domingo, abril 08, 2007

O jeito bem brasileiro de fazer jornalismo sem fato

De volta ao combate depois de imerecido descanso, compartilho minhas impressões sobre a campanha da mídia para nos convencer de que o Brasil está mal, ruim, pior, em crise e no limite.

O tom dos jornalões é este: na ausência dos acontecimentos que sustentem suas devoções, dá-lhe fantasia. O desejo se transforma em matéria-prima de um jornalismo que prescinde de fatos.

O JB de 8 de abril afirma em sua primeira página que a classe média, "na história deste país", nunca esteve tão "martirizada". Assim, na maior, contrariando os dados da PNUD, do IBGE e o bom senso. É o modo que encontrou de criticar a política de aumento da oferta de crédito - um dos mecanismos exitosos que o governo encontrou para "destravar" a economia.

A Folha, por sua vez, nos oferece um prato requentado e sem sabor (ou novidade) acerca da fantasiosa "caixa-preta" da Infraero. Requentado porque desconhece e não informa o leitor que denúncias feitas pelo TCU têm sido derrubadas por utilizarem-se de pressupostos técnicos incompatíveis com a natureza do negócio da Infraero. Numa das denúncias "graves", o TCU questionava custos de asfalto e concreto adotando parâmetros da Caixa Econômica Federal e do DNIT para habitações e estradas - um mico técnico monumental do TCU. Mas, a quem interessaria expor a inépcia do TCU?

O Globo, como bem indicou Paulo Henrique Amorim, está mirando agora no compadre de Lula, Roberto Teixeira, advogado ligado a empresas aéreas. As perguntas feitas a Teixeira na entrevista são um primor de parti pris, de preconceito, arrogância e presunção de culpa. Uma vergonha.

O Estadão, esquizofrênico, critica o governo por aquilo que ele, Estadão, acredita: pelo governo estar abrindo espaço e criando as condições para que a iniciativa privada invista nos portos. A coisa funciona assim: se o Estado brasileiro faz, não devia, porque não é sua atribuição fazer. Se não faz, é porque é inepto, pois devia investir em infra-estrutura para equacionar os gargalos que impedem o crescimento econômico. É aquela velha história: se correr o bicho pega...

Noutra matéria, o Estadão desanca o governo porque o governo está se metendo numa aventura temerosa e arriscada que é buscar o aumento de suas exportações para os EUA... Só falta chamar a Míriam Leitão para provar que a produção de álcool para o mercado norte-americano vai trazer a devastação da Amazônia e o encarecimento dos alimentos no mercado interno. Que idéia mais absurda esta de vender álcool para o mercado americano! Muito grave, né mesmo?

Como diz um deputado da oposição: "se esse PAC der certo nós estamos ferrados".

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