(Antônio Fattore, traduzido do semanal La Rinascita, no site O informante)
As ultimas pesquisas dizem que Lula poderia ganhar já no primeiro turno das eleições de 1 de Outubro.Parecia impossível depois o fogo de barragem que todas as mídias abriram contra ele a partir do mês de Maio do ano passado. Claro! Algumas das acusações de corrupção contra dirigentes do PT e do Governo eram verdadeiras, mas pela maior parte revelaram-se ou simples hipóteses ou verdadeiras invenções.
Em todo caso, verdadeiras ou falsas, todas as acusações foram usadas e abusadas com um só objetivo: acabar o mais rápido possível e sem muitos escrúpulos institucionais com o primeiro governo popular na história do Brasil. E a oposição parlamentar nos seus ataques contínuos e indiscriminados não ficou sozinha porque uma ajuda sistemática veio não somente das mídias, mas também das grandes corporações que dominam a vida cultural e política do Brasil.
Associações dos advogados, dos juristas, dos jornalistas, dos comerciantes, dos professores universitários: todos em nome da tal de "sociedade civil" (identificada sempre nas classes médias) a gritar aos escândalos e ignorando o fato que as denúncias proviam dos partidos historicamente mais corruptos e mais comprometidos nos grandes desvios dos anos 90 ligados as privatizações.
E depois a tal da "justiça mediática", com jornais e televisões agindo como um verdadeiro super partido de oposição, transformaram sistematicamente os inocentes em suspeitos e os suspeitos em culpados. Tudo isso para "dar a satisfação a opinião pública" no mais completo desprezo das regras da civilização jurídica e da deontologia profissional.
Também a Igreja católica oficial não deu um grande exemplo de coerência democrática e de sensibilidade social. Ficou calada frente às numerosas violações dos direitos políticos e das garantias constitucionais e ignorou as melhorias reais nas condições de vida de dezenas de milhões de brasileiros, quais resultaram dos programas sociais do governo Lula.
Quem sabe?! Prevaleceu provavelmente nas altas hierarquias eclesiásticas a vontade de adequar-se aos humores conservadores das classes médias que constituem hoje o ponto forte da presença católica no Brasil (um país no qual a palavra aborto ainda é tabu). A igreja brasileira, é preciso lembrar, é aquela que ajudou o PT a nascer e a crescer nos anos 80 e 90, mas é também aquela que, em nome do anti-comunismo, apoiou nos anos 60 até o inicio dos anos 70 a ditadura militar.
Em relação aos padres progressistas que trabalham nos movimentos sociais de base, tem alguns que com pouco realismo pedem que o governo Lula dê uma forte acelerada no processo de transformações sociais e apóiam as posições radicais de alguns desses movimentos.
Na realidade, tudo foi usado nos meses passados para conseguir a renúncia ou até o impeachment de Lula: campanhas de cartas aos jornais, greves de fome, mini-invasões do parlamento, agressões físicas a dirigentes do PT, falsos "scoops" na imprensa, gravações forjadas, talk shows televisivos com insultos contínuos ao presidente. Porque não é formado, porque não fala inglês, porque se orgulha de ser filho de família pobre, porque é um imigrante nordestino, porque favorece na universidade os negros, porque viaja demais, porque é amigo de Fidel Castro, porque não quer brigar com a Bolívia, etc... Em suma, um concentrado de preconceitos e de verdadeiro desprezo de classe.
E depois também a acusação de preparar um "golpe branco" porque propõe uma lei de regulamentação de todo o sistema da informação. Um sistema que permite atualmente que governadores, deputados e senadores apropriam-se das freqüências e gerenciem a informação televisiva e radiofônica a fins puramente individuais e que gratifica as grandes emissoras com um "bolo" de 300 milhões de euros de isenção fiscal para tal de "horário eleitoral gratuito". E ainda Lula é atacado porque propõe ao congresso uma nova constituinte e que aprovem leis por uma reforma política eleitoral. Reforma absolutamente necessária para colocar fim ao escândalo de deputados que trocam de partidos a cada legislatura (são mais de 40%), e para reduzir as despesas de publicidade eleitoral (a eleição de um senador custa mais de 1 milhão de euros).
Em Agosto surgiu também uma nova acusação: o PT estaria atrás do PCC (Primeiro Comando da Capital) que organizou nos últimos meses rebeliões nos presídios e ataques a polícia nas ruas de São Paulo com dezenas de mortos. Lula havia proposto a utilização do exército, mas a proposta foi recusada pelo governo local comandado pela direita. Vice-versa, ficou claro que as acusações foram armadas pelos mesmos personagens que são envolvidos nos assassinatos de massa nas favelas, e na prática da tortura.
Apesar de tudo isso Lula resistiu e provavelmente será reeleito presidente do Brasil.
A pergunta é: como conseguiu?
