domingo, maio 28, 2006

Mais sobre veja: falta de ética é pouco!

Hoje eu tive a oportunidade de ter em mãos a última veja, do dia 24/05, em que ela justifica a "não-denúncia" da edição anterior e desce a um nível ainda mais baixo do que poderíamos acreditar possível ao "noticiar" a reação do presidente Lula à tal matéria. Eu já tinha lido e ouvido diversos comentários decorrentes da reportagem, mas só hoje respirei fundo e fui lá, conferir a palhaçada. Não pretendo desfiar aqui novamente muito do que já foi falado, inclusive neste mesmo blog. A falta de ética e de vergonha, o antijornalismo a serviço de intere$$es particulares, a podridão que exala daquele semanário já é assunto mais que dissecado. Mas me chamou atenção o fato de não ter visto (o que não significa que não existiu...) nenhum comentário sobre um aspecto particular. Acompanhem comigo.

Na "matéria" Dantas fez, entregou e continua operando(!), a revista faz um retrospecto da sua "apuração exemplar" (sic) do caso, sempre deixando claro que tem tudo registrado. Veja conta que seu contato com o banqueiro teve início em 15 de agosto de 2005, a convite deste, que começou aí a soltar pequenas pistas. No dia 13 de setembro, "chega à redação de Veja um envelope da Federal Express contendo dezoito páginas: dezessete com detalhes sobre a investigação da Kroll sobre o escândalo da Parmalat; a última traz um quadro com supostas contas bancárias em paraísos fiscais associadas a 'Paulo', 'Márcio' e 'Romeu' (...)" [p.53]. Em 21 de setembro, Veja recebeu outra lista, com dezessete supostas contas. Novos documentos são entregues à revista nos dias 25 de outubro e 10 de novembro.

Finalmente, em maio de 2006, "diante da versão de vítima apresentada por Dantas e para impedir que o banqueiro do Opportunity viesse a utilizar os dados como instrumento de chantagem - o que de fato já estava fazendo - Veja decide quebrar o acordo feito com o banqueiro e publica o dossiê." [p.55]

O último parágrafo da reportagem diz (grifos meus): "É tudo fantasia? Na esperança de que agora a apuração caminhe pelas vias oficiais, Veja, na semana passada, entregou todos os 41 documentos de que dispunha ao procurador-geral da República – única autoridade com estofo ético e poderes para investigar o caso."

Agora eu pergunto: não sou advogada, mas ou eu muito me engano ou qualquer cidadão comum que tenha conhecimento e acesso a provas de crimes e não os entregue à polícia pode ser considerado cúmplice e indiciado também. Isso não vale para órgãos da imprensa? A veja pode admitir que tinha um acordo com o acusado e demorar OITO MESES para entregar documentos importantes à, segundo ela mesma, "única autoridade com estofo ético e poderes para investigar o caso" e tudo fica por isso mesmo? Não estou falando de processo sobre violação da ética jornalística, como bem sugeriu Venício de Lima no texto abaixo, estou falando de processo criminal mesmo! Por quê veja fez acordo com um "cidadão com o histórico policial de Daniel Dantas"? Por quê veja desfez esse acordo? E por quê o desfez agora? Alguém acreditou mesmo que seu único interesse era jornalístico, além da nobreza de evitar que o governo, coitado, fosse chantageado?

Manipulação dissimulada de fatos infelizmente não é novidade no nosso país, mas isso aí pra mim, sinceramente, é bandidagem mesmo, sem eufemismos!

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