segunda-feira, outubro 30, 2006

preconceito que cega

Quem acompanha esse blog sabe que fiz campanha para Lula durante praticamente todo esse ano. O que mais cansei de ler/ouvir da oposição – aqui, por e-mail ou nas ruas – foram ofensas pessoais sem qualquer embasamento que pretendiam me desqualificar como pessoa, na tentativa de desqualificar a minha opção de voto. Ou eu era "burra" ou era "criminosa" também, para usar apenas dois dos adjetivos mais leves que me foram imputados.

Tive a ilusão de que o fim da disputa - fosse qual fosse o resultado - permitiria o desanuviamento desse véu de ódio e preconceito que tanto cega os defensores do projeto tucano. (Vejam bem, eu optei por votar no Lula, mas eu ainda acredito que em algum lugar o PSDB ainda deve ter um projeto, um programa de governo, propostas para o futuro. Alckmin foi incompetente até para mostrar e defender seu programa, como poderia ser um bom governante?)

Durante toda a campanha foram pouquíssimas as vezes que me apareceu algum simpatizante de Alckmin querendo discutir sem ofender, debater idéias sem me desqualificar. Pessoas do meu círculo próximo, pessoas de quem eu jamais esperaria tanta baixeza, pessoas que estão cansadas de saber que eu sou classe média assalariada cheia de contas penduradas para pagar, vieram insinuar que eu devia estar "levando o meu por fora para defender esse governo". (Não sei se é pra rir ou pra chorar, mas quem quiser fuçar meu extrato bancário que fique à vontade! Quem sabe alguém se penaliza e me ajuda a pagar as dívidas que tanto me sobrecarregam?)

No meio de mais uma enxurrada de sofismas e retórica vazia, me deparei com um texto na Central de Mídia Independente que me motivou a escrever este post, inicialmente uma resposta publicada lá. O texto traz uma única frase com a qual concordo plenamente: "a vitória de Lula por um número expressivo de votos não significa uma absolvição pelos crimes de seu governo, nem um passaporte para a continuação, no próximo governo, dos atos ilegais e antiéticos do seu atual governo". Logo na seqüência, vai por terra minha esperança de um debate qualificado: "uma parcela significativa da população, que votou em Alckmin, repele este tipo de comportamento".

Quero deixar claro que eu e os milhões de eleitores de Lula também repelimos o que o autor chama de "esse tipo de comportamento" - corrupção, compra de votos, sanguessugas, caixa dois, etc. Se nós votamos em Lula não é por aceitar a velha prática do "rouba mas faz", como a oposição tanto infla o peito para acusar. Se nós votamos em Lula foi porque vimos que, "pela primeira vez na história desse país", a Polícia Federal vem tendo liberdade para investigar e indiciar suspeitos, não são barradas CPIs escandalosas nem são protegidos os amigos do Presidente. Errou, paga. É suspeito? É afastado até que tudo se esclareça. Todos sabemos que 70% das ambulâncias superfaturadas foram liberadas no governo FHC, mas a indignação seletiva que assolou esse país não permite que o povo se indigne com o que não venha do PT!

Pois eu me indigno com o que é errado, venha de onde vier. Suspeito não é culpado, a única forma legítima de se julgar e condenar alguém é investigando e recolhendo PROVAS. E eu não pretendo absolver nenhum crime que venha a se PROVAR que o governo Lula cometeu. Pelo contrário, meu voto este ano vem com muito mais cobrança do que os outros. Quero acompanhar de perto, fiscalizar, exigir prestação de contas e respeito pelo meu voto e pelos 58 milhões de votos que Lula teve. Quero que quem errou seja punido e afastado, mas não vou jogar fora o bebê junto com a água do banho!

Acredito que o programa de governo apresentado por Lula é sim o melhor que esse país já teve, o crescimento responsável com distribuição de renda era uma urgência para esse país a beira de um colapso, e Lula começou a arrumar a casa. Nós já sabíamos que não seria em quatro anos. Se foi mais lento do que esperávamos, era porque esperávamos demais, porque tínhamos uma esperança sufocada por décadas de desgoverno. Se foi mais lento do que esperávamos, pelo menos agora temos a certeza que estamos devagar, mas estamos na direção certa!

Com certeza há divergências sobre essa direção, sempre haverá divergências num regime democrático. O que eu espero, sinceramente, é que os divergentes saibam ter humildade para reconhecer que foram minoria, que a vontade do povo é soberana, mas que nem por isso eles devem ser alijados do processo democrático. Espero que os divergentes consigam se livrar da viseira do preconceito e participem de forma positiva da construção do nosso futuro. Oposição crítica, construtiva e inteligente é sempre bem vinda. Mas ninguém ganha NADA com esse fundamentalismo violento.

domingo, outubro 29, 2006

VIVA O NOSSO PRESIDENTE!!!



É LULA DE NOVO, COM A FORÇA DO POVO!

sexta-feira, outubro 27, 2006

Se é para o bem do povo e para a felicidade geral da nação...

(Nelson R. Perz, em seu blog Bué de Bocas)

Hoje tem cientista política chorando com saudade dos showmícios.
Tem ex-presidente se declarando contra o golpe que não deu certo: "Essa não é minha idéia. Eleição você respeita. O povo decidiu está decidido".
Tem jornalista pregando a abstenção.
Tem bolos de dinheiro (reais e dólares) dos tucanos apreendido no Paraná pela PF e impedido pela justiça eleitoral de terem suas fotos divulgadas.
Tem mais dinheiro tucano apreendido na Paraíba.
Tem o silêncio dos colunistas de plantão e a censura interna no imprensalão.
Tem uma pespectiva de vitória acachapante do governo em todo o Brasil.
Tem fuxico de um novo partido para José Serra.
Tem o velório do PSDB e PFL.
Tem mais de 100 análises de "como e o por que" o presidente Lula chegou às portas da reeleição.
Tem de tudo...menos um singelo reconhecimento que, desde a primeira hora da campanha, o eleitor brasileiro já tinha seu candidato guardado no peito.
Em nenhum momento nessa eleição colunistas, blogueiros e cientistas políticos reconheceram..."é o Lula que o Brasil quer". Nenhuma linha.
Em nenhum momento as ameaças de virada deixaram de ser crescentes, deixaram de estar nas manchete e nas penas e nas bocas das matildes.
Em nenhum momento a voz das ruas se sobrepôs aos factóides.
Enquanto a rua dizia o que queria, o imprensalão imprimia o que bem entendia.
Dia 29, domingo, queira ou não, o povo vai marcar o 13 que há muito estava escolhido, a farra da direita conservadora acabou.
As análises e comentários publicados hoje têm ao fundo um tom de choro, de desdém. O golpe da elite nacional, amparado vergonhosamente pela imprensa, está vagarosamente morrendo na praia.
Dia 29, domingo, os envergonhados vão entrar e sair rapidamente das suas zonas eleitorais, cada um levando seu constrangimento, sua desculpa, seus resmungos.
A maioria esmagadora dos brasileiros não! Essa vai às urnas sorrindo, vai exigir - direto constitucional - que o presidente continue por mais 4 anos.

Lula da Vila Euclides, que hoje completa 61 anos, nunca sonhou em ganhar de presente esse bi-campeonato. Mas se é para o bem do povo e para a felicidade geral da nação... certamente ele fica!

De onde veio o dinheiro?

A Polícia Rodoviária Federal apreendeu ontem à noite, na Paraíba, uma mala com dinheiro que seria distribuído pelo diretor do Departamento Administrativo e Financeiro da Secretaria do Controle da Despesa Pública do governo estadual, Gláucio Arnaud de Medeiros, a prefeitos, vereadores e líderes políticos do interior da Paraíba, aliados do governador Cássio Cunha Lima (PSDB), que é candidato à reeleição.

Na mala, a PRF encontrou cerca de R$100 mil em espécie. O dinheiro foi apreendido na cidade de Bayeux, na Grande João Pessoa, num Celta dirigido por Raimundo da Silva, que se identificou como funcionário da secretaria. Na mala, segundo a PRF, havia dez envelopes com dinheiro. Cada envelope era destinado a um líder político. Dentro dos envelopes havia dois pacotes de dinheiro. Um era destinado ao prefeito. O outro era destinado aos vereadores, cujos nomes estavam escritos em uma folha de caderno.

Dentro de cada envelope também havia um CD com a inscrição "Cássio 45", que se caracteriza como propaganda do governador, segundo o patrulheiro Agnaldo Lopes, que comandou a apreensão. O policial abriu apenas o envelope endereçado a Adalcindo José de Freitas, ex-prefeito de São Sebastião do Umbuzeiro. Dentro do envelope de Adalcindo, estavam 120 cédulas de R$50 (R$6 mil no total). Do total, R$4 mil seriam destinados a Adalcindo. Outros R$2 mil seriam entregues a seis vereadores e líderes.

Os outros envelopes estavam endereçados a Lucivaldo Vaz Henrique (ex-prefeito de Zabelê), Fred Menezes (ex-vereador de Monteiro e diretor de Operações do jornal "A União"), Marcel Nunes (prefeito de Prata), Djaci Aleixo dos Santos, conhecido como Chuta (ex-vereador de Monteiro), Ivanildo Mendes de Sousa, conhecido como Galego da Granja (comerciante em Monteiro), Robério Vasconcelos (prefeito de Zabelê), Paulo Sérgio (suplente de vereador em Monteiro), Aristeu Chaves (ex-superintendente da Polícia Civil na região do Cariri e prefeito do município de Camalaú). Os nomes em outros dois envelopes não foram identificados. Lucivaldo, Paulo Sérgio e Adalcindo são líderes políticos da região do Cariri ligados ao ex-deputado e hoje secretário-executivo adjunto da Secretaria Estadual do Controle da Despesa Pública. - A informação dizia que era uma grande quantia em dinheiro, para a compra de votos. Aparentemente se confirma - disse o inspetor Nunes.

(do blog Os Amigos de Presidente Lula)

PFL e PSDB aparecem no meio da história do dossiê

(Reproduzido do blog do Zé Dirceu)

Essa história dos dólares do dossiê está ficando muito estranha. Apareceram duas pessoas com ligações com o PFL, sob as quais pairam suspeitas de lavagem de dinheiro. Mas falta verificar ainda qual a relação delas com o caso do dossiê.

Hoje, a Folha diz que Centaurus Turismo e Câmbio – uma das casas pelas quais a PF suspeita terem passado os dólares da negociação do dossiê – tem como sócio Aristoclides Stadler, que é irmão do segundo-suplente do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), Ari Stadler.

Ontem, um nome que tinha saído pela manhã no Estadão (para assinantes) reapareceu à tarde, no site Terra, na matéria "Depoimento sobre dossiê envolve dono de pousada em MG". É Gérson Luiz Cotta, ou simplesmente Gérson da Pousada. Dizia o texto do Terra:

"Um dos próximos depoimentos que a Polícia Federal deverá ouvir no caso do dossiê será o do terceiro suposto 'laranja', Gérson Luiz Cotta, dono de uma pousada em Ouro Preto. Conhecido como Gérson da Pousada, Cotta foi candidato a vereador, em 2003, pela coligação 'Muda, Ouro Preto', formada pelo PTB/PFL/PSB/PSC, mas teve apenas 237 votos. Desde o depoimento de uma de suas funcionárias, ele permanece incomunicável. A informação é de que estaria em viagem".

Cotta aparece no site do TSE como candidato a vereador pelo PFL em 2004, concorrendo com o número 25.660. Leitores deste blog comentaram que é um "inimigo histórico" do PT em Ouro Preto. Já a Polícia Federal, segundo o Terra, ao falar da pousada, "suspeita que o estabelecimento é utilizado para a prática de lavagem de dinheiro". O site relata que as duas moças que teriam sacado dinheiro numa casa de câmbio "têm parentes em Magé, no Estado do Rio de Janeiro, cidade na qual outra família também teria sido utilizada como 'laranja' para transações comerciais da Vicatur".

No caso de Cotta, pode ser um desses casos indecifráceis de homônimos, já que o Gérson da Pousada, no TSE, é Luiz com "z", e o Gerson da Pousada Ouro Preto, na internet, é Luis com "s". Pode ser também um erro de digitação.

De qualquer maneira, é preciso acompanhar essa história, já que a única coisa certa até agora é a ligação dos dois com o PFL, o que é de se estranhar. Como disse na Folha o advogado da Centauro, Charles Machado, "imagine o irmão de um pefelista trabalhando para o PT", e o mesmo vale para o dono da pousada.