Primeiro precisamos considerar que num sistema presidencialista é mais difícil mudar o chefe de governo do que num sistema parlamentar. E depois nesta vez a diferença de alguns de seus antecessores (Vargas, Kubistchek e Goulart) Lula pode contar com a lealdade dos comandos militares que respeitaram rigorosamente as próprias prerrogativas institucionais e que evitaram se envolverem na luta política. Mas importante também foi a não hostilidade do conjunto do mundo empresarial, seja em nível nacional ou no nível das multinacionais.
O que o "establishment" econômico apreciou foi o respeito aos acordos com o FMI , a luta contra a inflação , o apoio as exportações (com abertura de grandes mercados como Índia, China, países árabes), os grandes investimentos na área da energia tradicional (com o Governo Lula a produção interna do petróleo superou pela primeira vez a demanda), as pesquisas na área das energias alternativas (álcool, biodisel), o crédito barato para consumos populares, o câmbio livre.
Mas, sobretudo foi importante o método da negociação nas grandes questões econômicas e sociais. Nisso Lula cumpriu a promessa antes das eleições: aquela de enfrentar sempre todas as questões com a vontade de achar os pontos comuns entre os interesses contrastantes. Em suma o verdadeiro estilo de governo de um presidente ex-sindicalista.
Mas tudo isso não teria sido suficiente para impedir que Lula fosse triturado pela máquina do denuncismo e de uma oposição rancorosa e iliberal. Evidentemente teve algo mais. Primeiro: a personalidade de Lula. Lula reagiu sempre com calma, argumentando e recusando aceitar descer ao nível dos insultos que seu adversários usaram sistematicamente. Ele já havia falado disso no início de seu mandato. Ele não iria cair nas "baixarias" dos ataques pessoais e pedia somente para ser julgado ao fim de seu mandato e na base dos resultados de seu governo. E os resultados não faltaram!
Alguns dos resultados não foram particularmente positivos. É o caso do aumento do PIB que foi inferior em relação aos outros países da América Latina (porém superior ao do governo anterior).
Mas o que foi mais importante em relação ao consenso eleitoral foram os índices de melhoramento das condições sociais e econômicas das classes pobres. Essas classes fizeram a conta no bolso e constataram que nesses anos melhoraram os seus consumos alimentares, diminuiu o desemprego, cresceram os salários, melhorou o acesso a educação e ao sistema de saúde. E em algumas áreas historicamente marginalizadas chegaram finalmente os serviços de água encanada, da eletricidade, dos telefones e dos transportes. Por isso não é o tal de "cinismo dos pobres", que seriam insensíveis a exigência da ética na vida pública e que por isso continuariam a apoiar Lula.
Uma teoria essa, um pouco racista, que continua a ser divulgada na mídia depois que as pesquisas revelaram uma preferência por Lula entre os negros e os habitantes do nordeste que supera os 75%.
A realidade é que as classes pobres e marginalizadas que sempre foram as primeiras vítimas do clientelismo e da corrupção não acreditaram e não acreditam, apesar do contínuo martelamento da mídia, que os corruptos de ontem pudessem ser os moralizadores de hoje. E essas classes reconheceram também que Lula soube afastar rapidamente das próprias funções os que no partido e no governo erraram. E foi com Lula que a Polícia Federal e o sistema judiciário começaram agir com firmeza não somente contra os peixes pequenos do narcotráfico e do contrabando de armas, mas também contra os que através desses negócios enriquecem, corrompem políticos, compram jornais e se infiltram nas instituições.
É por isso que no auge da crise (quando o PT vacilava, os aliados se distanciavam e muitos intelectuais ficavam em cima do muro) o consenso ao Lula entre as classes populares nunca caiu, ao contrário, cresceu progressivamente. E foi esse consenso que levantou uma barreira contra todas as manobras que queriam acabar com o escândalo de um Brasil governado por um operário.
E essa nova unidade e "senso de classe" unidade das classes populares que hoje tiram o sono de uma parte da classe média e da elite. Por isso a maioria da população não vê nenhuma razão para votar no candidato de direita, Geraldo Alkmim, cuja característica principal, além de ser um convicto conservador, é de fazer parte do Opus Dei.
Em relação à candidatura da senadora Heloisa Helena do PSOL (o novo partido nascido de um racha da esquerda do PT) parece caracterizada mais de um espírito de revanche que de um coerente programa de alternativa à esquerda e a demonstração disso é a declaração da senadora contra a despenalização do aborto como prevista no programa de Lula para próximo governo.
Claro os jogos ainda estão abertos e nessas últimas semanas de campanha eleitoral na base de centenas de milhões de euros tudo pode mudar, assim como manobras destabilizadoras são sempre possíveis. Mas uma coisa é clara: se Lula ganha, será a vitória da razão e dos fatos contra a lógica dos preconceitos e das intrigas.
sábado, setembro 23, 2006
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