terça-feira, setembro 18, 2007

Sobre justiça, democracia, informação e outros valores...

Percebo uma tendência das pessoas de achar que, porque eu defendo o governo Lula, eu comemorei a absolvição do Renan Calheiros. Isso não é verdade. Fui contra o voto secreto (aliás, sempre fui, se os caras tão lá me representando, eu quero saber o que eles andam fazendo!) e torci pela cassação, mesmo sabendo que o isso poderia custar ao governo.

Mas, antes de tudo, sempre defendo que não se deve condenar ninguém sem provas, sem um julgamento justo, sem o cumprimento de certas formalidades que, podem não ser as mais rápidas ou eficientes, mas são as que temos e que são necessárias para resguardar direitos individuais que, no ambiente democrático, são inalienáveis e inegociáveis.

Se por um lado eu preferia ver um suspeito de tantos crimes afastado do governo que apóio, por outro reconheço que, para ter legitimidade, julgamentos devem obedecer a certos procedimentos e respeitar princípios jurídicos como, por exemplo, ao acusador caber o ônus da prova e ao acusado o amplo direito à defesa. Quem me conhece sabe que não é de hoje que eu penso assim, e sempre fui contra o pré-julgamento e a mania que alguns brasileiros ainda têm de querer fazer justiça pelas próprias mãos, alegando que "a justiça não funciona nesse país". (Imagino que talvez sejam esses os mesmos brasileiros que se sempre arrumam um jeito de burlar a lei, mas enfim, isso já é outra história...)

Hoje recebi por e-mail texto do senador Aloizio Mercadante, em que ele justifica sua abstenção. Em certo momento, ele diz: Ante a impossibilidade do adiamento da decisão, vi-me num dilema ético. O voto "sim" significava a culpa comprovada acima de quaisquer dúvidas e a cassação. O voto "não", por seu turno, significava o reconhecimento de uma inocência ainda em questão e o arquivamento do processo. Optei, dessa maneira, pela abstenção. Portanto, não dei esse voto por falta de convicções, mas porque acreditava e continuo a acreditar que todos os processos abertos no Conselho de Ética devam seguir com rigor, até que se possa fazer um julgamento final e conclusivo sobre todas as acusações. Defendo, inclusive, que o Senador Renan Calheiros deva licenciar-se da Presidência do Senado, de forma a assegurar que os processos transcorram com isenção e sem percalços de qualquer tipo.

Eu, que a princípio torci pela cassação e, talvez pelo calor do bombardeio no noticiário, me revoltei contra aqueles que se abstiveram, não pude deixar de dar total razão ao senador Mercadante. Na falta de provas conclusivas para um lado ou para o outro, como decidir o destino de outra pessoa?

Apesar de ser representante do povo, o senador tem garantido o direito de sigilo do voto, sob o qual poderia muito bem se esconder, mas preferiu ser transparente, ético e coerente. E é aí que fica inevitável voltar ao mesmo e já tão debatido assunto para fazer a comparação: nesse episódio, ele, Mercadante, representou o contraponto perfeito a ela, nossa velha conhecida "grande mídia". Vejamos:

Ele, legitimamente escolhido pelo povo para o representar, foi eleito com todos sabendo a qual partido pertencia, que ideologia defendia e por quais valores brigaria; ela, que possui concessão do Estado e deveria informar com imparcialidade, é sempre mutante, escorregadia, usa de seu poder de difundir informação para direcionar a "vontade popular", de modo que esta sempre esteja em consonância com seus objetivos particulares, que nunca se sabe exatamente quais são (afinal, enquanto ele abre mão do direito ao sigilo, ela viola o dever da transparência).

Ele, mesmo correndo o risco de prejudicar os interesses de seu partido, não cogita esquecer seus valores; ela, se sabe o que são valores, certamente só se empenha em defender os meramente monetários, mesmo. Ele, mesmo sendo político, buscou abstrair os interesses políticos envolvidos para priorizar o respeito aos princípios da democracia e da justiça; ela, mesmo devendo teoricamente informar os fatos com isenção, não hesita em criar histórias fantásticas, subverter discursos, tratar suspeitas infundadas como provas definitivas, dirigir seus holofotes de forma bem selecionada, acusar, julgar e condenar previamente quem quer que esteja de alguma forma obstruindo seu caminho. Caminho esse que, acredito eu, se levasse a coisa boa não precisava de tanta artimanha...

Os oposicionistas nos acusam (sim, me incluo, pois acusam o governo e qualquer simpatizante dele) de sermos radicais, de não enxergar os defeitos no governo, de mistificar a imagem do presidente Lula como um homem perfeito, de fazer "qualquer coisa" para que o PT continue no poder, quando na verdade o que acontece é exatamente o contrário. Mesmo as poucas publicações assumidamente favoráveis ao governo não se furtam a fazer críticas quando elas são necessárias e fundamentadas. Nós, os simpatizantes, temos perfeita noção de o presidente Lula não é um milagreiro, é um ser humano, com defeitos como todos os humanos. Nós estamos sempre prontos a debater civilizadamente, com argumentos, fatos e números, e somos igualmente alvos de agressões irracionais, xingamentos vazios e generalizações de toda espécie.

Não, ao contrário do que eles dizem, não queremos catequizar ninguém nem impôr nossas crenças. Queremos apenas que as pessoas ouçam, com atenção, os argumentos, fatos e números que divulgamos e tentem comparar, sem pré-julgamentos, com os argumentos, fatos e números divulgados pela grande mídia, para então formar, cada um, sua PRÓPRIA opinião, fruto de suas PRÓPRIAS reflexões e conclusões. Qualquer opinião contra o governo formada dessa maneira será sempre respeitada por nós, ao contrário da repetição vomitada e mecânica de textos de "grandes pensadores" como Arnaldo Jabor ou Diogo Mainardi. Pensem, é só o que pedimos.

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