quarta-feira, janeiro 23, 2008

O desespero dos que torcem contra

A oposição e a mídia estão desesperadas!

Há razões para que a oposição e a mídia estejam desesperadas: os sucessos do governo Lula. Tanto que chegam a rogar pragas: afirmam que tudo que aconteceu de ruim no famigerado governo FHC, que fez o povo banir nas urnas o PSDB/PFL, do poder, vai se repetir no governo Lula.

Prevêem apagões, epidemias, caos na economia, desemprego, juros estratosféricos, miséria. O desespero é tão pungente que –pasmem, meus amigos –tem gente comemorando a queda na Bovespa, como ocorreu 2ªfeira, reclamando que queda de 6% é pouco, tem que chegar a mais de 10%; e ficaram indignados ontem, 22/1, porque a Bovespa fechou em alta de 4,45%. Eles estão vibrando com a possibilidade de que uma crise econômica mundial deflagrada pelos EUA atinja o Brasil, para abalar o ciclo virtuoso da economia conseguido pelo governo Lula. Incrível!

Tem gente resmungando que São Pedro é um traidor, pois está chovendo muito em todo o Brasil, e isso afasta o risco apagão. Outros reclamam da UNICEF, pois divulgou que houve uma queda acentuada na mortalidade infantil a partir de 2004, e o país melhorou 27 posições no ranking desse indicador (relatório "Situação Mundial da Infância 2008",divulgado em 22/1/2008). Dizem que a UNICEF está cheia de esquerdistas, que não devia divulgar esses dados que enaltecem o governo Lula.

Tem gente também reclamando de que há somente 11 casos confirmados de febre amarela, e 35 pessoas internadas porque tomaram duplamente a vacina,aterrorizadas pela mídia. Dizem que a mídia tem de inflar o número de pessoas contaminadas até 400, e não tocar no assunto dos que tomaram duplamente a vacina, que é uma oportunidade jogada fora de atacar o governo Lula.

A descoberta do megacampo de petróleo Tupi, pela Petrobras, foi sentida pelas oposição como um banho de água fria; agora desesperam-se com a nova descoberta da Petrobras na bacia de Santos, o campo Júpiter, que assegura ao país a auto-suficiência na produção de gás natural: choram lágrimas de sangue, tamanha a raiva. Uns dizem que tudo isso é mentira, outros dizem que é para encobrir a imensa epidemia de 11 casos de febre amarela. Tem gente bastante alucinada, enlouquecida, pedindo o golpe militar, pedindo que as FA boicotem todos os serviços essenciais, paralisem os céus, a terra e o mar, para impedir os avanços do governo Lula. Vou ser sincera: dou boas gargalhadas ao ler o desespero da oposição e da mídia.

O presidente está coberto de razão quando diz que a oposição está torcendo contra o seu governo; de fato, esses néscios estão torcendo contra o Brasil, estão torcendo contra o povo brasileiro. Mas o pior está por vir para a oposição e para a mídia tresloucada, pois chegaremos em 2010 sem apagão, sem crise econômica, sem FMI, com geração de emprego em alta,com juros em queda, sem inflação, com muitas obras do PAC realizadas, muitas em andamento.

A popularidade do presidente Lula estará lá nas alturas, e o presidente fará com tranqüilidade o seu sucessor. As fontes dessas citações da torcida do quanto pior melhor são os comentários nos blogs da oposição e de alguns blogueiros jornalistas inconformados com o sucesso do presidente Lula. Esses comentários eu faço questão de ler para me divertir muito.

(texto de Jussara Seixas, em seu blog Por um novo Brasil)

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Combate à impunidade leva governo a recorde de expulsões

O combate à corrupção e, sobretudo, à impunidade na Administração Pública Federal levou o governo federal a aplicar, em 2007, o número recorde de 437 penas expulsivas a agentes públicos envolvidos em irregularidades. Desse total, as demissões somaram 386 casos, as destituições de cargo, 22 e as cassações de aposentadorias, 29.

