15 de Novembro de 2006 @ 12:05 por Alceu Nader, do Contrapauta
Estadão manipula informação sobre crítica ao apoio de Lula a Chávez
O truque é velho e manjado, mas volta e meia reaparece na imparcialíssima e irrepreensível imprensa brasileira. A prestidigitação consiste em dar voz a uma instituição – de preferência, alguma que tenha respeito público – para a projeção de uma opinião contundente na primeira página, quando, na verdade, quem fala é somente uma pessoa ligada à mesma instituição. Se a leitura ficar nos títulos, comeu-se gato por lebre.
O Estado de S.Paulo traz uma dessas mercancias na edição de hoje. Na chamada de primeira página, lê-se: “Conselho Eleitoral da Venezuela critica Lula”. Logo abaixo, lê-se que o presidente brasileiro foi criticado “por um diretor do Conselho”. Na p. 4, ocupando as seis colunas, de novo, o título: “Conselho Regional da Venezuela vê intervenção grosseira de Lula no país”, mas apenas no final do quinto parágrafo é que se lê que o Conselho, uma organização independente que existe para organizar e fiscalizar as eleições no país vizinho, tem cinco diretores e que o diretor usado como ventríloquo para falar pelo órgão, Vicente Díaz, “é o diretor mais próximo da oposição”.
Três agências assinam a reportagem reeditada pelo Estado – Associated Press, Agência France Press e EFE, da Espanha. Breve visita ao jornal El Universal de Caracas, que exerce oposição feroz a ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, mostra outra coisa: a reportagem é de autoria do próprio jornal. Mais: o jornal venezuelano não tergiversou nem escondeu a informação sobre o autor da opinião. Logo na abertura, esclarece: “a título pessoal – e sem respaldo do resto dos membros do Poder Eleitoral (o Conselho) – Vicente Díaz qualificou como uma ‘intervenção grosseira, em assuntos de estrita competência dos venezuelanos’ as palavras de apoio do presidente reeleito do Brasil”.
Acima a desonestidade editorial, uma outra pergunta provoca: Se Chávez, com o dinheiro fácil do petróleo, desbancou Lula como líder da América do Sul, porque o mesmo Chávez precisaria de Lula para fortalecer sua campanha eleitoral?
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