Outro suposto laranja, Agnaldo Henrique de Lima, já foi desmascarado pela Polícia Federal. De acordo com a Reuters, as movimentações financeiras que ele assumiu (disse que recebeu R$80 mil em sua conta do empresário Luiz Armando Ramos) não existem.

Lima foi apresentado à imprensa por Rosy Pantaleão. Mas agora à tarde já se pode ler, no O Globo Online, que além de fundadora e secretária executiva do PSDB em Pouso Alegre (MG), Rosy Pantaleão aparece no expediente da TV UAI Network como diretora de conteúdo e jornalismo da empresa.

Hoje pela manhã, a Polícia Federal disse, de acordo com a Reuters, que é falsa a versão de Agnaldo de que teria sido o "laranja" numa operação de repasse de R$250 mil para Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha do senador Aloizio Mercadante ao governo paulista. Na conta de Agnaldo, não havia nenhum depósito de R$80 mil. Não conseguiram comprovar as movimentações que ele disse existirem. Era uma farsa.

Quem é que está mentindo, Lula ou FHC?

(Artigo de Bernardo Kucinski, jornalista, professor da Universidade de São Paulo e editor-associado da Carta Maior, com a ajuda de Mauricio Hashizume e Nelson Breve, entre outros, reproduzido da Agência Carta Maior)


Fernando Henrique disse outro dia que o PT mente, mente, mente, até que a mentira se torne verdade (veja abaixo a nota 1). Depois, foi a vez de seu candidato repetir a acusação (2). Fui conferir. Descobri que não é bem assim. Localizei facilmente quatro mentiras importantes que os tucanos é que vêm repetindo ad nauseam, conseguindo que se tornem verdades, com a ajuda de nosso preguiçoso e desmemoriado jornalismo.

Primeira mentira, a do aparelhamento do Estado.

Essa foi espalhada pelos tucanos logo no início do governo Lula e repetida pela mídia. Acusaram o governo Lula de manter 40 mil cargos de confiança (os que não precisam ser preenchidos por servidores de carreira). Mentira grosseira: em 2005 havia 19.925 cargos de Direção e Assessoramento Superior, chamados DAS ou cargos de confiança. Menos da metade do que dizia o tucanato. Desse total, apenas 7.422 foram preenchidos ou substituídos por indicados pelos partidos da base de sustentação do governo (3). E pelos dados disponíveis no site do Ministério do Planejamento, 68,9% dos DAS em novembro de 2005 continuavam sendo ocupados por funcionários públicos de carreira, praticamente a mesma proporção de novembro de 2001 (70,5%), apesar da profunda virada política que representou a vitória de Lula. E mais: cerca de 80% vão de DAS1 a DAS3, que dão ao servidor uma gratificação de apenas R$ 1.000 a R$ 1.500. São servidores ocupando funções que exigem confiança, mas relativamente modestas, como secretárias (4).

Qual a função dessa mentira? Em primeiro lugar, desviar a atenção do estrangulamento do Estado a da terceirização generalizada dos serviços públicos revelada quando Lula assumiu. É o governo Lula que está promovendo grandes concursos públicos para preenchimento de cargos que o governo FHC deixou vagar ou terceirizou. Mas o principal objetivo dessa mentira é bloquear a indicação de lideranças populares e sindicais para cargos de direção e para conselhos. O mega-operador de mercado de Soros, Armínio Fraga, pode ocupar a presidência do Banco Central que isso não é "aparelhar". Mas se o Paulo Okamoto ocupa a presidência do Sebrae, isso é aparelhar. Uma questão de classe.

A mentira do "brutal" aumento da carga tributária.

Os tucanos dizem que o governo Lula aumentou absurdamente a carga tributária. Mentira. Eles é que aumentaram absurdamente a carga tributária: o insuspeito Instituto de Planejamento Tributário diz que a carga aumentou de 28,61% do PIB, no último ano do governo Itamar Franco (1994), para 35,84% do PIB, no último ano do governo FHC (2002). Um aumento de 7,23 pontos percentuais ou mais de 25%.

E qual foi o aumento no governo Lula? Apenas 2,01 pontos percentuais, segundo o mesmo instituto, ficando em 37,85% do PIB (5). E mais, os maiores aumentos relativos no governo Lula foram dos impostos estaduais e municipais. A carga federal aumentou apenas 1,2 ponto percentual, de 25,37% do PIB para 26,55%. Sob os tucanos a carga tributária aumentou brutalmente, mudou de escala, e sob Lula ela variou apenas na margem. Essa bandeira pegou. E pegou tão fundo que Afif Domingues quase derrotou Suplicy na disputa da vaga do Senado por São Paulo, levantando essa bandeira mentirosa do aumento brutal da carga tributária do governo Lula. Qual a função específica dessa mentira, além de ajudar a eleger mentirosos? Provavelmente, influir a favor dos empresários, nas disputas pela realocação de alíquotas e impostos, que naturalmente o governo Lula teria que promover para cumprir o compromisso com os qual foi eleito de "mudar o Brasil".

A mentira da maior corrupção de todos os tempos.

Essa é uma mentira muito grave, porque mexe com a imagem e a reputação das pessoas as pessoas, de suas famílias, seus filhos, seus amigos. Os tucanos dizem que nunca houve tanta corrupção no Brasil como no governo Lula, mas até hoje foram poucos e de pequena monta os casos de corrupção comprovados dentro do governo federal. Um dos poucos casos foi o do funcionário dos Correios Maurício Marinho, flagrado pegando grana e devidamente demitido depois de uma sindicância. Eram três mil reais (6). Em contraste, no governo FHC foram vários e de grande monta os casos de corrupção, quase todos na casa dos bilhões de reais: o prejuízo de R$1,54 bilhão do Tesouro no socorro aos bancos Marka e Fonte-Cindam, levando à demissão do então presidente do Banco Central, Chico Lopes, e à fuga para a Itália, onde está até hoje, do banqueiro Salvatore Cacciola; o desvio de R$2 bilhões de recursos da Sudam no período 1994 a 1999, que levou à renúncia do ex-presidente do Senado, Jader Barbalho, e o desvio de R$ 1,4 bilhões do Finor em 653 projetos da área da Sudene, através do uso de notas frias; o desvio de R$ 168 milhões na construção da nova sede do TRT de São Paulo, levando à prisão do juiz Lalau e de Fábio Monteiro, que conseguiam as liberações de verbas diretamente do então secretário da Presidência, Eduardo Jorge (o que não significa de necessariamente que Eduardo Jorge soubesse dos desvios) (7); o pagamento comprovado de R$200 mil aos deputados Ronivon Santiago e João Maia para que votassem a favor de Emenda da reeleição, levando à expulsão dos dois do PFL e renúncia de seus mandatos (8).

A mãe de todas as mentiras, a de que o governo Lula não combate a corrupção.

Essa é pesada. É o governo FHC que nunca combateu a corrupção e não permitiu que fosse investigada. Não têm paralelo com o governo FHC as dezenas de operações de desbaratamento de quadrilhas no serviço publico, ou com ramificações na Receita Federal, no Ibama, na Previdência e na Polícia Rodoviária Federal, todas originárias dos tempos do governo FHC ou até de antes; destacam-se a operação vampiro e a operação sanguessuga, que desbaratou esquemas de corrupção que vinham desde 2002.

E mais, Fernando Henrique adotou como política geral impedir investigações de corrupção.Talvez porque as privatizações exigiam um ambiente de permissividade. Em vez de mandar investigar as fraudes da Sudam e da Sudene, FHC extinguiu as duas agências de desenvolvimento regional, com o que tornou praticamente impossível qualquer investigação futura. Uma modalidade de “queima de arquivo” institucional. Em vez de investigar as acusações de fraudes no DNER, extinguiu da mesma forma o DNER. Quando um grampo revelou malandragem de funcionários do BB e da Previ nas privatizações, a ponto de caírem os altos funcionários e até o ministro das Comunicações, FHC não permitiu a instalação de uma CPI da Privatização da Telebrás, usando o truque regimental de prolongar o funcionamento de várias CPIs fantasmas.

Tudo isso está na internet. Qualquer jornalista pode refrescar facilmente a memória e relembrar que eles mesmos chamavam o procurador-geral da República do governo FHC de engavetador-geral da República. Memória, pesquisa, contextualização e hierarquização adequada dos fatos. Isso é jornalismo. O resto é mentira.

Notas

1) Em discurso para 1.300 lideranças empresariais e políticos da coligação PSDB-PFL... Fernando Henrique usou um argumento recorrente entre apoiadores de Alckmin, de que os petistas usam de técnicas nazistas de propaganda, repetindo mentiras até que virem verdade. "Não se cansam de repetir mentiras, na velha técnica nazista de mente, mente, mente que pega. E pega mesmo, porque [Adolf] Hitler foi eleito. E depois?", comentou o ex-presidente. Folha On Line, 22/10/06
2) Conf. Folha de S. Paulo, 26/10/06
3) Conf. Luiz Weiss. Em O Estado de S.paulo, 25/10/06
4) Conf. Fábio Kerche e Rui Barbosa, em Valor Econômico. 28/09/06. Aparelhamento de Estado?
5)Ver http://www.ibpt.org.br
6) Certamente alguns outros acabarão comprovados, mas o que há hoje é muita acusação, lançamento generalizado de suspeição, e pouca prova.
7) Esta lista só inclui casos comprovados pela justiça ou pelas conseqüências que geraram. Não inclui muitas outras acusações que foram engavetadas ou ficaram obscuras, e que o autor não endossa necessariamente. Entre elas: a acusação de favorecimento da Raytheon na licitação do projeto Sivam, a acusação de que diretores do Banco do Brasil receberam propina de R$ 15 milhões para induzir fundos de pensão a participarem das privatizações da Vale e da Telemar; a acusação de favorecimento no pagamento de precatórios pelo DNER em troca de propinas de 25% do valor pago.
8) Transação gravada pelo repórter da Folha. Outros três deputados acusados de vender seus votos foram absolvidos pelo plenário da Câmara.

Lula tem 58% das intenções de voto, segundo o Ibope

(Reproduzido do G1)

A três dias do segundo turno, pesquisa do Ibope divulgada nesta quinta-feira (26) mostra que a disputa presidencial está estável. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou um ponto para cima em relação ao levantamento de 20 de outubro e atingiu 58% das intenções de voto. Geraldo Alckmin (PSDB) perdeu um ponto e registrou 35%. Nos votos totais, a vantagem de Lula passou de 21 pontos para 23 pontos. Votos brancos e nulos somam 3% e o índice de eleitores indecisos é 4%.

Considerando apenas os votos válidos (sem brancos, nulos e indecisos), o petista tem 62% contra 38% do tucano. Tanto a oscilação positiva de Lula, quando a negativa de Alckmin não alteraram o percentual de votos válidos em relação ao levantamento anterior.

Avaliação

A avaliação do presidente Lula também se manteve estável em relação ao último levantamento: 63% aprovam a gestão do petista contra 31% que desaprovam.

Demais institutos

Outras duas pesquisas divulgadas nesta quinta-feira (26) confirmaram a vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, sobre o adversário Geraldo Alckmin (PSDB).

Levantamento CNT-Sensus mostra a maior diferença entre os candidatos já registrada em pesquisas do segundo turno: 24 pontos. De acordo com a pesquisa, Lula tem 57,5% das intenções de voto e Alckmin, 33,5%. Votos brancos ou nulos somam 3,3%, e 5,9% afirmaram que estão indecisos. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Na pesquisa Vox Populi, divulgada na revista "Carta Capital" desta quinta-feira (26), Lula manteve diferença de 20 pontos nos votos totais e 22 nos votos válidos. O petista registrou 57% das intenções de voto contra 37% do tucano, mesmos percentuais obtidos em 19 de outubro. Votos brancos e nulos somaram 3% e indecisos totalizaram 3%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Levantamento do instituto Datafolha, divulgado na terça-feira (24), havia mostrado o petista com 58% das intenções de voto - 21 pontos da mais do que o tucano, que registrou 37%. Considerando apenas os votos válidos, Lula apareceu com 61% e Alckmin, 39%, uma diferença de 22 pontos. Até então, o Dataholha havia registrado a maior distância entre os candidatos.

Lula sobe 5 pontos no sudeste e Alckmin oscila 2 para baixo

Pesquisa Ibope divulgada nesta quinta-feira (26) pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, mostra que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu cinco pontos percentuais nas intenções de voto na região Sudeste em relação ao levantamento anterior. O petista passou de 49% para 54%.