Desde 2003, o número de punições expulsivas chegou a 1.622. Entre elas, 1.421 demissões, 108 destituições de cargo e 93 cassações de aposentadorias. Ao revelar os números, o secretário-executivo da Controladoria Geral da União, Luiz Navarro, explicou que eles decorrem de determinação da CGU em sepultar a histórica cultura da impunidade que há décadas vinha imperando no país.

O secretário afirma, ainda, que as punições não se restringiram a servidores modestos, alcançando também diretores, superintendentes e altos assessores de empresas estatais como os Correios e a Infraero, além de auditores e fiscais da Receita, da Previdência e do Trabalho, procuradores e subsecretários de orçamento e administração.

Motivos

O uso do cargo para obtenção de vantagens para si ou para terceiros foi o principal motivo das punições, com 779 casos; a improbidade administrativa vem a seguir, com 474; os casos de abandono de cargo chegaram a 242; os de recebimento de propina a 141 e os de lesão aos cofres públicos, 140. Um total de 511 casos foi classificado como "outros". (A soma dos casos pelos respectivos motivos excede o total de 1.622 porque, em muitas situações, o punido incorre em mais de um ou dois motivos para a punição).

Para viabilizar a intensificação dessas ações nos diversos ministérios, o governo criou o Sistema de Correição da Administração Federal, com uma unidade em cada ministério e uma coordenação central na CGU. Além disso, lançou um programa de capacitação em Processo Disciplinar, que já treinou, desde 2003, 4.697 servidores do país inteiro, de modo a que os gestores não contribuam para a impunidade, deixando de instaurar os processos que se recomendam, por falta de pessoal qualificado. Em 2007 o número de servidores capacitados chegou a 1.255.

Desse modo, com o objetivo de acabar com a impunidade, a Administração deixa de ficar apenas à espera da punição pela via judicial, reclamando da morosidade da Justiça (que não vem de incúria do Judiciário, mas das Leis do Processo, que há muito reclamam modernização) e passa, ela própria, a Administração, a aplicar as punições de sua alçada. Os processos administrativos, destaca ainda Navarro, transcorrem rigorosamente dentro da lei, observando-se o contraditório e a ampla defesa dos acusados.

Fonte: Controladoria Geral da União - informativo em questão

quarta-feira, janeiro 16, 2008

As serpentes de ouro de Medusa

(J. Carlos de Assis, economista, professor e presidente do Instituto Desemprego Zero)

Creio ter sido um dos primeiros economistas políticos brasileiros a se dar conta, ainda nos anos 80, de que o neoliberalismo não era um fenômeno puramente ideológico, mas o produto de uma realidade sociológica profunda que se exprimiu em maiorias eleitorais efetivas, sobretudo européias. É o que explica o deslizamento para a ala neoliberal mesmo de partidos tradicionalmente de esquerda, como trabalhistas ingleses (Terceira Via), socialistas franceses e sociais democratas alemães.

Acredito que quem originalmente levantou a cortina sobre esse processo de fundo foi William Greider, em seu monumental "The Secrets of the Temple", sobre a história do Banco Central norte-americano. Ele "sacou" que a maioria eleitoral que apoiou Reagan em 79 era formada em grande parte de classes médias afluentes, indignadas com a perda de renda financeira oriunda da combinação entre inflação alta e juros baixos, prevalecente ao longo dos anos 70, sobretudo depois da débâcle do sistema de Bretton Woods.

Na Europa Ocidental, o que deixou apavoradas as classes médias afluentes foi principalmente a instabilidade monetária e cambial. O sucesso espetacular do experimento social-democrata do pós-guerra eliminou o medo do desemprego e mudou o eixo das preocupações dos afluentes para as oportunidades de ganho financeiro, no país de origem e no exterior, pelo que a instabilidade cambial passou a ser um estorvo. Aos poucos, a demanda de estabilidade dos ricos acabou por formar uma maioria eleitoral.

Pode-se dizer que, na Europa, o neoliberalismo é um produto da afluência da maioria. No Brasil, ao contrário, a afluência de uns poucos tem-se tornado o produto do neoliberalismo. Diferentemente da Europa, não se completou aqui o processo da democracia social, e em compensação não houve entre nós nenhum episódio eleitoral que autorize dizer que a maioria dos cidadãos optou pelo neoliberalismo. No caso de Fernando Henrique, suas eleições se deveram exclusivamente ao sucesso do Real quanto ao controle da inflação. No caso de Lula, ao desencanto com Fernando Henrique e ao compromisso de retomada do desenvolvimento e da luta contra o desemprego.

Assim, no Brasil, o neoliberalismo é um fenômeno principalmente ideológico, sem base na realidade social, esta ainda fortemente dependente de ações do Estado. É uma ideologia artificial, importada, descolada do processo sociológico, mesmo porque estamos longe de ter uma maioria de afluentes que estejam mais interessados em globalização e oportunidades de especulação do que em combater o alto desemprego e a exclusão social. Como toda ideologia, funciona como instrumento de manipulação e de dominação. Contudo, para ser eficaz, ela busca desesperadamente o status de pensamento único.

No Governo Fernando Henrique chegamos o mais próximo que se pode ao império do pensamento único. Todos os aparelhos ideológicos do Estado e quase todos os da sociedade, inclusive a maioria da grande mídia, foram colocados sem qualquer escrúpulo a serviço da difusão ideológica do neoliberalismo. Essa hegemonia foi quebrada no Governo Lula. E é isso, certamente, que está suscitando uma forte inquietação nos círculos neoliberais, vocalizada especialmente por alguns professores-banqueiros.

Se o neoliberalismo no Brasil tivesse raízes sociológicas autênticas, os economistas Márcio Pochmann, presidente do IPEA, e João Sicsú, diretor, não se veriam sob o fogo cerrado dos seus militantes mais agressivos. Pochmann disse e escreveu que a CPMF, dada a regressividade do sistema tributário brasileiro, é um dos impostos mais eficazes e mais justos. Sicsú escreveu, sempre de forma absolutamente fundamentada, que o Estado brasileiro, ao contrário do que dizem, é "nanico".

Tenham tido essa intenção ou não, meteram o dedo na ferida. A essência do neoliberalismo, desde Hayek a Friedman, é a desconstrução do Estado. O árbitro de todas as soluções, desde o meio ambiente ao emprego, é o livre mercado. Para Hayek, até a moeda teria de ser privada – algo que fez recuar, assustado, seu parceiro Friedman. Não foi o caso, porém, de nossos neoliberais. Estes conseguiram a façanha inacreditável de privatizar o Banco Central, o que valeu a seu presidente uma honraria da "Euromoney".

Pedro Malan (ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, hoje Unibanco), Alexandre Schwartsman (ex-diretor do Banco Central, hoje no Real), Marcos Lisboa (ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, hoje no Unibanco), Maílson da Nobre (ex-ministro da Fazenda, hoje dono de consultoria financeira), todos se insurgem diante da ousadia de Pochmann e de Sicsú ao apontarem, por exemplo, que enquanto o número de servidores públicos no Brasil representa 8% do total do emprego, nos Estados Unidos é 17%, na França, 27%, e nos paises nórdicos europeus, em torno de 40%.

A administração pública direta está esgarçada. Do Ministério de Transportes ao Ministério do Meio Ambiente, não há gente para funções essenciais. Não temos fiscais sequer para supervisionar a produção de leite. Na rede estadual do Estado do Rio estima-se que faltam 30 mil professores de ensino médio. O que dizer dos outros? São notórias as deficiências de pessoal em toda a área pública de Educação, de Saúde, de Segurança Pública. Pacientes brasileiros tem recorrido à rede de saúde da Bolívia! Sucateamos nosso sistema de Defesa, e liquidamos com nossa infra-estrutura logística, a qual só começa a ser recuperada no segundo Governo Lula.

Diante desse quadro de descalabro, vêm esses manipuladores de estatística dizer que o grande mal do Brasil é o aumento dos gastos públicos primários! Charlatães, omitem os juros. Shwartzman vai além. Para provar sua tese, faz uma série histórica de aumento da carga tributária entre 1994 e 2006 que simplesmente salta o período de governo de Fernando Henrique. Omite que foi justamente nesse Governo que a carga tributária e a dívida pública explodiram, esta de 30% para quase 60% do PIB – sem qualquer relação, como afirma o Vice Presidente Alencar, com o investimento público e até mesmo com gastos correntes. Tudo para pagar juros sobre juros!

Não tenho espaço para examinar detidamente cada artigo desse quarteto. Mas, como disse Galbraith, não se pode levar a sério opinião sobre economia de quem tem interesses próprios em jogo. E esses professores-banqueiros valem para seus bancos tanto pelo que omitem quanto pelo que expressam. Vejam as operações de swap reverso do Banco Central, cuja independência é tanto exaltada por Maílson da Nóbrega. Como posso esperar opinião independente de professores-banqueiros que certamente estão entre os beneficiários diretos dos R$30 bilhões que, desde 2005, o BC doou e continua doando graciosamente ao "mercado" nessas operações?

A cabeça de Medusa tem muitas serpentes, mas a cabeça da Medusa neoliberal tem serpentes de ouro. Sua infinita audácia, no Brasil, nada tem a ver com sua propensão a ganhar dinheiro e acumular fortunas individuais. Ela vai além disso. Consiste em tentar fazer com que os outros pensem que o interesse pessoal deles é o interesse da sociedade. O resultado disso é que, na média dos anos 1993 a 2005, os juros representaram 29% da renda interna disponível. Num desses anos, foi a 44%! É um escândalo, e um escárnio. Mas é, indiscutivelmente, o principal resultado prático do neoliberalismo no Brasil.

P.S.
Já estava escrito este artigo quando li em manchete de primeira página de "O Globo", mais tarde replicada no Jornal Nacional, que Pochmann será convocado pelo líder tucano no Senado para dar satisfação do afastamento de quatro pesquisadores que se encontravam irregularmente desempenhando funções no IPEA. Lúcia Hipólito, que o próprio jornal laureou como grande cientista política, sustenta que aí estaria a prova de que o IPEA está sendo "aparelhado". Pergunto: Por quem, e com que objetivo?

Não é exatamente o oposto? Ao tempo de Fernando Henrique, e mesmo depois, enquanto o Governo Lula estava preocupado com outras coisas, não foi o IPEA, pelo trabalho ideológico de alguns de seus integrantes (emprestados) mais atrevidos, um instrumento do neoliberalismo incrustrado no Governo, vocalizador do pensamento único deste? Não é desse grupo ideológico "independente" que surgiram os textos "provando" que o Estado brasileiro é gastador, e que é do dispêndio público exagerado que resultam todos os males nacionais – sem uma única menção aos juros e à política monetária?

Não foi um desses pesquisadores que quis "provar" que no Brasil não há trabalho escravo? Obviamente, nenhum desses fâmulos neoliberais, que por certo estão contando pontos para saltar para consultorias privadas, foi afastado pelo que pensam. Foram afastados pela ilegalidade de sua posição. Se isso desagrada os neoliberais da grande mídia e do Congresso, paciência. Não existe nenhuma razão para que o Governo abrigue em seu importante instituto de formulação de política de longo prazo os que querem trocar os gastos públicos necessários pelas receitas privadas de consultoria e de palestras regiamente pagas.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

"Não existe risco de epidemia"

Pronunciamento do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, sobre a febre amarela, em 13/01:

"Estou aqui para tranqüilizar a população brasileira sobre um assunto que está preocupando os brasileiros nos últimos dias. O temor de que esteja ocorrendo uma epidemia de febre amarela no país. Não existe risco de epidemia.

O Brasil não tem casos de febre amarela urbana desde 1942. Os casos registrados de lá para cá foram todos de febre amarela silvestre, ou seja, de pessoas que contraíram a doença nas florestas.

Desde 2003, a ocorrência de febre amarela silvestre em seres humanos vem caindo gradativamente.

Os casos suspeitos estão localizados e restritos a áreas onde algumas pessoas não vacinadas entraram em florestas e matas nas últimas semanas.

O Ministério da Saúde tomou todas as medidas preventivas para evitar que casos da doença aparecessem antes mesmo da confirmação do caso sob investigação.

Montamos uma grande barreira sanitária nas áreas de risco protegendo estados e municípios contra a febre amarela. E, de imediato, convocamos as pessoas que vão viajar ou moram em áreas de mata para tomar a vacina.

Se você não mora ou não viajar para estas regiões não precisa se vacinar. Quem já se vacinou pode ficar tranqüilo: o efeito da vacina protege as pessoas durante dez anos.

Portanto, só procure os postos de saúde se morar ou for visitar as áreas de risco e nunca se vacinou ou foi vacinado antes de 1999.

Mas, lembre-se, tomando a vacina, você estará totalmente protegido após dez dias.

O Brasil é o maior produtor mundial de vacina contra a febre amarela. Os postos de saúde estão sendo abastecidos e as autoridades sanitárias estão preparadas para atender a quem realmente precisa tomar a vacina.

Muito obrigado e boa noite."

Enquanto isso, nossa imprensa se empenha em desacreditar o ministro e disseminar o pânico em quase todos os estados do país. Quando há alguma alusão ao seu discurso, o tom é quase de deboche, como se o mundo estivesse acabando e o ministro estivesse gritando que tudo vai bem. Informação zero, terrorismo total!

País não corre risco de sofrer uma nova crise no setor elétrico

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu nesta segunda-feira (14) que o Brasil não corre o risco de sofrer uma nova crise no setor elétrico como o que enfrentou em 2001. "A questão energética vive de boatos", afirmou Lula em seu programa de rádio Café com o Presidente. "Todo dia tem boatos de que vai acontecer isso, vai acontecer aquilo. O dado concreto é que o Brasil está seguro de que não haverá apagão e de que não faltará energia para dar sustentabilidade ao crescimento que nós queremos ter", acrescentou.

Para garantir a normalidade do abastecimento em 2008 e em 2009 e evitar um possível apagão energético, o Ministério das Minas e Energia anunciou na semana passada uma série de medidas. Entre elas, está o imediato funcionamento de seis usinas térmicas a óleo no Sudeste para não comprometer os reservatórios da região em virtude das transferências de energia que estão sendo feitas para o Nordeste e o funcionamento, na segunda semana de fevereiro, de um gasoduto no Espírito Santo que permitirá o fornecimento de 5 milhões de metros cúbicos diários de gás para o Rio de Janeiro.

Lula disse que todo o esforço para não faltar energia será feito e que a prioridade no abastecimento de gás é para a geração de energia elétrica. "Se tiver sobrando gás, nós poderemos atender os carros, poderemos atender as empresas, mas é importante definir que a prioridade é produzir energia para atender aos interesses da sociedade brasileira", afirmou.

O presidente ressaltou que a construção da hidrelétrica do Rio Madeira vai garantir ainda mais o abastecimento de energia no país. "Nós estamos preparados para 2009, preparados para 2010. Com o começo da construção da hidrelétrica do Rio Madeira agora, nós estamos seguros de que não faltará energia no Brasil por um bom tempo", concluiu.

(Agência Brasil)

domingo, janeiro 13, 2008

A linguagem do preconceito

Virou moda dizer que "Lula não entende das coisas". Ou "confundiu isso com aquilo". É a linguagem do preconceito, adotada até mesmo por jornalistas ilustres e escritores consagrados

(Por Bernardo Kucinski, na Revista do Brasil)

Um dia encontrei Lula, ainda no Instituto Cidadania, em São Paulo, empolgado com um livro de Câmara Cascudo sobre os hábitos alimentares dos nordestinos. Lula saboreava cada prato mencionado, cada fruta, cada ingrediente. Lembrei-me desse episódio ao ler a coluna recente do João Ubaldo Ribeiro, "De caju em caju", em que ele goza o presidente por falar do caju, "sem conhecer bem o caju". Dias antes, Lula havia feito um elogio apaixonado ao caju, no lançamento do Projeto Caju, que procura valorizar o uso da fruta na dieta do brasileiro.

"É uma pena que o presidente Lula não seja nordestino, portanto não conheça bem a farta presença sociocultural do caju naquela remota região do país...", escreveu João Ubaldo. Alegou que Lula não era nordestino porque tinha vindo ainda pequeno para São Paulo. E em seguida esparramou citações sobre o caju, para mostrar sua própria erudição. Estou falando de João Ubaldo porque, além de escritor notável, ele já foi um grande jornalista.

Outro jornalista ilustre, o querido Mino Carta, escreveu que Lula "confunde" parlamentarismo com presidencialismo. "Seria bom", disse Mino, "que alguém se dispusesse a explicar ao nosso presidente que no parlamentarismo o partido vencedor das eleições assume a chefia do governo por meio de seu líder..." Essa do Mino me fez lembrar outra ocasião, no Instituto Cidadania, em que Lula defendeu o parlamentarismo.

Parlamentarista convicto, Lula diz que partidos são os instrumentos principais de ação política numa democracia. Pelo mesmo motivo Lula é a favor da lista partidária única e da tese de que o mandato pertence ao partido. Em outubro de 2001, o Instituto Cidadania iniciou uma série de seminários para o Projeto Reforma Política, aos quais Lula fazia questão de assistir do começo ao fim. Desses seminários resultou um livro de 18 ensaios, Reforma Política e Cidadania, organizado por Maria Victória Benevides e Fábio Kerche, prefaciado por Lula e editado pela Fundação Perseu Abramo.

Clichês e malandragem

Se pessoas com a formação de um Mino Carta ou João Ubaldo sucumbiram à linguagem do preconceito, temos mais é que perdoar as dezenas de jornalistas de menos prestígio que também dizem o tempo todo que "Lula não sabe nada disso, nada daquilo". Acabou virando o que em teoria do jornalismo chamamos de "clichê". É muito mais fácil escrever usando um clichê porque ele sintetiza idéias com as quais o leitor já está familiarizado, de tanto que foi repetido. O clichê estabelece de imediato uma identidade entre o que o jornalista quer dizer e o desejo do leitor de compreender. Por isso, o clichê do preconceito "Lula não entende" realimenta o próprio preconceito.

Alguns jornalistas sabem que Lula não é nem um pouco ignorante, mas propagam essa tese por malandragem política. Nesse caso, pode-se dizer que é uma postura contrária à ética jornalística, mas não que seja preconceituosa. Aproveitam qualquer exclamação ou uso de linguagem figurada de Lula para dizer que ele é ignorante. "Por que Lula não se informa antes de falar?", escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando Lula disse que o caso da menina presa junto com homens no Pará "parecia coisa de ficção". Quando Lula disse, até com originalidade, que ainda faltava à política externa brasileira achar "o ponto G", William Waack escreveu: "Ficou claro que o presidente brasileiro não sabe o que é o ponto G".

Outra expressão preconceituosa que pegou é "Lula confunde". A tal ponto que jornalistas passam a usar essa expressão para fazer seus próprios jogos de palavras. "Lula confunde agitação com trabalho", escreveu Lucia Hippolito. Empregam o "confunde" para desqualificar uma posição programática do presidente com a qual não concordam. "O presidente confunde choque de gestão com aumento de contratações", diz o consultor José Pastore, fonte habitual da imprensa conservadora.

Confunde coisa alguma. Os neoliberais querem reduzir o tamanho do Estado, o presidente quer aumentar. Quer contratar mais médicos, professores, biólogos para o Ibama. É uma divergência programática. Carlos Alberto Sardenberg diz que Lula "confundiu" a Vale com uma estatal. "Trata-a como se fosse a Petrobras, empresa que segundo o presidente não pode pensar só em lucro, mas em, digamos, ajudar o Brasil." Esse caso é curioso porque no parágrafo seguinte o próprio Sardenberg pode ser acusado de confundir as coisas, ao reclamar de a Petrobras contratar a construção de petroleiros no país, apesar de custar mais. Aqui, também, Lula não fez confusão: o presidente acha que tanto a Vale quanto a Petrobras têm de atender interesses nacionais; Sardenberg acha que ambas devem pensar primeiro na remuneração dos acionistas.

Filosofia da ignorância

A linguagem do preconceito contra Lula sofisticou-se a tal ponto que adquiriu novas dimensões, entre elas a de que Lula teria até problemas de aprendizagem ou de compreensão da realidade. Ora, justamente por ter tido pouca educação formal, Lula só chegou aonde chegou por captar rapidamente novos conhecimentos, além de ter memória de elefante e intuição. Mas, na linguagem do preconceito, "Lula já não consegue mais encadear frases com alguma conseqüência lógica", como escreveu Paulo Ghiraldelli, apresentado como filósofo na página de comentários importantes do Estadão. Ou, como escreveu Rolf Kunz, jornalista especializado em economia e também professor de filosofia: "Lula não se conforma com o fato de, mesmo sendo presidente, não entender o que ocorre à sua volta".

Como nasceu a linguagem do preconceito? As investidas vêm de longe. Mas o predomínio dessa linguagem na crônica política só se deu depois de Lula ter sido eleito presidente, e a partir de falas de políticos do PSDB e dos que hoje se autodenominam Democratas. "O presidente Lula não sabe o que é pacto federativo", disse Serra, no ano passado. E continuam a falar: "O presidente Lula não sabe distinguir a ordem das prioridades", escreveu Gilberto de Mello. "O presidente Lula em cinco anos não aprendeu lições básicas de gestão", escreveu Everardo Maciel na Gazeta Mercantil.

A tese de que Lula "confunde" presidencialismo com parlamentarismo foi enunciada primeiro por Rodrigo Maia, logo depois por César Maia, e só então repetida pelos jornalistas. Um deles, Daniel Piza, dias depois dessas falas, escreveu que "só mesmo Lula, que não sabe a diferença entre presidencialismo e parlamentarismo, pode achar que um governante ter a aprovação da maioria é o mesmo que ser uma democracia no seu sentido exato".

Preconceito é juízo de valor que se faz sem conhecer os fatos. Em geral é fruto de uma generalização ou de um senso comum rebaixado. O preconceito contra Lula tem pelo menos duas raízes: a visão de classe, de que todo operário é ignorante, e a supervalorização do saber erudito, em detrimento de outras formas de saber, tais como o saber popular ou o que advém da experiência ou do exercício da liderança. Também não se aceita a possibilidade de as pessoas transitarem por formas diferentes de saber.

A isso tudo se soma o outro preconceito, o de que Lula não trabalha. Todo jornalista que cobre o Palácio do Planalto sabe que é mentira, que Lula trabalha de 12 a 14 horas por dia, mas ele é descrito com freqüência por jornalistas como uma pessoa indolente.

Não atino com o sentido dessa mentira, exceto se o objetivo é difamar uma liderança operária, o que é, convenhamos, uma explicação pobre. Talvez as elites, e com elas os jornalistas, não consigam aceitar que o presidente, ao estudar um problema com seus ministros, esteja trabalhando, já que ele é "incapaz de entender" o tal problema. Ou achem que, ao representar o Estado ou o país, esteja apenas passeando. Afinal, onde já se viu um operário, além do mais ignorante, representar um país?