quarta-feira, julho 19, 2006

Estabilidade é trunfo de Lula para reeleição


Queda no preço da cesta básica e ganho real do salário mínimo pesam no voto dos mais pobres. A estabilidade nos preços, obtida em boa parte à custa dos juros elevados, ajudou a melhorar o poder de compra da população, especialmente das camadas de baixa renda. E os efeitos positivos do controle inflacionário jogam a favor da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao lado da rede de proteção social, ampliada neste governo com programas assistenciais, os frutos da política econômica são apontados como a principal razão do apoio popular obtido até agora por Lula nas pesquisas de intenção de voto.

Os números falam por si mesmos: desde 2003, o salário mínimo subiu 32,2% acima da inflação; o valor da cesta básica caiu em 2003 (-6,5%) e 2004 (-2,6%) e ficou estável no ano passado (0,3%), comportamento que deverá se repetir em 2006. "Esse fenômeno tem nome e sobrenome: melhora do poder de compra da população de baixa renda e menor desigualdade social", ressalta o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, autor do estudo "Juros Altos ou Inflação Alta?"

Como a estabilidade não é um capricho econômico, mas pré-condição para o País dar o salto rumo ao crescimento sustentável, a contenção da alta dos preços e até a queda em alguns segmentos de consumo explicam a cautela dos presidenciáveis em relação à política econômica que pretendem praticar a partir de 2007. Embora critique os juros altos, a oposição não sinaliza nenhuma guinada.

Juros altos ou inflação alta? Qual dos dois remédios seria menos indesejável para o Brasil?

À medida que a campanha presidencial avança, o debate vai se tornando mais amplo, abrangendo uma série de questões relacionadas à economia e suas repercussões nos indicadores de renda e sociais. Afinal de contas, sobram evidências de que a estabilidade nos preços, obtida em boa dose às custas dos juros elevados, ajudou a melhorar o poder de compra das camadas de baixa renda da população. E também não restam dúvidas de que os efeitos positivos do controle inflacionário jogam a favor da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na mesma proporção dos programas sociais e assistenciais.

Esses temas prometem gerar muita polêmica nos próximos meses, mas já se arriscam algumas opiniões. Para o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira, os juros altos são prefator de concentração de renda, porém, inflação alta é fator de concentração de renda ainda maior. "Estabilidade não é um capricho econômico, é pré-condição para uma sociedade mais justa", enfatiza. É isto que explica a opção do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) em prosseguir com a ortodoxia social-democrata dos juros mais elevados do mundo para não colocar em risco a conquistados preços estáveis. É também o que ajuda a interpretar o que recente pesquisa Data-Folha revelou: o governo Lula tirou 6 milhões de eleitores dasclasses D e E e os promoveu para classe C.

Essa melhora no consumo e nas expectativas futuras da parcela mais pobre da população também justifica em grande medida o favoritismo de Lula na corrida presidencial, ressalta Pereira. Embora o social-democrata Geraldo Alckmin tenha crescido nas intenções de voto nas últimas semanas, Lula ainda venceria no primeiro turno com larga vantagem. São as classes C, D/E - no primeiro grupo, 68% têm renda familiar mensal de até três salários mínimos (R$ 1,050/US$ 477,27) e no segundo, 86% têm renda de até dois mínimos (R$ 700,00/US$ 318,18) - que concentra as maiores taxas de intenção de voto na reeleição de Lula, com 44% e 54%. Para sustentar a tese de que elevadas taxas de inflação são mais concentradoras de renda do que os juros altos, Pereira analisou a proporção entre o valor da cesta básica e o salário mínimo (R$ 350,00/US$ 159,09). Quanto menos a cesta básica representa no salário mínimo, maior o poder de compra das camadas mais pobres.

Colaborou: Lígia Alves. 19/07.

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