sexta-feira, setembro 15, 2006

Bancada federal do PT deve aumentar, diz IUPERJ

Ao contrário da maioria das projeções, um estudo do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) mostra que o PT vai eleger em outubro uma bancada maior na Câmara. Segundo a pesquisa o partido deve eleger até 105 deputados federais, disse o editor-executivo da revista Carta Capital, Maurício Dias, em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta sexta-feira, dia 15 (clique aqui para ouvir). O estudo mostra que há um casamento entre a eleição para presidente a eleição proporcional.

A bancada do PSDB deve crescer 5%, puxada pela votação de Geraldo Alckmin. O PFL deve manter a atual bancada, enquanto o PP “desaparece lentamente”, assim como o PMDB, explicou Maurício Dias.

O jornalista explicou que o PT cresce ao “ocupar o espaço da esquerda trabalhista, jogando o PSDB para a direita”. Dessa maneira, o PMDB fica no centro.


Leia a íntegra da entrevista com o jornalista Maurício Dias:
Paulo Henrique Amorim: Maurício, a pesquisa é sobre o Congresso ou a Câmara?

Maurício Dias: A Câmara dos Deputados. É um estudo feito pelos professores Fabiano Santos e Alcir Almeida, do Núcleo de Estudos Sobre o Congresso do Iuperj. A surpresa deste estudo, que foi feito em maio mas está sendo divulgado agora, é que todas as análises sobre a votação proporcional, em função da crise do caixa dois, projetavam uma queda muito grande para a bancada do PT, que elegeu 91 deputados em 2002. Essa associação da queda, além de estar apoiada na suposição de que haveria um impacto grande da crise na eleição, tem uma relação com o fato que todo mundo casa eleição de deputados com eleição estadual. O Fabiano fez um estudo a partir dos fatores nacionais, ou seja, eleição presidencial influenciando na eleição proporcional. Ele tem uma referência muito boa que é 98, com o presidente Fernando Henrique, o PSDB cresceu muito. Em 2002 o PT cresceu muito. Ele não acredita que haja uma desvinculação – a imagem do presidente Lula está muito vinculada ao PT, por mais que tenham escondido a estrela, o vermelho. Ele (Fabiano) faz uma projeção mínima: ou a bancada vai se repetir, com 91 deputados, e pode chegar até 105.

Paulo Henrique Amorim: A bancada está hoje em 91?

Maurício Dias: Hoje não. Com a migração para o Psol está em 82. Acontece que ele não vê racionalidade nas análises que vêem impacto negativo na bancada do PT em função das denúncias de corrupção e impacto positivo na do PMDB. Ele não vê por que em função de ética você sai do PT e corre para o PMDB, que não é necessariamente um partido ético – não digo que seja antiético – mas não tem como identidade a bandeira da moralidade e da ética.
Paulo Henrique Amorim: E por extensão nem para o PSDB?

Maurício Dias: Nem para o PSDB. O PSDB vai crescer 5% em função da votação do Alckmin, ele projeta uma votação de 30%. Essa análise é feita em cima da suposição de que o Lula ganha no primeiro turno. Resta também outra suposição – que a corrupção não faz diferenciação entre os partidos na mente do eleitor.

Paulo Henrique Amorim: É mais ou menos o que o Montenegro já tinha descoberto através de uma pesquisa do Ibope, né?

Maurício Dias: Pois é. Além de tudo o seguinte - isso não é da pesquisa, é uma dedução que eu faço – que na verdade inflaram uma crise que tem mais de moralismo do que ética. Está mais para Lacerda e FHC que para Platão e São Tomás. O resumo bom seria esse. Além de tudo, o PMDB vem caindo sistematicamente. Ele mostra também uma estabilização na votação da Câmara de cinco grandes partidos: o PT, o PMDB, o PSDB, o PFL e o PP. Desses todos o PFL tem mantido, PMDB tem mantido, PT tem crescido, o PSDB vai crescer nesta eleição e o PP está desaparecendo lentamente. Esses são os chamados partidos fortes, que têm no mínimo 10% da bancada da Câmara.

Paulo Henrique Amorim: E desses quem está em crise?

