quarta-feira, maio 24, 2006

Imagem de Alckmin não transmite nada

Por Antonio Risério

Dias atrás, um amigo me explicava, bem-humorado, a razão de seu infortúnio. Ia andando pela orla do mar, entre o fim da tarde e o começo da noite, quando viu uma jovem senhora vindo em sua direção. Segundo ele, uma mulher mignon, morena, extraordinariamente sedutora, exalando sensualidade, fogosa, tesão da cabeça aos pés. Enfim, um vulcão em miniatura. Como a Tereza Collor, nos dias do seu esplendor - disse, em comparação tipicamente geracional.

Bem. Ela passou por ele, que, paralisado, mal conseguiu virar a cabeça para acompanhar os movimentos corporais, a dança, o erotismo muscular daquela mulher fazendo a sua caminhada cotidiana. Pensou então para si mesmo - minhas amigas feministas que me perdoem, mas, se encontro essa mulher numa praia deserta, ela vai me dar de qualquer jeito. Bem, no dia seguinte, ele estava na cama. Não com a presa cobiçada, infelizmente. Mas derrubado por uma virose. Concluiu, então, que foi castigo divino. Deus também deveria estar contemplando aquela fêmea e, enchendo-se de ciúmes, tirou o rival de cena.

Dei menos sorte. Estou aqui, de cama, também flechado por uma virose, sem ao menos ter passado pela experiência estética que desnorteou o meu querido amigo. Pelo contrario, esta estranha virose (seja lá o que isto signifique; os médicos sabem cada vez menos do que falam), sem tosse e sem catarro, mas me deixando com a sensação de ter sido atropelado por um trator, parece ter vindo do nada.

Ou talvez pior. De não ter conseguido evitar, ultimamente, a visão - não de coloridas terezas - mas de políticos seriosos e cinzentos, com as poses, palavras e paletós de sempre. Nesse caso, admito, meu castigo foi pequeno, muito pequeno. E olha que, deixando expressões bem pavorosas de lado, eu tinha me concentrado, e apenas por instantes, numa aparição do Geraldo Alckmin na televisão. Ou seja, me concentrado em algo inteiramente inexpressivo. Numa figura insípida, inodora e incolor - como dizíamos nos velhos tempos do ginásio. O celebre picolé de chuchu, de que fala meu amigo Jose Simão.

Sei que a candidatura do Alckmin patina. E que os últimos acontecimentos em São Paulo abriram um tremendo rombo no casco de seu navio - cujos comandantes, de resto, parecem não se entender nem por gestos, deixando o César Maia a beira de um ataque de nervos. Mas não é sobre isso que quero falar. Acho que o Alckmin não vai para lugar nenhum, a partir do seu próprio corpo. De seu travamento no chão. De seus gestos. De suas inexpressões faciais.

Ele não consegue transmitir absolutamente nada. É incapaz de afetar o meu humor, mesmo no meio de uma virose, que tem me deixado, ao mesmo tempo, entediado e irascível. E acho que nem dez anos de curso intensivo de molejo e traquejo corporal com Lázaro Ramos podem dar um jeito nisso. Estranhíssima esta capacidade que um sujeito pode ter, de não carregar consigo qualquer significado próprio, qualquer cor distintiva, qualquer traço mais saliente, qualquer carga elétrica.

Tasso Jereissatti diz que, como o candidato não tem nenhum carisma, sua campanha terá de ser agressiva. Claro que não vai dar certo. Não conheço Alckmin pessoalmente. Pode até ser que, dentro de quatro paredes, ele seja do tipo que grita e bate na mesa. Mas estou falando de sua imagem pública. Do que ela transmite - ou melhor, intransmite. O marketing pode puxar para uma ou outra direção a imagem de um candidato. Mas não é capaz de transformar em cowboy quem a cegonha trouxe ao mundo para ser pároco, por exemplo.

Numa campanha agressiva, Alckmin vai soar postiço. Ainda menos convicto do que mostra ser. Mas isto ainda não é o mais grave. Pelo menos para mim, a figura de Alckmin não passa o mais leve traço de confiança. No "Grande Sertão", Guimarães Rosa diz que confiança é algo que você adquire no quente da pessoa. E o que a figura de Alckmin me sugere, em suas aparições públicas, tem mais a ver com a frieza esquisita das rãs. (grifo do blog)

Esse ensaio foi publicado hoje no site Terra Magazine, onde Antonio Risério, poeta e antropólogo, é colunista.



Orlando Brito/Divulgação
Risério: figura de Alckmin é inexpressiva

3 comentários:

Marcela disse...

olha! interessante isso aqui... posso ficar invinu sempre? hehehe

PS: morro de medo de virar petista pq meu o sangue é vermelho e as hemáceas em formato de estrelinha... uuuui

shikida disse...

guimarães rosa e rãs

Lud falando mal de coração ;-)

Anônimo disse...

XUXÚ,MAXIXE,e agora como ele mesmo falou:MANDACARU, ele só e comparado a alguma coisa espinhosa,está parecendo mesmo é um OURIÇO, aquele bicho que todos tem medo de se aproximar, ele espeta a todos que escostam nele....