No Nordeste, região em tem seu melhor desempenho, Lula continua com o mesmo percentual da pesquisa anterior (74%). Na região Sul, ele oscilou negativamente um ponto (43% para 42%). Já no Centro-Oeste e Norte, caiu três pontos (63% para 60%).

Já o adversário Geraldo Alckmin (PSDB) subiu seis pontos nas regiões Centro-Oeste e Norte, passando de 31% para 37%. O tucano permanece com 22% no Nordeste, oscilou um ponto para cima no Sul (50% para 51%) e oscilou dois para baixo no Sudeste (40% para 38%).

Porte do município

Nas cidades com até 20 mil habitantes, o petista permanece com 56% e o tucano oscilou de 37% para 38%. Nas cidades com mais de 20 mil até 100 mil habitantes, Lula subiu quatro pontos (56% para 60%) e Alckmin oscilou de 37% para 35%. Já nas cidades com mais de 100 mil, os dois mantiveram os mesmos percentuais: 58% (Lula) e 34% (Alckmin).

Escolaridade

Entre os eleitores que cursaram até 4ª série do ensino fundamental, Lula oscilou de 65% para 66% e Alckmin, de 27% para 26%. Entre os eleitores que estudaram da 5ª a 8ª séries, o petista passou de 63% para 62% e o tucano, de 31% para 33%.

Entre os eleitores com ensino médio, o candidato do PT subiu de 52% para 55%, enquanto o adversário oscilou de 39% para 40%. Entre os eleitores com ensino superior, Lula ganhou três pontos (40% para 43%) e Alckmin perdeu seis (53% para 47%).

Faixa etária

Entre os eleitores dos 25 aos 29 anos, Lula subiu cinco pontos (55% para 60%) e Alckmin caiu quatro (38% para 34%). Na faixa dos 30 aos 39 anos, ambos oscilaram para cima: o petista de 59% para 60% e o tucano de 33% para 34%. Na dos 50 ou mais anos, mantiveram os mesmos percentuais: 56% e 35%, respectivamente.

Na faixa dos 16 aos 24 anos, Lula oscilou de 56% para 57%, enquanto o adversário continua com o mesmo percentual do levantamento anterior (39%). Na faixa dos 40 aos 49 anos, o petista cresceu três pontos (57% para 60%) e Alckmin oscilou de 33% para 32%.

Pesquisa Consolidada

O presidente Lula oscilou um ponto para cima em relação ao levantamento de 20 de outubro e atingiu 58% das intenções de voto. Geraldo Alckmin perdeu um ponto e registrou 35%. Nos votos totais, a vantagem de Lula passou de 21 pontos para 23 pontos.

Realizada entre os dias 24 e 25 de outubro, a pesquisa ouviu 3010 leitores em 202 municípios brasileiros. Com margem de erro de dois pontos percentuais, o levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número 23351/06.

terça-feira, outubro 24, 2006

Só crescimento econômico não garante desenvolvimento do país

O debate da Rede Record, que prometeu ser mais um repeteco dos anteriores, quase cumpriu esta previsão. A nota diferenciada foi ouvir de Geraldo Alckmin, e não de deduções de terceiros, a defesa ao modelo de política externa atrelada aos mandos e desmandos dos Estados Unidos, e o conseqüente desejo de adesão à ALCA. Algo que me leva a ponderar o fato de o candidato tucano não ser apenas fraco e de conteúdo ralo, mas também perigoso.

Ademais, Alckmin vem se utilizando insistentemente de um argumento bastante interessante nos debates: crescimento econômico. O fato de a Argentina e a China crescerem a taxas entre 7 e 9% esse ano, contra menos de 3 do Brasil baseia grande parte do repertório do tucano. Realmente, o crescimento é desejado por todos. Vejamos, porém, a correlação entre esse crescimento e a situação real, do ponto de vista da qualidade de vida e do desenvolvimento social, no Brasil, na Argentina e na China.

China
Trata-se do maior dos países emergentes. Baseia grande parte do seu crescimento em produtos industrializados, assim como a Índia, conseguindo baixíssimo preço de venda, tornando-se assim um forte concorrente internacional em muitas áreas da indústria, como eletrônicos e calçados, por exemplo. A menção que costuma ser suprimida ao engrandecer esse crescimento é a maneira como esse preço baixo é conseguido: além da diminuição drástica da qualidade dos produtos, a política trabalhista chinesa permite que os operários trabalhem num regime de semi-escravidão, com jornadas excessivas, direitos quase inexistentes e baixíssimos salários. A liberdade de expressão é cerceada, dificultando ao máximo a organização de grupos para tentar uma melhoria dessas condições. Portanto, não se pode falar de um desenvolvimento real, mesmo com as altas taxas de crescimento econômico.

Argentina
Depois de ter o Estado quebrado na gestão de Menem, a Argentina decretou moratória de sua dívida externa. Após muita negociação do Presidente Nestor Kirchner com o FMI e órgãos internacionais, o país convenceu-os a perdoar 80% de sua dívida. Livre de entraves contratuais, que determinam como o Estado deve agir, e com muito menos juros para pagar, ou seja, com muito mais superávit revertido para o próprio Estado, a Argentina iniciou novamente um processo de crescimento a altas taxas. Essas taxas se explicam, em parte, pelo fato de o país ter vindo de uma quebra, com uma depressão muito grande no PIB, sendo portanto o PIB potencial muito muito maior queque o real. Cabe lembrar que no Brasil Lula quitou a dívida com o FMI, no que foi duramente criticado pelo PSDB e o PFL.

Brasil
O período mais notável do crescimento econômico brasileiro foi o chamado "milagre econômico", ocorrido durante a ditadura militar na década de 70. Calcado no superinvestimento em industrialização, o período ficou marcado por um excepcional endividamento externo. Além disso, nesta época consolidaram-se os centros urbanos como grandes concentradores de população, devido ao êxodo rural provocado pela mecanização do campo. Além do inchaço das cidades, da instituição das Regiões Metropolitanas, destaca-se o aumento superlativo do desemprego, o declínio da agricultura familiar e de subsistência, e o surgimento dos conhecidos problemas das grandes cidades: miséria, periferias precárias, serviços públicos incapazes de atender à demanda, etc. Apesar do incremento do crescimento econômico, houve nesse período o maior aumento da miséria da história. O chamado "milagre" é sucedido por uma inflação galopante, revelando que as estratégias artificiais de controle do câmbio jogaram o País num círculo vicioso de degradação sócio-econômica.

Baseando-se, portanto, no pensamento dos dois candidatos, percebemos que Alckmin pretende alavancar um crescimento do Brasil. A pergunta que fica é: com que finalidade? Geração de emprego? A que custo? Ao custo que paga a classe trabalhadora chinesa? Eu gostaria de ver Alckmin desenvolver o assunto sob o viés da política trabalhista. Seu partido já tentou inúmeras vezes extinguir direitos históricos conquistados pelos trabalhadores, em nome desse crescimento que interessa apenas aos concentradores de renda.

Lula frisou no debate que o social é sua prioridade. Nada de novo, disso todos já sabem. O Governo do ex-metalúrgico não prioriza a tecnocracia econômica, mas os resultados reais para a população. O crescimento de 10% na década de 70 foi realmente um "milagre": enriqueceu brutalmente os donos dos bens de produção, à custa da penúria do trabalhador, e da construção do cenário do caos, que foram as regiões metropolitanas e suas periferias.

Novamente, o desenho de cada um dos dois possíveis governos que escolheremos no dia 29, se mostra bem claro. A essa altura, o eleitor já sabe o que cada candidato representa, e sabendo o que deseja para si mesmo e para o país, dificilmente haverá grandes mudanças nas intenções de voto.

Enviada por Marcelo Vargas para http://sobreassuntos.blig.ig.com.br/

Alckmin é arrasado no debate da Record

(Por Miguel do Rosário, reproduzido do Blog da Reeleição)

"Por ocasião do primeiro debate, fui bem franco acerca de minhas impressões. Relatei aqui o que achei serem várias deficiências na participação de Lula. A imprensa corporativa, fortemente engajada na candidatura tucana, denunciaram o que seria a incapacidade de Lula para o "embate político" direto. Afirmavam que Alckmin teria inflingido uma grande derrota à Lula naquele debate.

As pesquisas indicaram outra coisa. Depois do debate, as intenções de voto em Alckmin cairam brutalmente.

Sugeriram que ele mudasse o figurino no segundo debate. Mudou. Entrou um Alckmin mansinho, propositivo.

Entretanto, a partir do segundo debate, Lula já estava bem mais seguro, bem mais preparado. Como se diz, os marketeiros de Alckmin haviam esquecido de combinar com os russos, e o tucano prosseguiu seu bucólico passeio ladeira abaixo.

Neste terceiro debate, dia 23, segunda-feira, na rede Record, Lula jogou o punhado de terra que faltava para enterrar de vez a candidatura de Geraldo Alckmin à presidência da República. Noblat, blogueiro do Estadão, opinou o seguinte:

Um fala para o povão - e fala cada vez mais a vontade à medida que está perto de se reeleger. O outro fala para os mais bem informados - sem emoção, mas com objetividade e argúcia. Como é o povão que decide, Lula vai bem. Para seus eleitores, Alckmim vai melhor do que foi no debate do SBT.

Acho que, desta vez, Noblat forçou a barra. Alckmin foi horrível. Parecia um papagaio louco, repetindo as mesmas coisas, com as mesmas palavras, a mesma entonação. O robô deu pane.

Olha, vou falar para o telespectador, é importante que vocês vejam a diferença.

Objetividade e argúcia têm Noblat, que sabe muito bem como agradar seus patrões.

Neste debate, Lula conseguiu desmascarar Alckmin, principalmente nas questões relativas à política externa. Alckmin se mostou desinformado e incoerente. Falou que iria privilegiar mercado e não ideologia na política externa, mas seu discurso sinalizou uma atitude oposta. Eleito, Alckmin irá, ele sim, ideologizar a nossa política externa, ao impor uma agenda de direita, americanófila, isolando-nos do resto da América do Sul. Fez um discurso agressivo contra a Bolívia. Levantou o nacionalismo mais rasteiro e oportunista. Vamos defender o Brasil, o interesse nacional. Como se a defesa de nossos vizinhos não acarretasse em benefícios econômicos para o Brasil. É a direita mais burra e retrógrada. O Brasil aumentou mais de 200% suas exportações para o Mercosul, lembrou Lula, e se tornou nosso principal mercado comprador. Esse é fracasso do Mercosul?

Alckmin defendeu uma relação preferencial do Brasil com os Estados Unidos, falando que os EUA são uma economia aberta, que compra manufaturados. É, pode ser.

Em primeiro lugar, a política de Lula não é hostil aos EUA. O Brasil tem relações perfeitamente amigáveis com os EUA, que respeitam a nova postura altiva da política externa brasileira. Altivez que não é retórica. O Brasil fechou parcerias importantes com China, Índia, Oriente Médio, União Européia e, repito, exporta mais para o Mercosul que para os EUA. Ou seja, o Brasil é respeitado pelos EUA porque superou sua dependência.

O pagamento da dívida com o FMI foi outro ato simbólico. Por oito anos, o governo tucano humilhou o povo brasileiro com suas idas constantes aos EUA para pedir dinheiro emprestado, e aceitando uma agenda econômica imposta pelo credor. Pedir emprestado ao FMI é choque de gestão?

A estabilidade econômica do governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, tão louvada pelos colunistas conservadores de hoje e outrora, foi adquirida às custas de brutal endividamento público, aumento da carga tributária, imposição de juros estratosféricos, enxugamento do crédito, arrochos salariais para o funcionalismo público, privatização do patrimônio público, pouco investimento social. Desemprego.

Estabilidade de moribundo, isso sim.

A estabilidade econômica de Lula está sendo consolidada de maneira bem diferente: interrompeu o processo de privatização, valorizou estatais, aumentou salário do funcionalismo público, aumentou o salário mínimo e as aposentadorias. Fez cair os juros, agora em seu momento mais baixo da história. Pagou a dívida externa e reduziu a dívida pública interna.

E investiu, como nenhum outro governo, em políticas sociais.

Aliás, quando Alckmin fala que Lula só mudou o nome de programas sociais anteriores, unificando-os sob o nome Bolsa Famíia, está tentando, é claro, vender seu peixe. É triste, porém, ver jornalistas comprando esse lambarizinho podre.

Um programa social não se mede pelo nome que tem, mas pela quantidade de verba que recebe. O governo Lula foi o primeiro a alocar, de maneira ousada, um volume expressivo de recursos para os programas sociais. Os jornalistas que esquecem disso são desonestos. O que importa aqui é a quantidade de recursos e o número de pessoas atendidas. Isso é real. Isso afeta a vida as pessoas.

No debate, Alckmin mostrou-se incoerente. Reclamou do pagamento dos juros, esquecendo que é ele o candidato que mais reza a oração da "segurança jurídica". Ora, todo mundo sabe que, se o Brasil tem que sangrar recursos bilionários no pagamento de juros da dívida, devemos isso ao senhor Fernando Henrique Cardoso, que entregou um governo endividado, e com contratos a serem cumpridos. Alckmin quer que Lula descumpra os contratos? É um incoerente. E deve nos achar uns idiotas, ao pensar que acreditamos que, neste ponto, ele faria diferente. Pior, toca nesse tema para, de maneira vil e oportunista, atacar o veto que Lula deu ao aumento de 16% aos aposentados que ganham mais de 1 salário mínimo. Ora, acompanhamos esse assunto pela imprensa. Vimos Antonio Carlos Magalhaes e outros próceres do PFL brigando por esse aumento, só para obrigar Lula a vetá-lo, pois já tinha dado aumento de 5% acima da inflação, de acordo com uma negociação justa com os sindicatos e associações de aposentados. A intenção era eleitoral. Reflete uma grande irresponsabilidade política e fiscal. Por que Alckmin não deu, então, aumento para seu próprio funcionalismo público, quando era governador? Por ocasião da crise da segurança pública em São Paulo, vimos que o policial paulista é um dos que ganha menos em todo país, apesar do estado ser o mais rico da nação.

Alckmin é um hipócrita, um demagogo, um representante do que há de pior na política nacional. Não sei como a imprensa tem a cara de pau de defender um candidato desse.

O tucano também se ferrou bonito quando tentou fazer o telespectador acreditar que Lula prejudicou o nordeste. Ficou óbvio que Alckmin, que tem desempenho pífio no nordeste, tentou ganhar alguns votos. Perdeu. Desinformado e mal intencionado como sempre, omitiu que o nordeste vem crescendo a um ritmo "chinês", sobretudo os segmentos mais pobres.

Falando em crescimento, abordemos esse tema em profundidade. Uma das maiores críticas da campanha presidencial tucana é que o Brasil cresceu pouco. Só 2% ao ano, acusa Alckmin. Ora, em primeiro lugar, durante a gestão tucana, o crescimento foi bem pior. Em segundo, parte do obstáculo ao crescimento está no próprio golpismo da oposição, incluindo aí donos de jornais, que quase paralisaram o país com a espetacularização de crises políticas. Em terceiro lugar, é preciso avaliar o que cresceu e o que cresceu pouco. Os segmentos pobres da população tiveram um crescimento bem superior a 2%, o que levou milhões a saírem da miséria, outros milhões a ingressarem na classe média, e outros milhões (mais especificamente 7,5 milhões) a arrumarem um emprego.

Lula é o candidato que possui maior apoio político de governadores, prefeitos, presidentes de outros países, intelectuais, artistas, movimentos sociais, centrais sindicais. Conseguiu, às duras penas, ganhar o PMDB, agora o maior partido do Congresso Nacional. Só não tem apoio da mídia corporativa, dominada por meia dúzia de famílias golpistas, que temem, com razão, perder os privilégios que possuem há décadas.

Aí entramos no tema proposto pelo grande jornalista Bob Fernandes, que participou do debate de ontem na Record. Só mesmo Bob para fazer uma pergunta desse quilate. Lula, de início, se esquivou, pois o assunto, de fato, é extremamente delicado. Mas deu uma boa resposta, lembrando que a TV digital deverá alterar relações de poder na mídia televisiva e, nos comentários - depois de Alckmin, virtualmente, desperdiçar seu tempo para não dizer nada - fez observações ácidas sobre os monopólios dos canais de tv em mãos de poucas famílias.

Alckmin nada falou de relevante sobre o tema.

Por fim, nas considerações finais, Alckmin gastou seus 2 minutos com um discurso vazio, bem ao estilo picolé de chuchu, sem emoção, sem conteúdo, no mesmo tom e com o mesmo vocabulário usado ao longo do debate.

Lula, por sua vez, fez um discurso emocionando, autêntico, tocando, pela primeira vez, num ponto sensível: que nunca um presidente foi tão perseguido pela mídia, pelas elites e pela oposição. O que não disse, porque não precisava dizer, é que, enquanto os outros perseguidos se suicidaram (Vargas), não elegeram sucessores (JK) ou foram apeados do poder pelos golpistas (Jango), ele deverá se eleger com uma votação monstruosa, em meio a um governo com aprovação popular em níveis recordes.

Mas não fiquem tristes, tucanos. Com Lula, o Brasil será melhor para todos, inclusive para vocês.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Midiatrix

(Reproduzido do blog Pedala, Oposição)

A fábula da trilogia Matrix, dirigida pelos irmãos Wachowsky, foi adaptada ao universo da televisão brasileira e ganhou novos contornos em sua trama. Em Midiatrix Revelations, vídeo disponível no site de compartilhamento You Tube, a Rede Globo assume o papel de vilã da história e, ao invés das máquinas controlarem a realidade vivida pelos humanos, conforme conceberam os Wachowsky, é a poderosa "Vênus Platinada" que determina em qual 'mundo' vivemos. O vídeo apresenta diálogos no filme original, em inglês, com as legendas em português satirizando a Globo.

No vídeo, o protagonista Neo decide tomar a pílula vermelha - que o liberta da realidade virtual - e acorda no mundo 'real', onde tudo exibe o logotipo da emissora. Ao ser apresentado às distorções criadas pela emissora da família Marinho, Neo assiste a cenas de novelas e outros programas globais. O apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, aparece em uma delas.

Quando muda de canal, Neo vê o mundo que a TV esconde: guerras, violência e miséria. Em determinado momento, a legenda atribuída ao personagem Morpheus, interpretado no filme pelo ator Lawrence Fishburn, diz: "A midatrix é controlada por uma velha elite da comunicação, que usa concessões públicas com objetivo de nos transformar em Homer Simpson".

A brincadeira com Simpson é uma referência à comparação, feita por Bonner, entre o telespectador médio brasileiro e o personagem do desenho animado americano, símbolo do indivíduo imbecilizado.

A Veja também é satirizada. Em interrogatório, agentes da matrix questionam Neo sobre os motivos que o levaram a cancelar a assinatura da revista semanal. "Era muita porcaria para meu cérebro", justifica-se o personagem interpretado por Keanu Reeves.

Revolução no campo

(Reproduzido do Blog do Nassif)

Uma das mais promissoras experiências sócio-econômicas brasileiras do momento ocorre no município piauiense de São Raimundo Nonato. 7.700 famílias, com três ou quatro filhos em média, estão sendo incorporados à economia formal graças ao programa do biodiesel. As famílias fazem parte do projeto de produção de diesel de mamona, vencido pela empresa holandesa Brasil Ecodiesel, para fornecer para a Agência Nacional de Petróleo. Para ter direito a incentivos fiscais, além do Selo Verde, a empresa precisa do Selo de Responsabilidade Social, adquirindo 30% da produção de agricultura familiar.

O projeto está sendo coordenador pelo Banco do Brasil, mas envolve um sem-número de instituições. Implantado, servirá de modelo para outras experiências do gênero. Até agora já entraram 28 municípios no projeto. No próximo ano, mais quatorze. Já existem experiência em andamento no Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri, em Minas, na Bacia do Rio Itabapoana, do Rio de Janeiro.

A análise do Banco do Brasil é puramente econômica. No Brasil são cinco milhões de propriedades rurais, das quais 4,1 milhões são familiares. Do lado do BB, a ação visa mitigar o risco. Para garantir o crescimento e a solvência das famílias, o banco estimulou culturas consorciadas de mamona com feijão caupi e apicultura, fugindo da monocultura e consolidando o conceito de território, através de consórcios entre municípios.

Da parte do banco, utiliza-se a linha do Pronaf (Programa de Financiamento da Agricultura Familiar). Nele, o desenvolvimento econômico é apenas uma perna. Para garantir a sustentabilidade do projeto, tem que se trabalhar o desenvolvimento de pessoas, senão a distribuição de renda ficará prejudicada. O fator crítico de sucesso são as parcerias entre União, governos do estado, prefeituras, Sebrae, Embrapa e movimentos sociais.

Cada família recebe um financiamento de R$2 mil, utilizados na compra de insumos, e avalizado pela empresa compradora. No caso do óleo de mamona, é a Brasil Ecodiesel. O feijão e mel são adquiridos pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). As compradoras garantem assistência técnica e capacitação.

Um dos pontos centrais da experiência é agregar valor à cadeia produtiva, mas respeitando as culturas locais. Se não agregar valor à farinha de mandioca, por exemplo, os pequenos agricultores vão acabar queimando mangue para produzir farinha, e jogando fora a casca de mandioca, que poderá ser utilizada como ração animal.

O projeto não vale apenas para o nordeste. Santa Catarina registra o maior índice de migração interna - cerca de 120 municípios reduziram de tamanho nos últimos cinco anos, porque não propiciam mobilidade econômica, obrigando os jovens mais preparados a migrarem para outros estados. Com o programa, será possível criar novos empregos no campo que não os meramente agrícolas.

O próximo passo do banco será contratar uma consultoria para analisar os impactos sociais da estratégia. Será externa para segregar a parte bancária da parte social. Pelos cálculos até agora, os pequenos agricultores já conseguem uma renda de R$1.200,00 mensais.

A unanimidade

Se uma pessoa chegasse ao Brasil nos últimos dias e assistisse as TVs; lesse as revistas semanais e os maiores jornais do país pensaria que Lula é o pior presidente que já houve e que o PT é execrado pelo povo. Acontece que Lula recebeu mais de 48% dos votos no 1º turno, tem a maior aprovação popular da história como presidente e caminha para a vitória no segundo turno. O PT foi o partido mais votado para deputado federal, com quase 14 milhões de votos.

O problema reside na posição política que adotaram os maiores meios de comunicação. Eles destoam grandemente do sentimento popular, atacam duramente o presidente e o PT, comportando-se como verdadeiros partidos políticos de oposição. Aliás, às vezes, a oposição tem sido dirigida pela grande imprensa. Um exemplo foi a matéria da Veja em que ela ataca o Ministro Márcio Tomás Bastos. No dia seguinte, os presidentes do PSDB, PFL e PPS foram pedir a impugnação de Lula ao TSE, com base neste artigo.

No governo FHC e nos governos Covas/Alckmin em SP não se viu tamanha preocupação com o combate à corrupção. As notícias eram esparsas, encobertas por outras e em poucos dias, esquecidas. Os partidos governistas, principalmente o PSDB e o PFL eram simplesmente ignorados, como se FHC, Alckmin e seus auxiliares não fossem filiados a nenhum partido.

Basta lembrarmos os escândalos do Governo FHC: congelamento dos salários dos servidores federais por 8 anos; sucateamento dos serviços públicos; altíssimas taxas de desemprego; menor salário mínimo de todos os tempos; aumento da desigualdade social; fome para milhões de famílias etc. Pois, escândalo não é só quando há suspeita de corrupção, mas também quando o governo não cumpre a Constituição, que diz que todos os brasileiros são iguais e portanto têm direito a uma vida digna, emprego, salário justo, alimentação decente. E FHC foi julgado pelo povo como um péssimo governo, porém foi ótimo para uma minoria que enriqueceu com a privatização das estatais e com os lucros enormes dos banqueiros.

Outros escândalos de FHC: privatização das estatais a preço de banana; os recursos arrecadados sumiram pelo ralo do pagamento de juros para banqueiros; PROER, onde o governo repassou 10 bi de dólares para pobres banqueiros falidos; Pasta Rosa; SIVAM; Marka e Fonte Cindam; compra de votos para a reeleição de FHC; bloqueio de qualquer tentativa de CPI para investigar as denúncias contra seu mandato; as denúncias eram barradas pelo engavetador geral da república.

Os três mandatos de Covas/Alckmin não ficam atrás: os servidores estaduais aposentados estão com salários congelados desde 1995; foram fechadas muitas escolas, assim como o serviço público foi sucateado; privatização da CESP, CPFL, COMGÀS, BANESPA; 69 pedidos de CPI foram barrados, devido à maioria governista na Assembléia Legislativa; nenhuma denúncia contra os governos Covas/Alckmin foi apurada.

Na verdade, montaram em SP uma "ditadura perfeita" como no México, onde o PRI governou por 70 anos, sempre "vencendo" as eleições, à custa de fraude, compra de votos, ameaças etc. Em SP, a "ditadura perfeita" combina o uso partidário da máquina pública, conluio com empresas privadas e privatizadas e muito dinheiro injetado na veia da grande imprensa, que não denuncia os desmandos do PSDB paulista, com a mesma desenvoltura com que ataca Lula e o PT.

A imprensa poderia dar grande destaque a denúncias de fraude na NOSSA CAIXA, banco estatal que financiou publicidade em revistas amigas do Alckmin, sem licitação. Ou ainda, por que as investigações sobre licitações fraudulentas para construção de casas e apartamentos não se concluem nunca? Ou ainda, onde foi parar o dinheiro arrecadado nas privatizações de FHC e Alckmin?

A unanimidade da chamada grande imprensa, na oposição ao Presidente Lula e ao PT envolve quais interesses? Por que eles tentam destruir a imagem positiva do Lula? Por que não adotam uma postura imparcial e criticam Alckmin? Esta unanimidade cheira mal.

(Hílton Faria da Silva, engenheiro agrônomo e vereador do PT em Palmas, no site O Informante)

domingo, outubro 22, 2006

Explicações de dirigente da Globo não convencem

Paulo Henrique Amorim

O que o Jornal Nacional fez na edição na véspera do 1º. Turno – quando ignorou a queda do avião da Gol e se concentrou em dar noticias contra o Presidente Lula – foi mais do que o tradicional “padrão Globo” de qualidade: um jornalismo parcial, militante, anti-trabalhista.

O que vem de longe.

O Globo ajudou a derrubar Vargas.

Tentou derrubar JK (mini-série, como se sabe, não é documento histórico).

Ajudou a derrubar Jango.

Foi o porta-voz dos “anos militares” (*).

Lutou contra Brizola.

Sempre foi contra Lula.

Quando Roberto Marinho mandava, era proibido ter “sobe som” do Lula, durante as campanhas presidenciais. Se Lula falasse swahili, o publico não saberia. Fora das campanhas, Lula só aparecia em situações que o prejudicassem.

A edição do Jornal Nacional da véspera da eleição foi uma intervenção no processo político muito mais profunda do que a edição do Jornal Nacional na véspera do segundo turno, que elegeu Collor.

A mídia – com a Globo à frente – levou a eleição para o segundo turno, é o que demonstra, com números, Marcos Coimbra, da Vox Populi, na edição da Carta Capital que está nas bancos.

E na entrevista que me concedeu, aqui, no IG: clique aqui para ler.

O que o Jornal Nacional fez na véspera do primeiro turno é outra coisa: é da categoria do “ódio”, da “vingança”.

É mais do que jornalismo militante, parcial.

E isso é obra de Ali Kamel, Diretor-executivo de jornalismo da Central Globo de Jornalismo (sic).

O cargo de manda-chuva no jornalismo da Globo é provavelmente mais importante, no Brasil de nossos dias, do que o de Ministro da Justiça.

O Brasil já teve ministros da Justiça que eram coordenadores políticos de relevo. Tancredo Neves, de Vargas. Petrônio Portella, de Figueiredo. Fernando Lyra, de Tancredo.

O Ministro da Justiça de hoje faz política de forma ocasional. Por exemplo, quando foi jantar na casa do Senador Heráclito Fortes, em Brasilia, com o empresário Daniel Dantas, depois de a revista Veja publicar que o Presidente da Republica e o chefe da Policia Federal tinham contas secretas no exterior, de acordo com informação, segundo a Veja, de Daniel Dantas.

O manda-chuva do jornalismo da Globo é tão poderoso que pode mandar uma eleição para o segundo turno.

Tanto que na Globo, segundo a revista Carta Capital, chamam Kamel de Ratzinger, o guardião da doutrina da fé.

Nem sempre foi assim.

Evandro Carlos de Andrade também foi o guardião da doutrina da fé do jornal Globo e da tevê Globo.

Mas tinha uma diferença.

Evandro não deixava impressões digitais.

Ele dirigiu o Globo durante um largo período dos “anos militares” (*). E não deixou impressões digitais. (A não ser o próprio jornal que fez).

Na Globo, a mesma coisa.
Evandro trabalhava como o Barão Scarpia. Um pelotão de fuzilamento acabava com Cavaradossi, mas Scarpia não precisava subir ao terraço do Castel Sant’Angelo. Até porque Floria Tosca já o tinha esfaqueado.

Kamel deixa impressões digitais.

Numa polêmica publica a respeito da participação da Globo na fraude da Proconsult, que tentou impedir a eleição de Brizola no Rio, em 1982 – polêmica que está na origem de meu livro ("Plim-plim, a peleja de Brizola contra a fraude eleitoral", que escrevi na companhia da jornalista Maria Helena Passos) -, pude dizer a Kamel:

Não seja tão subserviente. O patrão não te pede tanto.

Nesse episodio do Jornal Nacional na véspera da eleição, Kamel foi, provavelmente, sobre-subserviente.

Foi para o campo do “ódio” e da “vingança”, quando um verdadeiro guardião da doutrina da fé, como Evandro, se teria comportado dentro dos limites tradicionais de Globo: parcialidade e anti-trabalhismo.

Kamel foi longe demais.

Vamos imaginar a hipótese de o presidente Lula se reeleger.

Assim como há a Lei da Gravidade, a Lei Geral de Telecomunicações vai ter que mudar. Isso afeta a Globo.

Não faz sentido você chegar lá, pagar R$ 250 mil, comprar uma licença, e colocar no satélite a emissora de tevê que você bem entender. Isso é possível nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Japão? Aqui, é assim que funciona. E isso vai ter que mudar. E isso afeta a Globo.

E a polemica sobre se as operadores de telefonia podem ou não produzir conteúdo? Isso afeta a Globo.

Assim como muitas outras questões geradas pela convergência, e que terão quer institucionalizadas nos próximas quatro anos – com Lula ou Alckmin.

Interessa à Globo construir a imagem de “ódio” e “vingança”, que transparece das capas da revista Veja ?

Muitos já disseram que o “ódio” da Veja é uma forma de “vingança” contra uma decisão do Presidente Lula sobre livros didáticos, que, este ano, deu um prejuízo à Editora Abril de R$ 40 milhões (clique aqui).

Porque o Ministério da Educação resolveu mudar uma pratica que beneficiava a Abril. E decidiu beneficiar editoras menores (clique aqui).

Até a edição do Jornal Nacional da véspera da do primeiro turno sempre se imaginou que a Globo preferisse um guardião da fé como o Evandro.

Evandro, antes de ir para a Globo, foi um dos melhores jornalistas políticos do país.

Morto Evandro, a Globo substituiu-o por Kamel, cujo obra jornalística está por construir-se – e não no passado.

Ate aqui, a Globo preferia uma guardião da doutrina que não quisesse ser mais do que isso: um guardião da doutrina da família Marinho.

Kamel quis ser papa.

Como Ratzinger.


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(1) A expressão “anos militares” é usada pelo respeitável cientista político Wanderley Guilherme dos Santos. Parece-me mais adequada do que “ditadura militar”, que, no Brasil, mudou de significado.

sábado, outubro 21, 2006

Elite está com ódio porque o povo levantou a cabeça

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, fez um discurso contundente contra seus opositores e a imprensa na manhã deste sábado (21), em comício que levou 50 mil pessoas à Boca Maldita de Curitiba, no Paraná.

Ele pediu para ser tratado com decência e respeito. "Não é possível viver a vida inteira subordinado a futricas", criticou. "As pessoas são expostas todo dia nas páginas dos jornais e na hora em que são absolvidas ninguém pede desculpas neste País", acentuou.

Lula disse que manterá o mesmo estilo que adotou até agora. "Educação a gente aprende dentro de casa e eu não preciso ofender nenhum adversário para ganhar as eleições", afirmou.

"Se quiserem me ofender, se quiserem me acusar, que acusem, eu vou manter um comportamento de presidente da República: altivo, sereno, sabedor de que o ódio que eles têm de mim não é por roubo. Eles sabem que eu não roubo e nem roubei", discursou. "Eles sabem do meu caráter e dos meus compromissos."

De acordo com o presidente, o ódio demonstrado pelos seus adversários deve-se ao fato de que "pela primeira vez o pobre brasileiro levantou a cabeça".

"Não é o Lula que eles querem destruir", reforçou. "Querem destruir é o nosso sonho de fazer deste país um país grande, rico, que faça justiça com seu povo."

O presidente lembrou que, nos quatro anos de mandato, nunca falou mal de ninguém, nem mesmo dos adversários. "Nunca viram e nunca vão ver, porque eu vou ganhar a eleição", afirmou. Mas lembrou que, mesmo nas vezes em que perdeu, manteve a serenidade.

Lula analisou que as três vezes em que perdeu foi em razão de que uma parte da população pobre tinha medo dele.

"Tinha medo porque as pessoas falaram que Lula não sabia governar, que não fala inglês, não fala francês", disse. "Aqui neste Estado até o preconceito contra o meu dedo eles fizeram." Um panfleto com uma mão com quatro dedos com um traço vermelho foi distribuído recentemente. "Preconceito é como câncer. Em época de campanha, se espalha como metástase."

Mas, segundo ele, se perdeu três eleições por medo que parte dos pobres tinha, sente-se orgulhoso de terminar o atual mandato sabendo que "os pobres conquistaram a independência".

"As pessoas aprenderam porque estão ficando mais espertas, estão vendo a diferença de quatro anos meu e 30 deles", afirmou. Nesse ponto, falou do Bolsa-Família, do ProUni, dos recursos destinados à agricultura.

E aproveitou para criticar os parlamentares que não aprovaram o Fundeb (Fundo Nacional de Educação Básica) e a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa.

"Não aprovaram porque acharam que se aprovassem seria bom para o Lula", afirmou. "É preciso diminuir o ódio com que as pessoas fazem política no Brasil. E é por isso que não ataco ninguém".

Ele lembrou que ainda terá dois debates até as eleições. "Quando era oposição não tinha debate, só teve em 2002, quando eu estava em primeiro lugar", recordou.

"Em 98, quando o Fernando Henrique Cardoso não foi em um debate ninguém colocou uma cadeira vazia. Agora, como é o Lula..." Mas registrou que gosta de debate. "Sobretudo quando o candidato tem nível para discutir o Brasil", ponderou.

sexta-feira, outubro 20, 2006

a voz do povo...

Monge beneditino explica em quem vai votar no segundo turno

(reproduzido do blog Onipresente)

De vez em quando alguém vem me perguntar qual minha opinião sobre os candidatos. E eu tenho que explicar, dando várias razões. Há mais de vinte anos, quando lecionava OSPB, para o ensino fundamental, e depois como professor de Filosofia e de Sociologia, no ensino médio e superior, sempre ensinei meus alunos a pensar, a tomar posição e a fundamentar suas decisões. Nunca os induzi a nada. Mas também nunca deixei de manifestar-lhes minha posição e de justificá-la.

Hoje, não faltam aqueles que querem saber qual o meu candidato, e ao me manifestar, muitos estão questionando se essa opção não é a favor da corrupção. Então entram com a questão ética, que hoje está em voga. E tenho que explicar sobre isso, também.

Vou começar pelos critérios que uso para votar:

1) Eu começo pelos partidos, identificando os que são de direita e os que são de esquerda. E elimino da minha preferência todos os que são de direita, pelas seguintes razões: os partidos de direita defendem os interesses de quem detém o capital e não se importam muito com a classe trabalhadora. Muitas vezes eles fazem um discurso em defesa da classe trabalhadora, mas sua prática é sempre para inviabilizar o próprio discurso. Já a natureza dos partidos de esquerda é a defesa das classes trabalhadoras, dos desempregados, dos pobres. Os avanços históricos conseguidos pelos trabalhadores europeus e asiáticos só foram possíveis com o apoio desses partidos.

2) Em seguida eu elimino aqueles partidos que se situam no extremo. A extrema esquerda, assim como a extrema direita, não tem noção da realidade. Ambas usam uma camisa de força e fazem de tudo para encaixar nela a realidade com toda a sua complexidade. Normalmente são pessoas arrogantes, cruéis no relacionamento com os outros, insensíveis, mal-educadas e desrespeitosas. Como não têm argumentos, apelam para a gritaria, para a truculência, para a força. A extrema esquerda e a extrema direita se identificam uma com a outra e muitas vezes estão unidas no parlamento, contra aqueles que fazem uso da razão.

3) Depois de escolher o partido, isso não significa que vá votar em qualquer pessoa desse partido. Escolho a pessoa que tenha, antes da candidatura, uma militância no meio do povo e, sobretudo, um envolvimento na defesa dos direitos humanos (o direito à vida e tudo o que sustenta a vida como a liberdade, a segurança, a educação, a saúde, o trabalho, a alimentação, o meio ambiente saudável etc.). De preferência, escolho o candidato ou a candidata que seja também de fé. Por último vejo se há alguém com essas qualidades e que ao mesmo tempo seja ligado à minha cidade ou tenha alguns laços com a mesma, visitando-a sempre que necessário.

Então, vamos ao caso: em quem votar no segundo turno? A quem darei o meu voto? E por quê?

Pelos critérios acima o meu voto vai para o Lula e não para o Alckmin. Diante disso há quem possa dizer: "Mas você vai votar num governante em cujo governo nunca se ouviu falar tanto de corrupção?" E ainda: "Logo você, que tem duas graduações superiores e duas pós-graduações, vai votar numa pessoa ignorante, sem estudos?"

É claro que eu fiquei chateado com muitos casos de corrupção envolvendo membros do próprio PT, mas não fiquei surpreso, porque a corrupção existe em todos os lugares em que haja dinheiro: na família, nas empresas, nos ambientes esportivos, nos governos, nas igrejas etc. Até mesmo no grupo de Jesus havia alguém, com o nome de Judas, que punha as mãos no dinheiro que não era seu. O que é necessário esclarecer é o seguinte: esses esquemas todos de corrupção foram herdados de governos passados e só agora estão sendo abatidos, pela ação do governo atual, o mesmo que está sendo questionado. O que se vê em seguida à denúncia é a ação para apurar. Antes o que se via era ação para levar tudo para debaixo do tapete. Foi assim com os escândalos das faraônicas inacabadas, das Polonetas, do Tiepo, da Pasta Rosa, das Privatizações, do SIVAN, do Banco Econômico etc., em que vários bilhões de dólares saíram dos cofres públicos e foram de água abaixo, até um lugar bem escondido de algum paraíso fiscal.

Que moral tem o PFL e o PSDB e o PPS para ficarem falando sobre ética? Nenhuma! Aliás, eles deveriam esclarecer suas próprias ações enquanto governo. Por que o Sr. Alckmin deixou para o seu vice, Cláudio Lembo, um rombo de R$1.200.000.000,00 nas contas públicas do Estado de São Paulo? Isso mesmo: um bilhão e duzentos milhões de reais. Por que nenhum destaque na imprensa, a não ser em algum cantinho de algum jornal? Por que a mídia não se interessa nem um pouco por isso?

Eu voto no Lula ainda pelos seguintes motivos:

1) Foi o governante que primeiro fez do Nordeste do Brasil uma verdadeira prioridade, fazendo essa região, esquecida por todos os governantes anteriores, crescer mais do que a média nacional.

2) Foi o governante que primeiro priorizou verdadeiramente o ensino técnico e superior para os mais pobres, dando início a 30 Centros Tecnológicos capazes de qualificá-los e a 10 Universidades Federais, em todas as regiões do país. Além disso, foram criados programas de distribuição de bolsas para os que ingressam nas Universidades privadas.

3) Foi o governante que se interessou verdadeiramente em pagar as dívidas do país. Ele não só deixou de tirar dinheiro emprestado como também se livrou do FMI: não recebeu a última parcela do empréstimo feito por FHC e de sobra pagou toda a dívida com dois anos de antecedência, deixando-nos livres da humilhação desse órgão que realmente era quem ditava o rumo de nossa economia. Além disso, ele já ajuntou US$70 bilhões de dólares para pagar o restante da dívida com outros órgãos internacionais, dando-nos a certeza de que logo o Brasil será um país credor e não devedor.

4) Foi o governante que mais investiu na área social, tirando milhões de pessoas do estado de miséria, e sob as críticas dos partidos de direita. Há ainda nessa área muito a que se fazer, mas era necessário um começo. E quando estiver funcionando as usinas de biodiesel no Nordeste e outras regiões, com toda certeza, haverá empregos para todos os que ainda hoje não conseguiram sair do estado de miséria.

5) Foi o primeiro governante que voltou a política externa também para os países africanos, asiáticos e latino-americanos, tornando-se uma sólida liderança de 21 desses países. Por causa disso hoje muitas empresas do Brasil estão se instalando nesses continentes e nossas exportações para lá se dobraram em curto espaço de tempo.

6) Foi o único nos últimos 20 anos a voltar suas atenções para a infra-estrutura necessária ao crescimento do país. Está-se tomando medidas no campo energético, ampliam-se os portos e aeroportos, duplicam-se as rodovias e se criam equipes de manutenção etc.

7) Foi o governante que corrigiu as injustiças praticadas sistematicamente por FHC, que, sem mais sem menos, cortou as aposentadorias de uma infinidade de trabalhadores rurais. A Justiça Itinerante promovida pelo Governo Lula resolveu tais problemas e hoje muitos idosos têm a sua aposentadoria e vivem com mais dignidade.

8) Foi o único governante da história que não fez pacotes econômicos e sem eles conseguiu fazer o dólar americano perder valor.

9) As medidas tomadas na área da economia trouxeram o maior superávit da história do Brasil na balança comercial.

10) A população negra do Brasil, sobretudo remanescente dos Quilombos foi contemplada pelo atual governo. E também os negros e índios começaram a pensar num curso superior, porque as condições foram criadas para isso.

Não há dúvida, a realidade está aí para ser vista. Infelizmente muitas pessoas não conseguem ver senão aquilo que a Imprensa ou a Mídia diz. E o que os meios de comunicação, em sua maioria, mais gostam de fazer é manipular ou distorcer as informações. E o que é pior: sonegar a informação! Eles não insistem no fato de que todos os partidos - principalmente o PFL e o PSDB - praticam caixa dois! E não insistem também no fato de que a maioria dos casos de corrupção dos chamados "sanguessugas" tem ligação com o PSDB e PFL! E não interessa mostrar, porque os grandes jornais e as grandes redes de televisão têm o rabo preso com o grande capital, que os sustenta!

Josias Dias da Costa, monge beneditino.
Goiânia, 8 de outubro de 2006.

A oito dias das eleições, Lula abre vantagem de 24 pontos

Faltando oito dias para as eleições, e um dia após o debate promovido pelo SBT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou ainda mais sua vantagem sobre o adversário tucano Geraldo Alckmin.

Segundo pesquisa Ibope divulgada nesta sexta-feira (20) pelo Jornal Nacional, da TV Globo, Lula tem agora o equivalente a 62% dos votos válidos, 24 pontos percentuais à frente de Alckmin, que aparece com apenas 38%. No último levantamento do instituto, a diferença era de 14%.

Em votos totais, a intenção de voto no presidente subiu de 52% para 57%; e a de Alckmin caiu de 40% para 36%. Brancos e nulos somam 4%. Indecisos são 3%.

O Jornal Nacional não divulgou números sobre a avaliação do governo, ao contrário do que fizera em edições anteriores.

O Ibope ouviu 3010 pessoas em 198 municípios entre quarta-feira (18) e hoje. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

PT abre as contas da campanha

(Malu Delgado para a Folha de São Paulo)

A coordenação nacional da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição e o Diretório Nacional do PT colocaram ontem à disposição da Polícia Federal e da Justiça os respectivos sigilos bancários. A decisão foi tomada pelo PT diante da onda de especulações sobre novas descobertas da Polícia Federal sobre a origem do dinheiro utilizada por petistas na tentativa de comprar o dossiê que ligava tucanos à máfia dos sanguessugas.

O coordenador-geral da campanha de Lula e presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, informou ontem que advogados do partido também vão sugerir à Justiça Federal de Mato Grosso, onde foi instaurado o inquérito do caso dossiê, que o processo não transcorra mais sob sigilo.

"Que todas as informações que o juiz julgue procedente divulgar, as divulgue ele próprio. É uma decisão que cabe a ele, evidentemente. Mas estamos dando a sugestão. Vai evitar vazamentos, informações aqui e ali, segundo o que se diz, segundo o que se supõe. Do nosso ponto de vista, não temos nenhum inconveniente que seja divulgado", sugeriu Garcia.


Contas em SP

O coordenador considerou ainda que seria conveniente abrir as contas da campanha estadual de Aloizio Mercadante tomar a mesma atitude. "Acho que o senador Aloizio não teria nenhuma dificuldade de fazer a mesma coisa. Mas é um procedimento que nós adotamos. Eu não quero constranger ninguém a isso. A nossa posição é essa."

Mercadante disse que seguirá o exemplo do Diretório Nacional. "Vou encaminhar imediatamente essa iniciativa", afirmou a jornalistas, na entrada do estúdio do SBT, ontem. "Tudo o que contribuir para esclarecer esse episódio é de meu maior interesse. Faço questão de que tudo seja esclarecido e tenho confiança no trabalho da Polícia Federal."

Garcia disse que não foi estipulado um período de abertura das contas do diretório do PT. Sobre a campanha, a renúncia do sigilo é de julho até agora. Segundo ele, os membros da Executiva Nacional foram consultados na quarta-feira sobre a renúncia ao sigilo bancário. "Foi unanimemente respaldado pela Executiva", disse o presidente do PT. Lula também foi informado, afirmou. Para o coordenador de Lula, todos os dias são publicadas especulações "na condicional" sobre a origem do dinheiro. "Achamos que isso reforça a transparência das investigações. Mas não é nenhuma coação ao Judiciário. Se o juiz considerar que é bom procedimento, o fará", disse.


Ministro

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, demonstrou ser favorável ao levantamento do sigilo do processo sobre o dossiê. "Nessa altura eu acho que sim [é positivo]. Assim terminam as especulações, assim terminam as fantasias e a possibilidade de uso eleitoral".

Thomaz Bastos, que há algumas semanas descartava a possibilidade de conclusão do inquérito antes das eleições, agora mudou o discurso. "É um trabalho difícil, sério, cuidadoso. Ele não vai ser apressado e nem vai ser atrasado. Tem o tempo da investigação. Estamos torcendo e trabalhando para que seja decifrado o grande tema, que é a origem do dinheiro, antes da eleição."

Segundo o ministro, é um "perigo" acusar pessoas com base em "fragmentos não colocados na perspectiva geral". O ministro evitou comentar informações de que a PF, em Cuiabá, teria chegado a um "nome graúdo" no caso.

Garcia disse que a divulgação das fotos do dinheiro apreendido pela PF com petistas para a compra do dossiê já teria sido resultado da violação do segredo de Justiça. As fotos divulgadas não faziam parte do inquérito que transcorre sob sigilo.

Carta aberta a Arnaldo Jabor

(Por Mauro Carrara, n'O Informante)

Quase perfeitíssimo truão,

primeiramente, atente ao substantivo, e não desconfie de insulto. Os bobos da corte são, historicamente, mais que promotores de fuzarca ou desvalidos a serviço do entretenimento. Os realmente talentosos urdiam na teia das anedotas a crítica a seus senhores monarcas, traduzindo pela ironia a bronca popular.

Era o caso do ácido e desengonçado Triboulet, vosso patrono, uma espécie de grilo falante capaz de estimular as consciências de Luís XII e Francisco I. Tantos outros venceram no ofício, como o impagável Cristobal de Pernia, uma espécie de conselheiro extra-oficial de Felipe IV.

Neste Brasil da pós-modernidade globalizante, el rei Dom Fernando Henrique Cardoso reviveu a bufonaria. No entanto, empregou-a de modo diverso, quase sempre como dissimulação hilariante para desviar atenções de sua ética de conveniência mercantil, tão bem definida por Dom José A. Gianotti, seu filósofo e encanador.

O ex-monarca utilizou ainda sua trupe de falastrões para promover a alienante festa pública sugerida por Maquiavel. Portanto, nunca é exagero te parabenizar pelo empenho profissional. Há anos, na ribalta televisiva, te devotas a divertir e iludir os "psites do sofá", mesmo depois que o tiranete a quem servias foi apeado do trono. Sempre diligente, conclamas e incitas, rebolando patranhas tal qual histriônico cabo de esquadra do restauracionismo.

