para "atender" despesas com a viagem a Botsuana, na África, em fevereiro. A planilha de gastos da Presidência não detalha se o valor foi para pagar despesas dele ou de um grupo.

Os dados sobre as despesas do Planalto foram levantados em números do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) fornecidos pelos técnicos da liderança do PFL no Senado.

Ricardo disse...

O ex-companheiro se esquece que agora temos uma política externa ativa e ALTIVA, que não busca na subordinação à grande potência do norte a realização de nossos desígnios maiores. Ao contrário. Expandiu-se principalmente o investimento em relações mutilaterais com países do sul, e o protagonismo brasileiro tem-se mostrado útil – e lucrativo para o país, haja visto o crescimento das exportações, os reiterados convites (nos últimos 3 anos consecutivos) para participar da reunião do G8 (FHC deve estar moooorrendo de inveja) e por aí vai. Todas as despesa, aliás, são auditadas não apenas pelo TCU, viu, Sr. Ex-petista, mas pela CGU, a Controladoria Geral da União, que foi criada pelo nosso presidente exatamente para evitar aqueles descalabros que ocorriam na época em que os tucanalhas governavam o país. Fique portanto sossegado, que as despesas crescem, mas estamos pagando as dívidas que a oposição fez no passado, já dispensamos o FMI, reduzimos a relação dívida-PIB, desdolarizamos o prinicipal e hoje temos resercas internacionais que nos protegem de crises externas, sem precisar abrir mão do superavit primário que vai quase zerar nossa dívida em 2008, se deus – e o povo brasileiro – quiserem (e há de querer, pelo que indica o Ibope, a Vox, o Datafolha, o Associados Data, o Sensus e o bom sensus nacional.

Anônimo disse...

LULALALAU
LULALADRÃO
LULALARAPIO
LULA LÁ, LÁ na P#T@ que pari#