sexta-feira, setembro 29, 2006

A cortina de fumaça do falso moralismo

E-mail enviado para este blog por Gustavo Ferreira Santos, Professor de Direito Constitucional da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Católica de Pernambuco (os grifos são meus):

Caros amigos,

Estou muito preocupado com a radicalização do discurso moral, que tem arrebatado setores muito amplos da classe média, que havia apoiado Lula na outra eleição. Vejo que muitos são impactados pela cortina de fumaça que novo lacerdismo tem produzido.

Reafirmo a todos que encontro, na rua, na família, na universidade, que voto em Lula. Não tenho evitado o debate ético.

Não posso negar os problemas éticos que nos surpreenderam em diversos momentos. Muitas dessas denúncias levarão a processos nos quais pessoas serão inocentadas e outras condenadas. É isso que se espera do Estado Democrático de Direito: transparência no Estado e respeito a direitos fundamentais. Clamo pela punição de culpados e pelo direito de defesa de todos.

Mas sempre lembro às pessoas que, para além dessa onda moralista, estão em jogo concepções de mundo distintas. A ética é um pré-requisito. Todos os jogadores, na política, precisam observar um patrimônio comum de valores. Os que violam tais limites devem ser punidos. Mas a disputa política não se faz entre éticos e não éticos. Essa discussão produz uma política sem política. Com ela, poderíamos legitimar um nazista honesto.

O lacerdismo, de uma direita moralista, infernizou a vida de JK, que saiu do governo com a pecha de ladrão. A alternativa moralista, na época, foi Jânio.

Sendo eu um liberal e esmurrando minha esposa, não ficaria o socialismo mais legitimado. Não seriam as idéias liberais mais convincentes se eu, como socialista, espancasse meus filhos. Esses absurdos no campo pessoal são condenados e merecem punições, sem que as posições políticas em colisão sejam afetadas.

Temos um governo que com todas a dificuldades foi qualitativamente mais próximo de nossas idéias do que todos os anteriores. Discordemos ou não pontualmente sobre algumas medidas tomadas, o balanço é positivo para o governo. Por que então haveríamos de escolher outro candidato e outro partido para governar o país?

Reafirmemos os compromissos éticos, submetamos a julgamento os que se desviam das condutas esperadas, mas tenhamos consciência do que efetivamente está em jogo.

Espero que todos que ainda confiamos na afirmação das mudanças tenhamos ânimo suficiente para, domingo, levarmos a nossa visão de mundo à vitória, com Lula de novo.

Um abraço a todos,
Gustavo Ferreira Santos

2 comentários:

Anônimo disse...

e vem aí: Segundo Turno. Será que Lulla faltará ao debate?

É Lulla de novo com a força do roubo!

Humberto Capellari disse...

Primo rico e primo pobre nas eleições 2006
É animador constatar que o Brasil vive uma "febre" de busca incessante pela ética e moralidade. Desvios de conduta na vida pública não serão mais tolerados e sim, punidos.
A vanguarda nessa busca, como não podia deixar de ser, é a classe média paulistana, portadora de reputação ilibada quando o assunto é o bem comum e o interesse coletivo.Ora, isso é comprovado pelos números do primeiro turno das eleições.
Nos bairros de Indianópolis e Jardim América, para dar dois exemplos apenas, os candidatos Serra e Alckmin conseguiram amealhar cerca de 70% dos votos destes locais, para os cargos os quais disputam.
O recado é claro:
Os auto-intitulados "cidadãos de bem" exigem a maior lisura e "qualidade ética" nas relações sociais e políticas, e o mero fato de Paulo Maluf ter sido eleito de forma avassaladora, não configura fraqueza, obstáculo ou contradição.
Prova disso é que, no 2º. turno, estes privilegiados nos campos moral e material comparecerão às urnas devidamente munidos de certidão negativa emitida pela Receita Federal, atestando seu compromisso ético e tributário. Alguns, mais afoitos, portarão as guias do INSS que comprovam que os recolhimentos e contribuições devidas estão em dia. Exemplo a ser seguido.
Para ficar apenas nos dois bairros referidos acima: se caso pudéssemos ver os votos destes eleitores, quantos deles não teriam contribuído para a consagradora eleição do - carinhosamente chamado - "nefasto" ?