Por Franklin Martins
A oposição deixou claro ontem no Congresso que está inteiramente perdida. Na Câmara, foi derrotada ao propor a elevação do índice de reajuste das aposentadorias de 5,01% para 16,67%, medida que, se levada à prática, produziria um rombo nas contas públicas de R$ 8 bilhões. No Senado, comemorou em meio a gargalhadas a aprovação do projeto de Efraim Morais (PFL-PB), determinando o pagamento de benefício natalino no “Bolsa Família”. A novidade representa um custo adicional de R$ 700 milhões para o programa.
Nos discursos, os oposicionistas carregaram nas ironias: como pode um governo a favor dos humildes e dos aposentados ser contra medidas que botam mais dinheiro no bolso desses segmentos? Nas rodinhas de parlamentares, deputados e senadores do PFL e do PSDB divertiam-se por julgarem que estavam metendo o PT e seus aliados numa tremenda saia justa. Mas até que ponto isso é verdade? Não será a oposição que está entrando numa fria ao fazer brincadeira com coisa séria?
É bom lembrar que, no caso das aposentadorias, a oposição já tinha logrado aprovar no primeiro semestre o reajuste de 16,67%. Lula vetou-o, com o argumento de que a emenda era demagógica e eleitoreira. Não sofreu qualquer desgaste sério por isso, tanto que venceu as eleições com folga, inclusive entre os aposentados. No episódio, quem ficou mal na fotografia foi a oposição, que apenas montou uma armadilha para seu candidato na campanha eleitoral. Alckmin, que pregava um corte severo nos gastos públicos, foi obrigado, por honra da firma, a defender o reajuste irreal nos benefícios vetado pelo presidente. Ou seja, Lula não perdeu votos, mas Alckmin perdeu discurso.
Alguém acredita que, agora, ao patrocinar a aprovação do 13º benefício, a oposição conseguirá tirar do governo a paternidade do “Bolsa Família”? É claro que não. Ainda estão frescas as seguidas declarações de caciques do PSDB e do PFL contra o programa, muitas vezes rotulado pejorativamente de “Bolsa Esmola”. No máximo, a pirueta natalina passará a idéia de que a oposição não é coerente e, no afã de desgastar o governo, dispara para tudo que é lado. De quebra, dará a Lula oportunidade, mais uma vez, de fazer o discurso da seriedade fiscal.
Bem disse o historiador inglês Kenneth Maxwell, em entrevista recente à Folha de S. Paulo, que o Brasil está precisando de um partido conservador, que se assuma como conservador. Poderia o PFL ser esse partido? Talvez, mas antes precisa abandonar as brincadeiras juvenis do senador Efraim Morais, apoiadas com entusiasmo colegial pela bancada do partido no Senado. Poderia o PSDB ser essa alternativa? Talvez, desde que os líderes tucanos não tivessem vergonha de defender o processo de privatização e de reforma do Estado do governo Fernando Henrique. Na campanha, em vez de travar o debate político, preferiram vestir seu candidato a presidente com um jaleco cheio de logomarcas de estatais. Fizeram mais ou menos o que o senador paraibano fez agora com o projeto do 13º da “Bolsa Família”.
Não dá para entender uma oposição que não defende aquilo em que acredita e ainda morrer de dar risadas quando tromba com seu próprio programa.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário