quarta-feira, setembro 17, 2008

Nassif, credibilidade e credulidade

Primeiro agradeço à Clarice pelo convite para escrever aqui, retomando a amizade e a afinidade intelectual que remonta ao tempo da faculdade.

Ontem a blogosfera progressista (vamos dizer assim) foi assombrada pela revelação feita por Luiz Nassif, acerca do que lhe contou uma fonte não identificada, mas, segundo ele, de dentro dos acontecimentos.

A fonte, contou ele, disse que o governo (Lula e Dilma, mais especificamente) tinha acertado um acordo com a Veja e a Abril para levar adiante a operação-abafa da Operação Satiagraha, com o afastamento de quem fosse preciso e a desqualificação das informações até aqui juntadas ao inquérito. Seria a forma de entronizá-los, Lula e Dilma, no alto salão da elite, onde a impunidade reina e o dinheiro para campanhas presidencias verte como cachoeira.

Quem acompanhou os comentários viu que o público se dividiu, uns incrédulos, outros decepcionados com o governo. Uma coisa me chamou a atenção. A postura absolutamente segura do blogueiro, que avalizou 100% sua fonte e meio que "bateu no peito" pra dizer que o off se justifica neste caso, já que ele tem credibilidade para tanto.

Fui dormir com essas noções e acordei com o título deste post. Uma coisa é ter credibilidade, e acho que o Nassif ainda merece um voto de confiança. Mas também fica claro que embarcou - comprando barato - com uma credulidade atípica, numa versão absolutamente fantasiosa e interessada das movimentações que ocorrem nos intestinos (opa!) da Satiagraha vis a vis o governo.

Sabe-se que Lula tem horror à Veja, e não é pra menos. E que um acordo desses com um "parceiro" tão confiável como são a Veja e a Editora Abril não é um risco razoável nem para um débil mental- ainda mais para quem não precisa delas nem para governar bem, nem para ser bem popular.

Sabe-se que tem muito interesse grande em volta do que a Satiagraha já descobriu e do que pode descobrir nos HDs e documentos apreendidos na casa de Daniel Dantas (Gilmar Dantas, digo Mendes, que o diga). Para quem desconfia do presidente, supõe-se que ele tema o que virá. Para quem como nós do Votolula (obrigado, KK!) confia no presidente, Lula nada teme. Sabe-se, enfim, que existe uma distância enorme entre São Paulo e Brasília.

O fim da novela de ontem se deu com dois desmentidos: um "palaciano" (fonte não identificada) dizendo que não tem como provar que a fonte secreta de Nassif está errada, e somente o tempo dirá que o governo não fez acordão pra abafar nada. O outro, do ministro Tarso Genro, que teria ligado para Nassif para dizer que a fonte dele não tem razão, nem informação suficiente.

Ou seja, com o seu "post bomba" de ontem, Nassif, o jornalista, escudado no direito e na legitimidade do off, fez a mesmíssima coisa que a Veja (que ele tanto combate) faz diuturnamente. Assaca a opinião de alguém não identificado que, protegido pelo anonimato garantido, coloca em dúvida a reputação do presidente, invertendo o ônus da prova sem se dar o trabalho de mostrar um dado sequer que confirme a veracidade do que foi dito.

Pelo que, perguntaria, tal como perguntou à Veja sobre os grampos que a Abin teria feito no STF: "cadê o áudio", Luiz Nassif???

PS - o que ocorreu serviu para deixar claro que a luta obsessiva de Paulo Henrique Amorim contra o banqueiro DD o deixou lesado. Pediu - pasmem - o impeachment do presidente. Sem noção.

3 comentários:

Clarice disse...

eu que agradeço!
é sempre bom ter gente boa por perto, melhor ainda quando é pra ajudar a manter vivo um espaço que prezo muito e infelizmente não tenho podido dar a devida atenção...
belo post!
e seja bem-vindo! :-)

Unknown disse...

Eu respeito Nassif muito, e eu notaria que ele sim divulgou aquela conversa com o ministro, uma coisa que a Veja não teria feita.

"Direito de resposta? Me processe!" Eis o estilo Veja de jornalismo.

Mais não acho injusta essa crítica de uma possível incredulidade por parte do jornalista em avaliando fontes palacianas.

Se for o caso, espero que o jornalista o admitirá.

Sobre as maluquices do PHA, eu tambem não discordo. Até concordo com Mainardi, que o jornalista está em decadência, pelo menos quanto a qualidade do trabalho dele.

(Só não afirmo, como Mainardi afirmou, que seria um agente pago da caixa-dois do petismo, FARC, al Qaeda, nazismo, Dracula e o Maniáco de Guarulhos.)

Roger Damasceno disse...

Colin,
com certeza não é o caso de igualar Nassif e Veja no tocante às práticas. Mas me incomoda essa posição assumida, acima do bem e do mal. Inverte-se o ônus da prova, e se a "profecia" não se realizar é porque o post "funcionou", influenciou os atores, ou seja, recolocou o governo no "bom caminho". Não gosto disso.