terça-feira, setembro 25, 2007

Não pode ser sério, mesmo!

Dos vários absurdos que vemos na mídia diariamente, às vezes alguns ainda me deixam de queixo caído. Hoje, o jornal O Globo publicou um artigo do senador José Agripino Maia (DEM/RN), chamado Não pode ser sério. Não pode mesmo. Nele o senador despeja tantas desinformações sobre o já acontecido plebiscito pela anulação da venda da Vale do Rio Doce que por um segundo, eu juro, até cogitei a hipótese de ser apenas um baita atestado de ignorância dele, mas o fato é que o desespero por distorcer os fatos para forjar uma realidade conveniente está beirando o ridículo!

Não consegui achar o texto no site do jornal, mas clicando aqui você vê o artigo escaneado, completo. Abaixo, alguns trechos:


Fatos: o PT não "aprovou a realização do plebiscito", o PT aprovou o apoio à realização do plebiscito, que, aliás, na data do Congresso já estava em andamento (essa notícia foi publicada no portal do PT no dia primeiro de setembro, como você pode conferir aqui.) O plebiscito foi organizado por um comitê composto por cerca de 60 entidades da sociedade civil e respaldado por 104 ações populares que foram movidas questionando a legalidade da privatização.


"Seguramente", o plebiscito - que jamais foi "sugerido" pelo PT - foi precedido de um amplo esforço de mobilização, com muitas informações disponíveis no site oficial do Movimento A Vale é Nossa, que ainda indica vários outros links informativos e e-mails para contato com os comitês locais, além de estimular debates em diversos fóruns pela internet, nos quais foi dada especial atenção à discussão das regras adotadas e dos princípios da legalidade que (não) nortearam o leilão promovido pelo presidente FHC.

Para quem, como o senador Agripino, só se informa pela Veja ou pela Rede Globo, aqui tem um especial do Jornal Brasil de Fato, com um apanhado bem generoso de argumentos, publicado, obviamente, bem antes do plebiscito.

Se não houve divulgação na grande mídia que o senador usa para se informar, "certamente" não foi porque ela não sabia...


O próprio senador se contradiz, olha só! Pois ele não tinha dito que o que se pretende é "simples e demagogicamente" anular o leilão? Com as justas adequações adverbiais, o que se pretende é isso mesmo, "legal e democraticamente" anular um leilão que tem razões de sobra para ser considerado fraudulento e, portanto, ilegítimo. Seria pra rir se o senador acreditasse mesmo que, depois de tudo, a proposta ainda fosse pagar para ter o que é nosso de volta!

"Não há dinheiro para coisas essenciais", ele diz. Essenciais para quem, cara pálida? Dentre outros acertos do governo, 6 milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza, as obras do PAC andam a todo vapor, os programas sociais de redistribuição de renda são aplaudidos no exterior, o Brasil tem uma economia forte e respeitada pelos grandes mercados. Não há dinheiro para fazer tudo, isso é verdade. Nem para fazer milagres. Mas, até hoje, nenhum governo soube escolher tão bem suas prioridades. Falando nisso, quê que o ex-presidente FHC fez com o dinheiro da venda da Vale mesmo?

Finalmente, "gera riqueza para os brasileiros"? 62% dos acionistas preferenciais da Vale são estrangeiros, se tem alguém enchendo o bolso aí com certeza não é o Brasil. Isso sem contar as diversas denúncias de violação dos direitos trabalhistas, destruição ambiental e impactos violentos em comunidades indígenas e quilombolas nativas dos locais em que a Vale se instala.


Aqui o senador nem tenta disfarçar a superficialidade de seus argumentos. Primeiro, por determinar a incompatibilidade entre ideologia e interesse nacional. Segundo, por classificar "a simples discussão" como demagogia. Para mim está claro que, na opinião do senador, povo não tem que decidir, povo não tem que discutir, povo não tem que questionar, o ideal seria que povo nem pensasse. Provavelmente, o ideal de povo para o senador deve ser aquele que obedece calado e ainda agradece feliz.

ISSO é que não pode ser sério!
Acorda, senador, o senhor está vivendo no século errado!

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