segunda-feira, janeiro 08, 2007

FHC ESTÁ COM SERRA E NÃO ABRE

Por Paulo Henrique Amorim


. FHC escreveu neste domingo, dia 07, o artigo “Ano Novo, valores permanentes”, no Estadão e no Globo.

. Não tem nenhuma idéia nova, o que reforça a proposta de chamá-lo de “Farol de Alexandria”, aquele que lançava luz sobre a Antiguidade.

. Uma leitura mais atenta, porém, revela que o artigo tem o propósito de exaltar José Serra, o “presidente-eleito” (clique aqui).

. FHC diz que os discursos de posse foram um desastre. Porém, entre os que “escaparam da retórica de praxe” está o novo Governador de São Paulo.

. FHC, líder da campanha da moralidade, chama a corrupção dos dias atuais de “praga” (no discurso de posse, Serra falou em “crise de valores morais”).

. No Governo do Farol de Alexandria, o Procurador Geral da Republica era conhecido como o “Engavetador” Geral da Republica.

. O Governo do Farol de Alexandria nada apurou sobre: a compra de votos para a reeleição dele (FHC); a compra dos equipamentos americanos para o Sivam (*); “a pasta rosa”; as relações entre a Previ, a Funcef e a Petros e Daniel Dantas; a Previ e seu (e de Serra) chefe de campanha, Ricardo Sergio de Oliveira; MarkaFonteCindam; as contribuições do Banco Bamerindus à primeira campanha presidencial de FHC. Sobre tudo isso, o silêncio absoluto.

. E tem mais: um próximo livro de Luis Nassif (clique aqui) vai revelar a relação entre a paridade do real com dólar no lançamento do Plano Real e a posição da carteira do economista André Lara Rezende. (*2)

. FHC demonstra indignação com o fato de Ricardo Berzoini (ele não cita Berzoini) “responsável político direto maior (sic) pelo famigerado dossiê anti-tucano” voltar à presidência do PT.

. A volta de Berzoini à Presidência do PT é seguramente uma asnice típica do PT de São Paulo.

. Porém, FHC deve ter sido apanhado numa armadilha. Quem disse que Berzoini ia ser indiciado foi a Folha de S. Paulo. Não foi a PF.

. E algum tucano de bom-senso deve lembrar a FHC que não é boa idéia remexer nesse assunto.

. A compra de ambulâncias superfaturadas começou com José Serra, no Governo Fernando Henrique Cardoso. Atingiu seu clímax na gestão Barjas Negri, no Governo FHC. E o empresário Abel Pereira, intermediário entre Negri e os vendedores de ambulâncias superfaturadas, foi indiciado (clique aqui).

. Portanto, o chamado dossiê “anti-tucano” é “anti-tucano” porque a irregularidade começou no Governo FHC.

. Uma coisa é uma coisa; outra coisa é outra coisa – diz o filosofo Juarez Soares.

. Uma coisa é o superfaturamento de ambulâncias. Outra, a compra do dossiê.

. Sobre a compra do dossiê, o Senador Mercadante (“hoje quase obscuro”, segundo FHC) terá que se explicar.

. Sobre a compra de ambulâncias, é possível que José Serra, Barjas Negri e FHC tenham que se explicar, se, no Brasil, se quiser acabar com a “praga” da corrupção.

. FHC, o Farol de Alexandria, destaca uma frase do discurso de posse de Serra: como escapar “do embaraço da escolha paralisante entre estabilidade estagnação”.

. FHC não entendeu a sutileza. Ou perdeu a memória. A campanha contra a “estabilidade paralisante” foi o que orientou o trabalho do Ministro do Planejamento Jose Serra, do Governo FHC, em sua batalha incansável para substituir o Ministro da Fazenda, Pedro Malan.

. A tal ponto, que ainda no primeiro mandato, quando o Congresso parecia inteiramente submisso ao Presidente FHC, a única oposição que contava era a do Ministro Jose Serra.

. E aparentemente Serra tinha razão. Nos quatro primeiros anos de FHC, o PIB cresceu 2,57%, na media.

. Nos oito anos de FHC, o PIB cresceu, na média, ainda menos: 2,33%.

. No último ano do primeiro mandato, 1998, o crescimento da economia foi 0,1%. Não, não é erro de imprensa: foi de ... preste atenção ... 0,1% !

. Nos dois governos FHC, o crescimento da economia foi inferior ao do primeiro mandato do presidente Lula.

. FHC também critica o sistema eleitoral que “desvincula o eleitor dos representantes”. Ou seja, vem aí a campanha pelo voto distrital.

. Em conseqüência, não demora muito e FHC voltará a defender o parlamentarismo (que Serra também defende), sistema que os brasileiros repudiaram em dois plebiscitos.

. (Os tucanos defendem o parlamentarismo quando estão na oposição).

. Por fim, FHC faz uma observação que deixaria o conselheiro Acácio a morrer de inveja: “A pedra de toque da democracia é a cidadania ancorada na idéia de justiça: todos são iguais perante a lei”.

. Inacreditável! Que originalidade!

. Mas, FHC comete uma imprudência. Ao exaltar - de forma originalíssima - o império da lei, FHC usa uma expressão que deveria ser extirpada do dicionário tucano (serrista).

. FHC fala em “segurança dos contratos – garantia que interessa ao mercado e a cada pessoa”.

. Mas, não foi o Governador Serra quem denunciou os contratos assinados por Covas e Alckmin?

. Qual a garantia do mercado? Como assegurar o império da lei?

. Apesar dessas aparentes divergências, Serra e FHC estão mais unidos do que nunca. O artigo de FHC, no fim das contas, é a exaltação de Serra, e o completo esquecimento de todos os outros tucanos, que tomaram posse e fizeram discurso, especialmente de Aécio Neves.

. FHC está com Serra e não abre.

(*) Eu era repórter da Globo em NY e fiz uma reportagem que demonstrava que o Ministro do Comércio do Governo Clinton, Ron Brown, contou ao Senado americano que a empresa americana Raytheon vencera a concorrência ANTES de o Senado brasileiro apreciar a matéria.

(*2) Nassif me contou recentemente que está para terminar um livro que, entre outras coisas, demonstra que há uma relação entre a disparatada relação de 1 para 1 entre o Real e o Dólar e a carteira do investidor (e esporadicamente servidor publico) André Lara Rezende.

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