Maurício Dias: Quem está em crise brava é o PMDB porque, no entender dele, ocupou um espaço de esquerda trabalhista. Isso jogou o PSDB para a direita. É o partido hoje que tem mais confiança do eleitor conservador. Ele acha inclusive que entendeu mais essa posição do PSDB no espectro político foi o ex-presidente Fernando Henrique. Qual é o problema do PMDB? Porque a esquerda, ocupada pelo PT, a direita, pelo PSDB, e o PMDB ficou no centro. A lógica da política partidária no Brasil, eleitoral, é centrípeta, é dos extremos para o centro. E o PMDB não tem nada o que fazer, não sabe o que ocupar, então, fica nesse centro sendo namorado pela direita e pela esquerda.

Paulo Henrique Amorim: E o PFL? Qual é o destino do PFL?

Maurício Dias: O PSDB é um partido conservador, não tem vínculos com a ditadura militar, com o autoritarismo militar. O PFL e o PP têm, eles dois nasceram, são da costela da Arena, que era o partido que sustentava os generais. Essa é a posição mais reacionária do espectro político. Agora, o PFL tem mantido uma votação. Agora, a PP vai se esvaindo, assim como o PMDB também.

Paulo Henrique Amorim: Que interessante isso.

Maurício Dias: É uma análise interessante, que tem uma racionalidade. As outras análises são meio à base de suposição.

Paulo Henrique Amorim: O fato de esse estudo ter sido feito em maio, os últimos acontecimentos o alterariam ou você acha que as condições básicas estão mantidas?

Maurício Dias: O Marcos Coimbra, do Vox Populi, me disse isso na matéria...

Paulo Henrique Amorim: Isso que você vai dizer agora está na matéria da Carta Capital?

Maurício Dias: Ele não é tão otimista quanto o estudo feito pelo professor Fabiano. Mas ele acha que aquele desastre anunciado que, aliás, eu expresso com a famosa frase do presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen, você se lembra dela?

Paulo Henrique Amorim: Qual?

Maurício Dias: “Ainda bem que essa raça vai acabar”.

Paulo Henrique Amorim: Interessante é que ele abandonou a política. Ele não é candidato, não tem filho candidato. A bandeira dele, em Santa Catarina, afogou-se.

Maurício Dias: Afogou-se, exatamente. Voltando à sua pergunta, pode ocorrer, talvez não com a mesma intensidade, o que ocorreu na eleição de 2002. Nos últimos dez dias, lembra o Marcos Coimbra, o PT cresceu. O Nilmário Miranda, a dez dias da eleição, tinha 12% e chegou a 30%. A Serys Slhessarenko, do PT, lá no Mato Grosso, foi eleita senadora ganhando do emblemático Dante de Oliveira. O mesmo aconteceu também com a Ana Júlia, no Pará. Todos dispararam. Eu achei muito curioso, inclusive, não estou fazendo aqui nenhum vaticínio, mas a pesquisa do Ibope mostra o crescimento do Mercadante em São Paulo. Você viu que ele cresceu 7 pontos.

Paulo Henrique Amorim: Mas o Serra tem uma vantagem muito grande.

Maurício Dias: Não Paulo, se você olhar, são 7 pontos a vantagem do Serra sobre os outros. Não é tão mais. Não estou dizendo que o Serra não vai ganhar no primeiro turno. Estou dizendo que em função dessa lógica de que o PT tem tradicionalmente uma chegada muito forte, esse crescimento do Mercadante alerta para essa possibilidade. Mas quer dizer que isso vai ocorrer.

Paulo Henrique Amorim: Ou seja, você acha que, em suma, o estudo do Iuperj demonstra que a “crise da podridão”, segundo Fernando Henrique Cardoso, o eleitor não tomou conhecimento dela?

Maurício Dias: Não há nenhum herdeiro disso. O PSDB, que empunhou essa suposta bandeira da ética, ou mesmo os barões do PFL baiano também não são herdeiros.

Paulo Henrique Amorim: E o PFL baiano vive uma situação muito peculiar que é a troca de comando do Antônio Carlos para o Paulo Souto.

Maurício Dias: Isso também é um outro fator interessante.

Paulo Henrique Amorim: Se é que não vai haver mais ainda com a eleição de um senador que seja da corrente direta do Antônio Carlos, né?

