sexta-feira, novembro 30, 2007

Quem tem medo do Grande Sertão?

(Por Miguel do Rosário, do blog Oleo do Diabo)

Muita gente, muita gente mesmo corrobora a fala de FHC. Que Lula é mesmo um analfabeto. Depois da repercussão do que disse o Farol de Alexandria, todos ficaram atentos para pegar o presidente falando errado. Ele deu entrevistas na televisão recentemente e, numa de suas viagens verbais, soltou a pérola: "principalidade". O Ancelmo Góes tascou uma notinha zoando o suposto erro. Eu também havia estranhado a tal "principalidade". Mas eu tinha compreendido exatamente o que o Lula queria dizer e quanto você entende bem uma frase a tendência é de que ela tenha sido expressa corretamente e não o contrário. Fui conferir no Mestre:

principalidade
[Do lat. principalitate.]
Substantivo feminino.
1.Qualidade de principal.


Ou seja, o Apedeuta usou a palavra certa. Usou uma palavra rara. Uma palavra culta. Uma palavra original.

O que me faz lembrar no que eu venho pensando há alguns dias. Como alguém pode dizer que Lula sabe mal o português se ele deve o prestígio que conquistou (ganhou duas vezes as eleições presidenciais, acumula índices altos de popularidade, é adorado na ONU, na Casa Branca e na Venezuela) justamente à seu talento retórico? Aliás, se os tucanos realmente acreditam que o governo Lula é uma merda, então eles deveriam, necessariamente, considerar Lula um mago da sedução verbal.

Eu sou intelectual e não me orgulho disso. São fatalidades da vida. Mas francamente, se eu aprendi uma coisa é isso: GRANDE MERDA SER INTELECTUAL. Não tem dinheiro, não tem pragmatismo, não tem confiança em nada. Ser intelectual é uma merda. Nem a inteligência é garantida. Ao contrário, todo intelectual é meio sonso. As pessoas confundem cultura com intelectualismo. Confundem inteligência com cultura. É importante ter cultura. Ser intelectual é uma desgraça poética à parte.

Voltando ao português do Lula, eu acho que o presidente fala bem melhor que qualquer tucano, tanto que ganhou eleições de lavada. Numa democracia, ganha quem fala melhor. Por isso a democracia é tão apaixonante, porque ela tem um componente puramente ideológico, linguístico, retórico. E desde Sócrates, a beleza reside no verdadeiro. Não na tola ostentação verbal. O português rude de um homem do povo pode ser mais belo e criativo que o português ornamental e enfadonho de tucanóides uspianos. FHC deveria reler os livros de Guimarães Rosa e enfiar a viola no saco para todo sempre.

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