Recentemente, contudo, causou-me espanto tua fúria salivante para edulcorar a participação do embusteiro Geraldo Alckmin no embate contra o grisalho herói de todos os sertões.

Como é próprio de teu ofício, fizeste rir ao embaralhar significados, ao abusar das hipérboles, ao exceder-se nos adjetivos impróprios, ao viajar na maionese das idéias desconexas.

No entanto, truão Jabor, prosperou aqui a dúvida. Que quiseste dizer com o clichê "choque de capitalismo"? Seria referência ao rombo de R$1,2 bilhão legado pelo embusteiro alquimista ao ressabiado governador Lembo? Ou seria apenas ironia herdada de teus predecessores, na profecia zombeteira de um novo "que comam brioches"?

Destacam-se também, como enigmas, tuas dupletas acres de escassa teoria. São os casos de "socialismo degradado", "populismo estatista" e "getulismo tardio". Eita, nóis! Que essas vigarices binárias nos viessem, ao menos, com sal de fruta. Né? Ora, de qual "socialismo" tratas? Será que resolveste, no supletivo dos sexagenários, estudar a indústria cultural e as idéias de Adorno? Hum... Pouco provável.

No que tange ao termo "populismo", arrisco uma resposta. Tu o compraste na escribaria de ordenança dos novos donatários. É coisa do bazar de tolices de Civita e Frias Filho. Acertei? Diga aí...

Mas o que queres dizer com "getulismo"? Pelo que percebi, escapa-te o fenômeno à compreensão histórica. Tratas daquele do Departamento de Imprensa e Propaganda? Ou te referes àquele das necessárias justiças trabalhistas?

Outros exageros me encafifaram em tua anedota de encomenda. Tratas lisergicamente de um São Paulo "rico", como se construído dos empenhos da malta quatrocentona. Em teus seminários de apedeuta, desapareceu o povo. Evaporaram-se João Ramalho, Bartira, Tibiriçá, Anchieta, tantos mamelucos arabizados, tantos avós europeus aqui remixados, tantos irmãos nordestinos que ergueram nossos arranha-céus. Teu São Paulo mítico, tristemente, não admite a antropofagia.

E tem mais... Em tua pregação, o embusteiro Alckmin surge como legítimo herdeiro da alva elite construtora do progresso. Nesse delírio pós-positivista e lombrosiano, não há rastro da gestão criminosa dos privateiros tucanos, dos sonegadores dasluzeiros, dos pedageiros corruptos e dos sócios do marcolismo. Não te rendeste ao excesso? Ai, ai, ai...

Agitando guizos, executas tua prestidigitação. Empregas, em simultâneo, o sapato pontudo para alojar sob o tapete o sacrifício juvenil na Febem, as nove centenas de contratos irregulares e o estupendo assalto ao tesouro da gente bandeirante. Não exageraste? És bufão ou advogado, truão Jabor?

Entre tuas deformações, tão valiosas ao ofício, suponho até mesmo a cegueira de um olho. Ignoras o júbilo de milhões de vassalos não mais famintos, agora metidos a escrever o próprio nome. Vê, quanto atrevimento! Tampouco registras a voz de ameríndios e afro-descendentes, agora perigosamente mais próximos de ti, a tomar lugar nos bancos da universidades. Não enxergas a energia elétrica nos grotões nem o canto de esperança dos humildes da terra, fortalecidos em cooperativas de produção.

Depois, qual demiurgo de botequim, dizes que o nasolongo Alckmin é "incisivo", enquanto o outro te parece "evasivo". Ladino que és, julgas os combatentes pelo aspecto cênico e não pela natureza das idéias. No caso do embusteiro alquimista, excedes ao elogiar o espantalho bélico, aplicadíssimo ao método de stanislavskiano. Ora, magnífico truão, todos vimos que o herói de todos os sertões é adepto de outra técnica. Pisa o palco de Brecht, revelando-se como realmente é, antes que se mistifique no papel de fundeiro de microfone.

Cantaste, portanto, a vitória do "limpinho", do "sem barba", do malcriado que imita Tyson. Como líder de torcida, vibraste na platéia, tuas pernas flácidas saltitando de contentamento, as mãos agitando invisíveis fitas coloridas. Ah, mas perdeste a razão...

Depois, destilaste teu parvo sarcasmo sobre o "povo", sobre a "mãe analfabeta" do operário e sobre os "pobres", em suma, sobre esses todos do "lado de cá". Na piada rancorosa, revelaste um desprezo moldado para a autoproteção.

Sabes o quanto é doloroso viver deste lado da linha, no território dos anônimos, dos que sofrem e trabalham de verdade.

Se há dialética nesta missiva, agrego teus motivos. Sabes o valor de uma adoção real, ainda que precises caminhar de quatro, atado à coleirinha de el rei. Sabes o quanto é estratégica essa assepsia, esse descontato com o ímpio das ruas, dos campos e das construções.

Assim, me permito uma visita a teu passado. Tua obra "séria" resultou, caro truão, em enorme fracasso. E, disso, bem sabes. Por um tempo, tuas ventosas de sanguessuga agarraram algumas tetas públicas. Desse modo, pudeste alimentar teus espetáculos de terceira categoria, ainda que fizessem rir quando a intenção era pretensiosamente induzir à reflexão.

Incerto dia, pobre de ti, todo o oportunismo de parasita foi castigado, de modo que te encontraste novamente vadio, mergulhado na mais profunda frustração. Naquele momento, julgo, buscaste inspiração em Triboulet...

Na Vênus Platinada do decrépito Marinho, iniciaste tua pândega panfletária, calcada na manipulação marota de cacos de idéias. Nada por inteiro. Coerente para quem, por natureza, carece de integridade.

Esse flashback permite, portanto, compreender melhor o roteiro cínico. Tanto faz se teu senhor largou o reino às escuras, se destacou piratas para pilhar o patrimônio público, se foi incompetente até mesmo para empreender no capitalismo que tanto celebras. Às tuas costas, no tempo, estende-se a terra arrasada pela peste do egoísmo, habitada de fariseus neoliberais e de peruas ridículas e mesquinhas. Por meio da ruidosa retórica de falso indignado, desvias o olhar público dessa paisagem da tragédia.

Para seguir o ato farsesco, fazes descer o pano da falácia sinistra do golpismo lacerdista, da distorção, da maledicência e da espetacularização do rito inquisitório. Simulas ver aqui, em alto grau, o que ignoras ali. Na telinha da "Grobo", distribui sofismas, injetas no sangue de Otello a desconfiança, patrocinas a intriga nacional.

Poder-se-ia encontrar em ti o personagem Sacripante. Uma observação acurada, entretanto, revela mais um Silvério dos Reis das artes cênicas. Certa vez, me disse Henfil: "o pior humorista é o que vende sua comédia aos canalhas que fazem o povo chorar". Simples, didático, serve à elaboração de um código de ética de tua categoria.

Pois tua notícia deturpada do embate, devotado truão, mostrou-se cômico engodo. Foi lá teu embusteiro "truco-lento" dar com as fuças na parede. Saiu do campo laureado e enganado, pior que Pirro. Este, menos imbecil, admitiu que a vitória contra os romanos fora uma tragédia, o prólogo de sua ruína.

Portanto, o exemplo da derrota também te serve. Decisivamente, ainda que te gabes, jamais superaste Paulo Francis, o bobo da corte mais destro nessas artes de sabujo-rabujo. E se cultivas alguma pretensão de hegemonia, te sugiro mover o pescocinho atrofiado. Pilantrinhas peraltas, como Mainardi e Azevedo, emparelham já contigo, disputam hidrofobicamente a suprema magistratura da bufonaria.

E, percebe truão, que a dupla tonto-fascista não te fica a dever: são também inescrupulosos, traiçoeiros e carregam a poderosa energia do ressentimento, sem contar que igualmente migraram do fracasso profissional para a aventura mercenária midiática.

Por fim, adorável truão, ajusta o relógio da tua soberba. Não é hora de celebrar a ignomínia convertida em comédia. Nem é momento de levantar a horda de rufiões da "ética" para cantar a vitória restauracionista. Para além dos simulacros do teu moralismo cínico, lambuzado de paroxismos impróprios, exercita-se o sabre do julgamento público, implacável, aquele cuja lâmina é afiada pelo tempo. Subiram os letreiros... Perdeste o charme. Perdeste a graça.

quinta-feira, outubro 19, 2006

A direita saberá perder com compostura?

Pesquisa do instituto Vox Populi, divulgada nesta quinta-feira 19, mostrou Lula com 22 pontos de vantagem sobre Alckmin entre os votos válidos.

Para Carlos Montenegro, do Ibope, que divulga pesquisa nesta sexta-feira, só um fato "muito espetacular" poderá arrancar a faixa de presidente da República do peito de Lula.

Como gato escaldado tem medo de água fria, muita gente imagina que nos próximos dias a oposição de direita vai tentar criar algum "fato" e vai divulgá-lo de maneira "muito espetacular".

Aliás, nesta semana uma nova onda de boatos tomou conta da Internet, dando conta que o tal "fato espetacular" seria divulgado por uma conhecida revista semanal.

Segundo esta boataria, os "fatos" que seriam divulgados por tal revista tornariam "desnecessárias as eleições no segundo turno".

Esta afirmação revela a concepção de democracia que vigora em setores da direita brasileira.

Alguém que acredita que o noticiário de uma revista é algo capaz de "tornar desnecessárias as eleições no segundo turno", é quem pensa que a escolha do presidente da República pode ser feita num conluio entre alguns barões da mídia e políticos de direita.

Para esta gente, o voto do povo seria algo "desnecessário".

Infelizmente, declarações dadas pelo candidato da oposição vão na mesma linha.

Segundo Alckmin, em frase amplamente divulgada pela imprensa, se Lula for reeleito, seu governo "acaba antes de começar".

Há várias interpretações possíveis para esta frase. Em qualquer uma delas, fica a impressão de que uma parte da oposição de direita está perdendo a compostura.


Algumas recomendações

Primeiro, vamos nos vacinar contra a euforia das pesquisas. Eleição não se ganha de véspera.

Segundo, vamos nos vacinar contra as mentiras dos meios de comunicação. Vem mentira grossa por aí.

Terceiro, vamos nos vacinar contra a raiva da direita brasileira. Parcelas da oposição estão revelando um comportamento histérico e violento.

E, ao contrário do ditado, quem ladra as vezes também morde.

Alguns mordem a própria língua.

É o caso de FHC, que revelou: "Não sou contra a privatização da Petrobras". Para depois inventar que faltou uma vírgula na sua frase, que deveria ser assim: "Não, sou contra a privatização da Petrobras".

É o caso de Mendonça de Barros, que foi reclamar das declarações de Alckmin acerca das privatizações e terminou falando num tom de quem já perdeu as eleições.

É o caso de Alckmin, que ora desautoriza seu conselheiro econômico, o senhor Nakano, e ora diz "eu estou plenamente de acordo com o professor Nakano", como fez nesta quinta-feira durante sabatina promovida pela Folha.

Outros mordem de verdade, como se viu no Leblon.


Mobilização e vacinação

Seja como for, a eleição não está ganha e a direita vai jogar ainda mais pesado nos próximos dias. Frente a isso, devidamente vacinados, o essencial é a mobilização total, todos os dias e todas as horas, daqui até o fechamento da última urna. E depois, até a apuração. E depois, até a posse. E assim por diante.

A força do povo, vacinado e mobilizado, os males do Brasil derrotarão.

Manifesto dos Juristas a favor de Lula Presidente

Dois diferentes projetos para o Brasil disputam o 2º turno das eleições presidenciais de 2006.

A aliança conservadora PSDB-PFL desconhece o papel fundamental do Estado na promoção do desenvolvimento econômico e na mediação dos conflitos distributivos. Seu projeto já foi aplicado durante oito anos - a década desperdiçada - sem crescimento econômico, nem redução da desigualdade social. O apagão simboliza seu fracasso. O desmonte da administração pública, a terceirização dos programas de inclusão e a criminalização dos movimentos sociais exemplificam a lógica neoliberal de privatização do público e de insensibilidade aos graves problemas sociais do país.