Maurício Dias: O fato é que está dando uma balançada. Agora, ele acompanhou todas as projeções das eleições após 1990. E todas as projeções feitas erravam porque nunca consideravam o crescimento do PT. Desde 1982 vem crescendo. É possível que o partido possa repetir a bancada e deixar apenas ter perdido o que poderia ter ganhado. A crise pode ter tirado, talvez, a perspectiva de crescer muito mais. O Montenegro acha, de qualquer maneira, que a bancada vai cair, o Montenegro do Ibope. Mas ele já refaz um pouco aquela visão de que o partido sofreu um impacto com repercussão nos próximos 30 anos. Ele acha que tem impacto, não vai fazer a mesma bancada, não acredita também que será um desastre, aquilo que se prenunciava, aquelas nuvens negras que ficaram em cima do governo e do PT no ano passado.

Paulo Henrique Amorim: A chave da questão é saber se o PT repete a bancada de 91 deputados ou não?

Maurício Dias: Exatamente. E esse estudo projeta isso ou até um pouco mais, até 105 deputados.

Paulo Henrique Amorim: E você que está aí no Rio, o que você está achando do movimento aí: o Sérgio Cabral está absoluto ou a Denise (Frossard) está subindo?

Maurício Dias: A Denise está em viés de alta. E o seguinte: se ela for para o segundo turno, os líderes políticos acreditam que ela tem grande chance de ganhar. E dizem uma coisa: apoio do presidente Lula o Sérgio Cabral não terá.

Paulo Henrique Amorim: Por quê? Porque Sérgio não o apoiou?

Maurício Dias: Não o apoiou, exatamente. Além de tudo, o Sérgio está fazendo uma campanha forte para a eleição do senado do Dornelles. A candidata apoiada pelo governo é Jandira Feghali, que está na frente.

Paulo Henrique Amorim: Está empatada ou está na frente?

Maurício Dias: Está na frente. Está seis pontos à frente, mas já teve muito mais. E o Sérgio Cabral caiu de cabeça na eleição do Dornelles. E o César Maia, com a Denise Frossard, vem correndo por fora. E agora três pontos percentuais separam a existência do fim da eleição no segundo turno para a existência do segundo turno. Está quase dentro da margem de erro.

Fonte - http://conversa-afiada.ig.com.br

4 comentários:

Anônimo disse...

Vai aumentar a bancada do PT no Inferno!
a medida que cada um morrer (assassinado por seus próprios membros) vai assumindo uma vaga junto ao Parlamento de Lúcifer!

Fidel deve chegar mais cedo inclusive, para uma palestra rápida de uma semana...
Tá com dó? se filie no PT participe de um cargo e vá junto...

Clarice disse...

chora...
não vou ligar
chegou a hora
vais me pagar
pode chorar
pode chorar...

Ricardo disse...

Desculpem os leitores, mas a mãe do anônimo vai estar lá também.

Anônimo disse...

Ontem, dia 13 de setembro de 2006, entreguei no diretório municipal do PT de xxx o meu pedido de desfiliação. E fiz isso com lágrimas nos olhos e um
nó na garganta.

Afinal de contas, esse ano completei 17 anos de militância partidária.
Iniciada quando ainda era estudante do segundo grau, participava do
movimento estudantil, fui do Grêmio do Colégio Estadual. Fiz
parte da executiva municipal do PT por dois mandatos entre 1992 e 1996.
Participei ainda do movimento estudantil na Universidade Estadual de xxxxx, onde fiz parte do Centro Acadêmico xxxx e do Diretório
Central dos Estudantes. Também participei das duas gestões do PT na
Prefeitura de xxxxx 1993-1996 e 2001-2004.

Ainda nesse período, durante a passagem do PT pela administração municipal
(1993-1996), em vários momentos a democracia interna do partido foi ferida
pelo grupo majoritário (Articulação) que nunca conseguiu conviver com a
pluralidade que existia internamente, e muito menos com a concepção que o
partido deveria preservar sua autonomia, e não, se tornar apenas correia de
transmissão do governo municipal.