O governo do Presidente Lula recuperou a capacidade de gestão do Estado, reorganizou com êxito as políticas públicas e gerou cerca de 5 milhões de novos empregos. A desigualdade social foi reduzida, e as classes menos favorecidas foram contempladas por políticas de inclusão com potencial emancipatório. Pela primeira vez em uma década, o governo definiu uma política industrial. O país tem batido recordes sucessivos de exportações. As empresas estatais recuperaram a sua capacidade de planejamento e investimento. O Brasil, com a Petrobrás, atingiu a auto-suficiência na produção de petróleo. A América Latina adquiriu centralidade na política brasileira de inserção internacional. Estão criadas as condições reais para que o país retome o crescimento econômico e resgate sua dívida social.

A aliança conservadora adotou um discurso "lacerdista", desviando a atenção pública da comparação entre os governos FHC e Lula, entre os distintos projetos em disputa para o país. Não se pode esquecer que os atuais paladinos da ética outrora impediram a apuração de vários crimes contra a República. O governo das privatizações e do escândalo da compra de votos para a reeleição jamais foi investigado. O candidato Geraldo Alckmin e a aliança PSDB-PFL obstruíram mais de 60 pedidos de CPIs na Assembléia Legislativa de São Paulo. No governo Lula, com a criação da Controladoria-Geral e a reorganização da Polícia Federal, as denúncias têm sido apuradas. O Ministério Público exerce suas atribuições sem embaraço. É necessário, ainda, enfrentar os problemas institucionais que facilitam, de longa data, as práticas de corrupção no país.

A coligação PSDB-PFL representa o abandono do programa constitucional que propõe a construção de um país soberano e de uma sociedade livre, justa e solidária.

Em favor do desenvolvimento econômico e do resgate da dívida social, DECLARAMOS O VOTO EM LULA PARA PRESIDENTE DO BRASIL!

Adriano Pilatti (PUC/RJ); Alaôr Caffé Alves (USP/SP); Alexandre da Maia (UFPE/PE); Alexandre Gustavo Melo Franco Bahia (Estácio de Sá e UFMG/MG); Alysson Ribeiro Mascaro (Mackenzie/SP); Antonio Cavalcanti Maia (UERJ e PUC/RJ); Antonio Maués (UFPA/PA); Artur Stamford (UFPE/PE); Bruno Galindo (UFPE/PE); Celso Antônio Bandeira de Mello (PUC/SP); Cláudio Pereira de Souza Neto (UFF/RJ); Cynara Monteiro Mariano (Faculdades 7 de Setembro/CE); David Ribeiro Dantas (ASCES e FIR/PE); Deisy Ventura (UFSM/RS); Dóia Cavalcanti (UFC/CE); Edigia Maria Aiexe (MDC/MG); Eduardo Bittar (USP/SP); Eduardo Rabenhorst (UFPB/PB); Eneas de Oliveira Matos (FIC/SP); Evandro Menezes de Carvalho (FADISMA/RS); Everaldo Gaspar Lopes de Andrade (UFPE/PE); Francisco de Guimaraens (PUC/RJ); Gilberto Bercovici (USP e Mackenzie/SP); Gisele Cittadino (PUC/RJ); Gustavo Ferreira Santos (UFPE e UNICAP/PE); Gustavo Just (UFPE/PE); Isaac Reis (UNDB/MA); Jayme Benvenuto Lima Jr (UNICAP/PE); João Paulo Allain Teixeira (UFPE e UNICAP/PE); Joaquim Leonel de Rezende Alvim (UFF/RJ); José Alfredo de Oliveira Baracho Júnior (PUC e UFMG/MG); José Francisco Siqueira Neto (Mackenzie/SP); José Geraldo de Sousa Júnior (UnB/DF); José Luis Bolzan de Morais (Unisinos/RS); José Luiz Quadros de Magalhães (PUC e UFMG/MG); Joyceane Bezerra de Menezes (Unifor/CE); Juliana Neuenschwander Magalhães (UFRJ/RJ); Katya Kozicki (UFPR/PUC/PR); Larissa Leal (UFPE/PE); Lilia Maia de Morais Sales (Unifor/CE); Luís Alberto Warat (UnB/DF); Lúcio Antônio Chamon Junior (FADISETE/MG); Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira (PUC e UFMG/MG); Marcelo Campos Galuppo (PUC/MG); Marcelo Labanca (UNICAP/PE); Márcia Chagas (Unifor/CE); Márcio Augusto de Vasconcelos Diniz (UFC/CE); Márcio Túlio Viana (PUC e UFMG/MG); Marcos A. Bahiano de Oliveira Filho (UFRJ/RJ); Martonio Mont'Alverne Barreto Lima (Unifor/CE); Mauro Abdon (UCAM/RJ); Menelick de Carvalho Netto (UnB/DF); Newton de Menezes Albuquerque (Unifor/UFC/CE); Normando Rodrigues (UFRJ/RJ); Orides Mezzaroba (UFSC/SC); Otávio Pinto e Silva (USP/SP); Paulo Antônio de Menezes Albuquerque (Unifor/UFC/CE); Paulo Ricardo Schier (Unibrasil/PR); Pedro Villas Boas Castelo Branco (PUC/RJ); Renan Aguiar (PUC/FESO/RJ); Ricardo Marcelo Fonseca (UFPR/PR); Ricardo Seitenfus (UFSM/RS); Rômulo Guilherme Leitão (Unifor/CE); Samuel Rodrigues Barbosa (UFF/RJ); Tatiana Ribeiro de Souza (FADISETE/MG); Thiago Bottino do Amaral (FGV/IBMEC/RJ); Vera Karam Chueiri (UFPR/PR); Virgínia de Carvalho Leal (ASCES/PE); Walber de Moura Agra (UNICAP/PE); Weida Zancaner (PUC/SP); Wilson Madeira Filho (UFF/RJ)

"Agora voto em Lula"

Entrevista com o sociólogo Chico de Oliveira, filiado ao PSOL, para Flavio Aguiar e Gilberto Maringoni, da Agência Carta Maior)

SÃO PAULO – Chico de Oliveira, 72 anos, é um dos mais respeitados sociólogos brasileiros. Pernambucano de Recife, ele é professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP e coordenador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da mesma faculdade. É autor, entre outros, do hoje clássico "Crítica à Razão Dualista/O ornitorrinco" (Boitempo). Co-fundador do PSOL depois de ter deixado o PT no ano passado, Chico fala nesta entrevista dos impasses do governo Lula, das diferenças de projetos entre as candidaturas do PSDB e do PT e explica porque, depois de votar na senadora Heloísa Helena, agora vai de Lula. A seguir, os principais trechos de sua entrevista.


Carta Maior – O que está em jogo nestas eleições?
Chico Oliveira – Há duas coisas em disputa. Há uma corrida feroz em direção aos fundos que o Estado ainda controla, como os recursos do BNDES e do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). O BNDES é o maior banco de investimentos do mundo e deixa bem para trás o Banco Mundial. O Estado orienta os fundos de pensão. E há disputa pelos benefícios gerados a partir da dívida pública, que beneficiam cerca de 20 mil famílias, segundo pesquisa do professor Márcio Pochmann, da Unicamp. Essas 20 mil famílias lucram com a dívida pública, mas não a gerem. Que gere é o Estado. A diferença maior entre as orientações de Lula e de Alckmin, em termos amplos, é que o segundo promoveria uma privatização acelerada do que resta de ativos em mãos do estado. Lembremo-nos que, segundo os levantamentos de Aloysio Biondi, em dez anos, entre os governos Collor e FHC, privatizou-se cerca de 15% do PIB.

CM – Mas não há uma continuidade do projeto do governo FHC na gestão Lula? Qual a disputa real?
CO – A continuidade faz parte da disputa pela hegemonia na sociedade. Se nos lembrarmos da lição gramsciana, hegemonia é 80% consenso e 20% violência. Há um projeto em andamento na sociedade, que atrai os setores do topo e os setores miseráveis e o povão. Se Lula tem esse projeto político na cabeça, trata-se de um gênio político. Eu acho que ele não tem, pois age muito mais por intuição do que por planos pré-definidos. Ele atua levando as práticas do movimento sindical para uma esfera maior. Como se trata de disputa de hegemonia e não de uma revolução, é natural que ele não queira acirrar os ânimos em muitas situações de conflito. Ambos - PT e PSDB - têm projetos capitalistas, mas diferentes em sua forma.

CM – A elite não tem como suportar a chegada do povo sequer aos jardins da casa grande, não?
CO – Não, porque construímos um país de desigualdade abissal. Com uma situação dessas, só é possível exercer a dominação de classe sem mediações. Por isso nós tivemos, na média, durante o período republicano, um golpe ou tentativa de golpe a cada três anos. As próprias classes burguesas estão a uma distância muito grande do povo. Nessa situação, o sistema político e os partidos perdem totalmente seu sentido. Isso explica muito a aliança de Lula com Jader Barbalho, os elogios feitos a Delfim Neto e outros. É claro que os movimentos circunstanciais explicam esse tipo de aliança. Mas ela está construída num projeto mais amplo. Talvez o projeto não esteja pré-definido e venha sendo construído pelo Lula intuitivamente. Quando ele afirma ficar chateado pelo fato de os ricos não gostarem dele, está expressando esse projeto de hegemonia, de ligar dois extremos sociais. A aproximação com o Jader está dentro disso.

CM - Como o sr. vê a mudança tática que o Lula fez nas duas últimas semanas de campanha? Ele conseguiu sair do terreno que o Alckmin queria colocar o embate – o do moralismo – e passou para o da política, através do debate das privatizações.
CO – Sem dúvida ele é um tático muito bom, não sei se é um estrategista. Não sei se ele tem, alguma coisa mais consistente por trás. Se tiver, repito, trata-se de um gênio político. Mas acho que tudo funciona através da intuição.

CM – Com tudo isso, por que considerar a possibilidade de se votar em Lula no segundo turno?
CO – Acho que a reeleição é uma nova eleição. Os espaços que tínhamos em 2002, de outra forma, voltam a se apresentar, como a questão das privatizações. Esse era um tema proibido durante o governo Lula e ainda mais na era de FHC. Os que dissentiram foram marginalizados. Por que esse tema volta agora a ser central? Por que se abre uma nova disputa. Por isso, eu considero a possibilidade de se votar em Lula. Várias forças que atuaram dentro do PT voltam a ter chance de disputar esse governo. Estou disposto a voltar a correr esse risco, embora o governo não me agrade, seja capitalista e poderia ter avançado muito mais.

CM – Como o sr. vê a campanha pelo voto nulo?
CO - Acho um equívoco e não por questões morais. Há um espaço que pode se alargar. Há diferenças entre o governo Lula e um possível governo Alckmin. Não espero mudanças na política econômica, ela continuará mesma. Mas há uma pequena chance de mudança. Por isso voto em Lula agora. E devemos usar oportunisticamente o fato de Lula precisar de votos agora, para colocar reivindicações que seu governo soterrou. Temos de atacar pelo lado social.

CM - O sr. filiou-se ao PSOL e seu partido tem outra posição...
CO - Há um equívoco no PSOL neste caso. Votei no primeiro turno em Heloísa Helena. Mas logo ela começou a desandar. Ela perdeu o voto de minha mulher quando, numa entrevista para a Globo disse, sobre o tema do PCC, que multiplicaria por dez o número de prisões. Minha mulher virou-se para mim e disse: "Aqui acabou meu apoio".

CM – Que mudanças o sr. Espera de um futuro governo Lula?
CO - Se depender apenas das forças que apóiam Lula e da dinâmica que ele ganhou em quatro anos, não haverá mudança. Dependerá de nós, de um impulso vindo de fora. Há uma crença arraigada no Brasil de que é nos manches do estado que as coisas se solucionam. Em parte é verdade. Mas para se realizarem mudanças reais é necessário ativar a sociedade civil. Temos de incentivar muita coisa para influir. Não gosto muito de usar a expressão "movimentos sociais", porque, fora o MST, não sei onde eles estão. Temos literalmente de encher o saco de um segundo mandato de Lula. Não podemos deixar em paz um próximo governo Lula. Se ele conseguir realizar seu projeto hegemônico com as orientações atuais, o futuro será sombrio. Teríamos de construir uma plataforma mínima, com alguns pontos básicos, como dar ao Bolsa-família o status de emenda constitucional e entrega-la à Previdência social, um dos órgãos públicos mais sérios deste país. Nas privatizações, há que se auditar e reestatizar algumas atividades. Mas eu não quero colocar condicionalidades para a votar em Lula, porque ele não vai ligar para isso. Precisamos é de uma pauta para orientar nossa ação.