Fiz parte de um grupo bastante eclético que tinha em seu seio, desde
ex-membros do PCBR, simpatizantes e membros da DS e da Força Socialista,
independentes, até ex-integrantes da Articulação que romperam com a linha
seguida pelo grupo majoritário. Tínhamos em comum a defesa da democracia
interna e dos princípios fundadores do PT.
Esse processo de disputa interna culminou em 1997 com a saída de cerca de
setenta companheiros e companheiras que a partir daquela data concluíram ser
irreversível o rumo adotado pelo PT de burocratização e priorização da
política eleitoral em detrimento do seu papel histórico de organização da
sociedade.
Naquele momento me desliguei do grupo e fiz a opção de permanecer filiado,
pois acreditava que o partido ainda estava em disputa e que esse processo
poderia ser revertido. Acreditava também que ainda tínhamos um papel
histórico a cumprir e que não existia outra agremiação partidária para
efetivamente exercer a disputa com a burguesia.

Acredito que principalmente após as derrotas eleitorais de 1994 e 1998 o
partido vem passando por uma regressão política, ganhando espaço a tese de
que necessitávamos "mudar o discurso" e "fazer alianças com outros setores
da sociedade" para ganhar as eleições presidenciais. Gradativamente o PT
abriu mão de ser o PARTIDO DOS TRABALHADORES, e passou a fazer o discurso
que deveria representar toda a sociedade, abrindo mão da perspectiva
classista da sociedade. Requisito essencial para quem defende a opção
socialista.

Esse processo aconteceu em momentos e em graus diferentes nas diversas
regiões do país. Contudo ficou exposto de maneira mais sensível e se agravou
com maior rapidez em alguns lugares onde exerceu o poder institucional.

Para consagrar essa nova cara o PT "paz e amor", deixou de lado a defesa do
socialismo, a luta pelo fim do pagamento da divida externa, e substituiu as
bandeiras de luta históricas da esquerda brasileira pela tentativa de se
afirmar como "os donos do monopólio da honestidade e da ética" ( discurso
que não se sustentou por muito tempo). Essa mudança chegou ao ponto máximo
com a atual política de alianças onde "cabe todo mundo", PL, PTB, PMDB, e
tantos outros...
Com a vitória de Lula esse processo se reflete nas medidas adotadas pelo
governo. A Reforma da previdência que tira direitos dos trabalhadores, as
PPPs neo-liberalizantes, o projeto de reforma sindical e trabalhista, a
posição do governo com relação aos transgênicos, a falta de uma política de
demarcação das terras indígenas e de quilombos, a lentidão para os processos
de reforma agrária, a manutenção das metas de superávit primário e os altos
juros numa continuação do monetarismo herdado de FHC.

Alguns argumentariam que o governo não é socialista ou ainda que não se
trata de um governo do PT e sim de um amplo leque de aliança. Mas como o
partido reagiu diante de tudo isso? Assinou embaixo.

Por tudo isso, acreditei que o PED poderia representar um momento de
reflexão e mudança de rumos, tendo em vista que aconteceu exatamente num
momento em que as práticas do grupo majoritário (negociatas e corrupção,
compras de votos no congresso, Land Rover, etc) foram exaustivamente
expostas. Era alto o nível de indignação dos autênticos petistas.

Mas a verdade é que, com o processo de inchaço do partido, com filiações
feitas sem critérios apenas para se transformar em eleitores nos momentos de
disputa , e ainda com o pagamento de contribuições partidárias feitas pelos
candidatos e com o transporte sistemático de eleitores no dia das eleições,
esse processo ficou completamente descaracterizado. E se torna, a meu ver,
junto com o conjunto das observações feitas acima, apenas mais um sinal do
esgotamento histórico do PT.

Por tudo isso acredito que não faz sentido a minha permanência no PT. Busco
a construção de instrumentos de luta pela construção do socialismo. Onde
socialismo não seja mera retórica.

Aos companheiros de tantos anos de convivência, fica a convicção que valeu a
pena. Foram tantas vitórias, e mesmo as derrotas significaram bastante na
construção da minha história de vida. Espero que ainda nos encontremos,
lutando do mesmo lado, pelos ideais que me ligaram ao partido, e contra os
inimigos do povo.
E para os que ficam e lutam contra o neo-liberalismo, que ainda acreditam na
necessidade histórica do socialismo, fica mais que a vontade, a certeza que
ainda nos veremos pela frente.

(carta que recebi de um amigo justificando sua saída..)


Saudações